quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Viva Cristo Rei!!! - Primeira sexta-feira , Janeiro de 2021





Viva Cristo Rei!!!


Parte da meditação para o mês de janeiro, extraída do livro: Hora Santa, do padre Mateu Crawley-Boevey SS.CC. editado e distribuído gratuitamente pela Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus, mais conhecida com Lola.


Graças, Senhor Jesus, pela ternura misericordiosa com que prevenistes nossos males e nos oferecestes o prodigioso remédio do Vosso Coração…

Graças ó Deus, pelo inconcebível cuidados que tomais pelos nossos interesses , quando nós merecemos a vossa indiferença, em castigo mesmo do nosso descuido e de tantas ofensas nossa… 

Graças, ó doce e bom Jesus do Tabernáculo!


Para vos testemunharmos o nosso reconhecimento, em compensação das nossas e das alheia ingratidões, nós queremos, durante esta Hora Santa, nós, os privilegiados do pequeno rebanho, queremos ocupar-nos com desvelado amor, os vossos mais queridos interesses… São tantos os conjurados que tramaram a conspiração deicida da blasfêmia, da negação pública e social da vossa Realeza!…


Numerosos são os culpados, ó Jesus, que vos condenam calando, já com o silêncio hipócrita que desdenha pronunciar o vosso nome, já com o silêncio mais insultuoso e pungente, que finge nem sequer conhecer-Vos…


Flagelam-Vos, despem-Vos, ferem-Vos no rosto… Têm a audácia de invocar motivos de Justiça e paz social, ó Mestre amado, para exigir o vosso  exílio e decretar a vossa morte. Não, ó  Soberano do Amor, mil vezes não! Aqui reunidos, como em um Cenáculo, vivificados pelo fogo do novo Pentecostes - o da Eucaristia - nós protestamos contra esse deicídio legal da nossa época, e, inflamados no zelo da vossa glória, Vos aclamamos Vencedor e Rei! Queremos o triunfo do vosso amor, prometido aos exércitos  que combatem, clamando:


“Viva o Sagrado Coração”… Não queremos reinar sobre nós senão Vós, e Vós só!…


Aproximai-Vos, Mestre divino, apertai mais os laços que nos unem convosco… recebei de nossas mãos o diadema que pretendem arrancar-Vos os soberbos que desconhecem os vossos direitos…  Vil poeira, proclamam-se poderosos e imaginam-se superiores a Vós, porque Vos injuriam no vosso aniquilamento e humildade.


Avançai triunfante , em meio desta assembléia  fremente de irmãos… não escondais as chagas das mãos e pés… Não faças brilhar o vosso rosto, mostrai antes vossa cabeça ensanguentada. Sobretudo, ó Jesus, não fecheis, antes, deixai bem aberta , à nossa vista, a profunda e celestial chaga do vosso peito…


Ó Rei de amor, mostrai-Vos coberto com a púrpura  do vosso sangue e com o manto de ignomínia de todos os pecados dos homens, sem vos transfigurardes , mas tal como vos viu, ó Jesus, a noite de Quinta-Feira Santa, noite de amor e de opróbrio… Aceitai, Majestade adorada, o hosana desta Guarda de Honra , que vela pela Glória do seu Rei divino — Cristo- Jesus!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Os reis e governantes poderão espezinhar as tábuas da vossa lei. Mas da altura de seus tronos, tombarão no esquecimento; e nós, os vossos súditos, continuaremos a proclamar-Vos nosso Rei!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Os legisladores dirão que o vosso Evangelho é antiquado, e deve desparecer para dar lugar ao progresso… Mas eles tombarão no esquecimento, e nós, vossos adoradores, continuaremos a proclamar-Vos nosso Rei!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Os maus ricos, os orgulhosos, os mundanos, os frívolos, julgarão ser de outros tempos a vossa moral, cujas intransigências, dizem, matam a liberdade de consciência… Mas eles tombarão no esquecimento e nós, votos filhos, continuaremos a proclamar-Vos nosso Rei!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Os ambiciosos que para chegar aos altos cargos e juntar dinheiro, prometem às nações uma liberdade falsa e uma grandeza fementida [enganosa], se magoarão na pedra do Calvário e na vossa Igreja! Tombarão no esquecimento, e nós , vossos apóstolos, continuaremos proclamar-Voa nosso Rei!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Os arautos da civilização materialista, sem Deus, e adversária do Evangelho, morrerão envenenados com as suas maléficas doutrinas… Cairão no esquecimento, amaldiçoados por seus próprios filhos, e nós, vossos consoladores, continuaremos a proclamar-Vos nosso Rei!


—Viva o vosso Sagrado Coração!


Oh! Sim, vinde , Coração santo de Jesus, triunfai sempre! E enquanto Lúcifer, anjo das trevas, finalmente expulso dos nossos lares, das escolas, da sociedade, jazer eternamente encadeado nos abismos do inferno, nós vossos amigos continuaremos a repetir por todos os séculos dos séculos:

—Viva o vosso Sagrado Coração! 


Vivei no triunfo da Eucaristia e da vossa Igreja!


— Viva para sempre o vosso Sagrado Coração!



[…] Nesta noite mais bela que a aurora, permiti-nos uma súplica, ó Salvador, Irmão, Senhor,  Amigo nosso; permiti-nos ó Deus aniquilado, lembra-Vos tantos infelizes que não estão aqui, e vivem longe de Vós, em culpável abandono.


Sois tão bom, Jesus Eucaristia,: enviai um raio de luz vitoriosa a tantos cegos que não querem ver as maravilhas do vosso amor, nem reconhecer que sois a vida única e verdadeira… Fazei-o pelo amor de vossa Mãe, e pelo vosso Sagrado Coração!…


Sois tão terno, Jesus Eucaristia, dai paz a tantos extraviados que buscam nas alegrias do mundo sedutor, que não lhes rende não lágrimas e morte. Sede a sua esperança, fazei-o pelo amor de vossa Santa Mãe e pelo vosso Sagrado Coração!…


Sois tão compassivo, Jesus Eucaristia, saciai a fome amor, de amor imenso, que tem perdido tantos pródigos. Eles sofrem e languescem , longe dos vossos altares, fonte única de felicidade! Apertai-os ao vosso peito, para reconhecerem que só Vós, ó Jesus, sois Vida e  Amor…. Fazei-o pela vossa Santa Mãe  pelo vosso Coração!…


Sois tão amorável, ó Jesus Eucaristia: enxugai as lágrimas de desespero daqueles que, suportando as cruéis desilusões da vida, sem o socorro da vossa graça, envenenam a sua existência! Afastados das lágrimas do paraíso terrestre , mais longe ainda do paraíso eterno, estão mergulhados, pobres desgraçados, num abismo de dor!… Descei até esses infelizes , Jesus Eucaristia, procurai-os, ide-lhes ao encontro cm as palavras de amor que fazem estremecer a terra, o mar os céus; palavras  de inefável júbilo, nas regiões da eternidade… Fazei-0 ó Jesus, pelo amor de vossa Mãe e pelo vosso Sagrado Coração! ( lembrai-vos daqueles cuja conversão vos interessa )

  

E, agora, ocultai-nos no vosso Sagrado Coração ( como uma lágrima de vossa preciosa Mãe…)


Não permitais que as criaturas triunfem da nossa debilidade e nos tirem deste paraíso… Chamai-nos, mandai-nos ir ter convosco… E agora que conhecemos as belezas e riquezas do vosso Coração de Irmão, Amigo, Rei, nosso Deus e Bom Jesus queremos orar nele para sempre!  Escrevei, sem demora, os nossos nomes no vosso Coração adorável. Fazei-o, ó bom Mestre, enquanto estamos de pé, no vosso Tabernáculo Santo.


Senhor, fazei uma doce violência aos vossos filhos, conservai-os em escravidão na cadeia do vosso divino Peito… Lá viveremos da adoração do amor; lá cantaremos as vossas misericórdias inefáveis todos os séculos dos séculos. 


Venha a nós o vosso Reino!  


[…] Acolhei, Senhor Jesus, doce e bom, as nossa últimas preces:


Coração agonizante de Jesus, triunfai!… Sede a perseverança da fé e da inocência das crianças que comungam!… Sede o consolo dos pais dos lares cristãos. Sede a sua vida!…


Coração agonizante de Jesus, triunfai!… Sede o amor das multidões que sofrem… dos pobres que trabalham… Sede o seu Rei!


Coração agonizante de Jesus, triunfai!… Sede a força dos tentados e dos fracos… Sede a sua vitória!


Coração agonizante de Jesus, triunfai!… Sede o fervor e a constância dos tíbios… Sede o seu amor!


Coração agonizante de Jesus triunfai!… Sede o centro da vida, militante da Igreja… Sede o seu lábio vitorioso!


Coração agonizante de Jesus triunfai!… Sede o zelo ardente e conquistador de todos os apóstolos… Sede o seu Mestre!


Coração agonizante de Jesus, triunfai!… Sede na Eucaristia a santidade e o céu das almas… Sede o seu Tudo!


E enquanto não chega o dia eterno e venturoso, em que cantaremos vossas glórias, deixai-nos, ó dulcíssimo Mestre, sofrer, amar e morrer sobre a celestial ferida do vosso Peito com este brado de vitória:


Venha a nós o vosso Reino!


Coração Divino de Jesus, 

— Venha a nós o vosso Reino!



 


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Hora Santa da primeira sexta-feira de dezembro


 






Meus filhos, inimigos sem número vos cercam. A tempestade daquele abismo onde meu Nome é amaldiçoado, e onde ficam também por eterna sentença  aqueles que recusam na luta os auxílios da minha graça, ruge violentamente  e cresce o tufão da cólera infernal que vem dar morte às almas. Mas não temais : Eu venci o mundoA paz esteja convosco… trago-vos um sinal certo de bonança, um estandarte de vitória… É o meu Coração!… Ajoelhai, e com imenso amor  recebei-o com santa alegria, e adorai-o … porque é o Coração do vosso Deus, do Salvador que vos amou até a loucura da Cruz e da divina Eucaristia… As suas palavras são palpitações da sua misericórdia e perdão… são os gemidos com que vos suplica, O ameis, sobretudo, mais do que a terra e o céu.


Pelos espinhos que me dilaceraram a fronte, pela cruz que consumou o meu martírio, e, mais ainda, pela sangrenta  chaga do meu Lado, vos conjuro procureis dar ao meu Coração transpassado imensa glória, e fazê-lo conhecido e amado de tantos infelizes que carecem desta fonte milagrosa de ressurreição e vida.


Vinde pois, ó exilados do paraíso terreal, e não receeis… entrai na chaga do meu Coração, e ali encontrareis aquilo que vossa alma deseja.


Vinde pois, ó desiludidos das miragens enganadoras do deserto, não temais… entrai na chaga do meu Coração, e ali encontrareis as realidades do amor divino que sacia toda sede.


Vinde pois peregrinos de um caminho bordado de abismos, erros e sofrimentos, e não temais… entrai na chaga do meus Coração e ali encontrareis as esperanças e consolações, que vos reserva um Deus todo-amor…


Vinde, pois, infelizes da vida , tantos que sois, desenganados dos bens da fortuna e da estima dos homens; não temais… entrai na chaga do meu Coração, e ali encontrareis,  em  meio das provações da vida , luz o repouso e uma ventura, que desconheceis.


Vinde, pois, e depressa, vós que estais na aurora da vida, ou no seu ocaso, cuja alma se envenenou nos falsos prazeres  da terra, não tardeis… entrai, ainda mesmo à ultima hora; entrai na chaga do meu Coração, e ali encontrareis um paraíso de eterna paz e felicidade infinita.


Sim, vinde, pois, todos. Longuinhos (o soldado que feriu o lado de Jesus, na Cruz, com a lança) abriu a porta do meu Coração… Eu alarguei ainda mais esta chaga redentora. Chamo justos e pecadores, ingratos, aflitos, ofereço a todos nesta ferida divina, um asilo seguro de ventura inefável. Aquele que se consagra ao amor do meu Coração terá a vida em si.


 Trecho da meditação da Hora Santa do mês dezembro, extraído da obra do Padre Mateo Crawley-Boevey SS.CC. e distribuído gratuitamente pelo Serva de Deus Floripes  Dornelas de Jesus, mais conhecida como Lola. -


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Oração de Santo Agostinho, em Solilóquios


 Deus, criador de todas as coisas, concedei-me primeiramente que eu faça uma boa oração; em seguida, que me torne digno de ser ouvido por ti; por fim, que me atenda 


Deus, por quem tende a ser tudo aquilo que por si só não existiria. 

Deus, que não permites que pereça nem mesmo aquilo que se destrói. 

Deus, que do nada criaste este mundo, o qual acham belíssimo os olhos de todos os que o contemplam.

Deus, que não fazes o mal e fazes que este não seja pior. 

Deus, que mostras aos poucos, que se aproximam do que é verdadeiro, que o mal é nada. 

Deus, por quem todas as coisas são perfeitas, ainda com a parte que lhes toca de imperfeição. 

Deus, por quem se atenua ao máximo qualquer dissonância quando as coisas piores se harmonizam com as melhores. Deus, a quem amam, consciente ou inconscientemente, todos os que possam amar. 

Deus, em quem todas as coisas subsistem e para quem, contudo, não é torpe a torpeza de qualquer criatura, a quem não prejudica a sua malícia nem o afasta o seu erro. Deus, que não quiseste que conhecessem a verdade senão os puros.1 


Deus, Pai da verdade, 

Pai da sabedoria, pai da verdadeira e suprema vida, 

Pai da felicidade, Pai do que é bom e belo, 

Pai da luz inteligível, pai do nosso desvelo e iluminação, 

Pai da garantia pela qual somos aconselhados a retornar a ti.


 Eu te invoco, Deus Verdade, em quem, por quem e mediante quem é verdadeiro tudo o que é verdadeiro. 

Deus Sabedoria, em quem, por quem e mediante quem têm sabedoria todos os que sabem. 

Deus, verdadeira e suprema Vida, em quem, por quem e mediante quem tem vida tudo o que goza de vida verdadeira e plena. 

Deus Felicidade, em quem, por quem e mediante quem são felizes todos os seres que gozam de felicidade. 

Deus Bondade e Beleza, em quem, por quem e mediante quem é bom e belo tudo o que tem bondade e beleza. Deus Luz inteligível, em quem, por quem e mediante quem tem brilho inteligível tudo o que brilha com inteligência. Deus, cujo reino é o mundo inteiro, a quem o sentido não percebe. 

Deus, de cujo reino procede também a lei para os reinos da terra. 

Deus, de quem separar-se significa cair, a quem retornar significa levantar-se, em quem permanecer significa ser firme. Deus, de quem afastar-se é morrer, ao qual voltar é reviver, em quem habitar é viver. 

Deus, a quem ninguém deixa senão enganado, a quem ninguém busca senão estimulado para isso, a quem ninguém encontra senão purificado. 

Deus, a quem abandonar é o mesmo que perecer, a quem acatar é o mesmo que amar, a quem ver é o mesmo que possuir. Deus, a quem a fé nos estimula, a esperança nos eleva, o amor nos une. 


Eu te invoco, Deus, por quem vencemos o inimigo. 

Deus, de quem recebemos o fato de não perecermos totalmente. 

Deus, por quem somos admoestados a estar atentos. 

Deus, por quem discernimos as coisas boas das más. 

Deus, por quem evitamos as coisas más e seguimos as boas. 

Deus, por quem não caímos diante das adversidades. 

Deus, por quem prestamos bom serviço e nos portamos bem. 

Deus, por quem aprendemos que é de outros o que às vezes julgávamos ser nosso e que nos pertence o que às vezes julgávamos ser de outros. 

Deus, por quem não aquiescemos às artimanhas e seduções dos maus. 

Deus, por quem as pequeninas coisas não nos diminuem. 

Deus, por quem o que há de melhor em nós não está sujeito ao que há de pior. 

Deus, por quem a morte é absorvida na vitória. Deus, que nos convertes. Deus, que nos despes daquilo que não é e nos revestes daquilo que é.

Deus, que nos fazes dignos de ser ouvidos. 

Deus, que nos fortificas. 

Deus, que nos atrais para toda verdade. 

Deus, que nos falas tudo o que é bom, não nos fazes de tolos nem permites que quem quer que seja nos faça de tolos. 

Deus, que nos chamas  para o caminho.

Deus, que nos levas à porta. 

Deus, que fazes com que a porta seja aberta aos que batem. 

Deus, que nos dás o pão da vida. 

Deus, por quem temos sede de uma bebida que, uma vez tomada, faz que nunca mais tenhamos sede. 

Deus, que acusas o mundo do pecado, justiça e juízo. 

Deus, por quem não nos induzem aqueles que não crêem. 

Deus, por quem censuramos o erro dos que julgam que não há méritos das almas junto a ti. 

Deus, por quem não servimos aos elementos covardes e miseráveis. 

Deus, que nos purificas e nos preparas para os prémios divinos, achega-te a mim com benevolência. 


 Tudo o que eu disse és tu, Deus único. Vem em meu auxílio, substância una, eterna e verdadeira, em quem não há discrepância, confusão, mudança, indigência nem morte. 

Onde há plena concórdia, total evidência, total constância, suma plenitude e vida plena. 

Em quem nada falta, nada sobra. 

Em quem aquele que gera e o que é por ele gerado são um só. 


Deus, a quem servem todas as criaturas capazes de servir, a quem obedece toda alma boa. Por cujas leis giram os corpos celestes, os astros cumprem seus cursos, o sol traz o dia, a lua suaviza a noite e todo o mundo, à medida que o suporta a matéria sensível, mantém uma grande constância em relação às ordens estabelecidas e reiterações, isto é, no decurso dos dias: pela alternância da luz e da noite; no decorrer dos meses: pelas fases lunares; no decurso dos anos: pelas sucessões da primavera, verão, outono e inverno; no decorrer de intervalos de cinco anos: pela conclusão do curso solar; no decurso de grandes períodos: pelo retorno dos astros aos seus cursos. Deus, por cujas leis subsistentes na eternidade não se permite que se perturbe o movimento instável das coisas mutáveis, o qual, em virtude dos freios dos mundos circunvolventes, sempre se reitera à guisa de estabilidade; por cujas leis o homem tem livre arbítrio, sendo consequentemente distribuídos prémios aos bons e castigos aos maus, em tudo de acordo com exigências estabelecidas. 


Deus, de quem procedem até nós todos os bens, por cuja força coercitiva são afastados de nós todos os males. Deus, acima de quem nada existe, além de quem nada existe, sem o qual nada existe. 

Deus, abaixo de quem está tudo, em quem está tudo, com quem está tudo. Que fizeste o homem à tua imagem e semelhança, fato este que é reconhecido por aquele que se conhece a si mesmo. 


Ouve-me, ouve-me, meu Deus, meu senhor, meu rei, meu pai, meu criador, minha esperança, minha realidade, minha honra, minha residência, minha pátria, minha salvação, minha luz, minha vida. 

Ouve-me, ouve-me, ouve-me com aquele teu jeito bem conhecido de poucos.  

Amo somente a ti, sigo somente a ti, busco somente a ti, estou disposto a servir somente a ti e desejo estar sob a tua jurisdição, porque somente tu governas com justiça. 

Manda e ordena o que quiseres, mas sana e abre meus ouvidos para ouvir tuas palavras; sana e abre meus olhos para enxergar os teus acenos. 

Afasta de mim a ignorância para que eu te reconheça. 

Dize-me para onde devo voltar-me para ver-te e espero fazer tudo o que mandares. 

Suplico-te: recebe teu fugitivo, Senhor e Pai clementíssimo; já sofri muito; já servi demais aos teus inimigos, os quais sujeitas sob teus pés; por muito tempo fui ludibriado por falácias. 

Recebe-me, que sou teu escravo fugindo deles, que me receberam, estranho a eles, quando eu fugia de ti. 

Sinto em mim que devo voltar a ti. 

Abra-se tua porta para mim, que estou batendo. 

Ensina-me como chegar a ti. 


Nada mais tenho que a vontade. Nada mais sei senão que se deve desprezar as coisas passageiras e transitórias e procurar o que é certo e eterno. 

Faço-o, Pai, porque é a única coisa que sei; porém, ignoro como  chegar a ti. 

Ensina-me, mostra-me, oferece-me as provisões para a viagem. 

Se é com a fé que te encontram os que se refugiam em ti, dá-me fé; se é com a força, dá-me força; se é com a ciência, dá-me ciência. 

Aumenta em mim a fé, aumenta a esperança, aumenta o amor. 

O admirável e singular bondade tua!  

Almejo-te; e novamente te peço aquilo que se necessita para almejar-te. 

Perece aquele a quem abandonares; mas não abandonas, porque és o bem supremo a quem não deixa de encontrar aquele que procura corretamente. 

E procura corretamente todo aquele a quem conduzes para que procure corretamente. 

Faze, Pai, que eu te procure, mas livra-me do erro. 

Nenhuma outra coisa, além de ti, se apresente a mim, que te estou procurando. 

Se nada mais desejo senão a ti, Pai, então eu te encontro logo. 

Mas se houver em mim desejo de algo supérfluo, limpa-me e torna-me apto a ver-te. 


Quanto ao mais, em relação à saúde do meu corpo mortal, confio-o a ti, porquanto não sei que utilidade possa haver nele para mim ou para aqueles a quem amo. 

Pai sapientíssimo e ótimo, em relação a isso rezarei no tempo em que me avisares. 

Apenas rogo à tua excelentíssima clemência que me convertas totalmente a ti e faças com que nada se oponha a mim, que caminho para ti e que, durante o tempo em que carrego e lido com este mesmo corpo, eu seja puro, magnânimo, justo e prudente, perfeito amante da tua sabedoria, aplicando-me à sua percepção, digno da habitação e de ser habitante do teu reino tão feliz. Amém, amém.