terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A resignação do Papa






          D. Antônio Marto, Bispo de Leiria-Fátima, dirigindo-se à Imprensa em 11/02/2013, se referiu ao que acontecia com o Papa Bento XVI como resignação.

Segundo o dicionário Caldas Aulete, resignação pode ser definida como “demissão voluntária do cargo exercido ou da graça recebida; renúncia”. Também como: “submissão aliada à constância e paciência face aos infortúnios; paciência no sofrimento, coragem para suportar os rigores dos infortúnios, constância em uma situação sem que se reaja contra ela, ou sem que o paciente se lamente dela; paciência.”

Recebendo o nome que for, a atitude do Papa atingiu a todos. Para o ditado popular “cada cabeça uma sentença”, ou seja, cada pessoa tem um parecer pessoal a respeito do que vive hoje a Igreja Católica, Apostólica, Romana.
É necessário considerar que a Igreja é uma instituição religiosa, que trata de assuntos espirituais. Os que militam sob sua direção vivem em um universo infinitamente amplo, consideram o plano espiritual, feito de realidades intangíveis cuja existência é negada por grande número dos que trabalham nos meios de comunicação. Acontece um forte ruído quando esses profissionais fazem especulações a acerca dos acontecimentos do catolicismo a partir de limitadas visões de meros curiosos do assunto.

Por mais perspicazes que sejam, os que não conhecem o universo católico, especialmente os ateus, só podem observar os aspectos meramente humanos, previsíveis às pessoas não espirituais. Jamais conseguiriam atingir o cerne de questões que envolvem personagens cuja existência é negada pela mentalidade que domina a mídia, mas que, no entanto, não só os cristãos, mas os que professam qualquer crença religiosa sabem que são as realmente conduzem todos os acontecimentos.

Por esse motivo, a cultura católica, viva e atuante há mais de dois milênios, precisa ser vista pelo homem moderno, o que se apoia apenas no futuro, com os olhos também modernos, do sociólogo francês Michel Maffesoli, que afirmou, em 2001, à revista FAMECOS: “Na aura de obra - estátua, pintura -, há a materialidade da obra (a cultura) e, em algumas obras, algo que as envolve, a aura. Não vemos a aura, mas podemos senti-la. O imaginário, para mim, é essa aura, é da ordem da aura: uma atmosfera. Algo que envolve e ultrapassa a obra. Esta é a ideia fundamental de Durand (Gilbert): nada se pode compreender da cultura caso não se aceite que existe uma espécie de "algo mais", uma ultrapassagem, uma superação da cultura. Esse algo mais é o que se tenta captar por meio da noção de imaginário.”

Pode-se, observando essas circunstâncias, notar que a atitude do Papa, inúmeras vezes visto como um conservador ferrenho, voltado ao passado, avesso ao progresso, surpreende a todos ao abrir mão da pompa e circunstância que acompanha o seu cargo e dá uma demonstração da visão de grandíssima amplitude, própria das pessoas espirituais.



 Como quem prefere os dedos aos anéis, ele abre mão do poder em defesa dos tesouros invisíveis, dos quais sabe depender todos os visíveis. Com certeza, ele viu nesta atitude, um bem maior para a Igreja. Ele não tem a menor dúvida de que o Verdadeiro Chefe da Igreja é Jesus Cristo, eternamente vivo e forte, a quem continua a servir com o mesmo desvelo. Aqui cabe bem o segundo sentido de resignação dado pelo Caldas Aulete, o resignar-se do Papa em proveito do Reino de Amor de Jesus Cristo nos corações humanos. Coerência.

                                                                      Giselle Aguiar,
                                                                      12/03/2013


                   

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