Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues
Arcebispo
Metropolitano de Sorocaba,
conforme: Jornal Terceiro Milênio
Em
entrevista na TV, Hitchens, já falecido, proclamou com
intenso
ardor, filtrado pela frieza de uma razão “iluminada”,
sua fé
nos valores do iluminismo filosófico, reforçado por
posturas
“científicas”que desprezam as
questões meta-empíricas.
Ele não
era propriamente um cientista, mas
valeu-se de posições
ateísticas,
como as de Dawkins, por exemplo, - este escreveu
“Deus,
um Delírio” -,para fundamentar seu ateísmo militante.
Dawkins
defende que a fé religiosa nãoé apenas uma ilusão
inofensiva,
mas um delírio nocivo do qual a sociedade precisa
ser
curada.
Hitchens
afirma que a livre expressão e a investigação científica
devem
substituir a religião como um caminho seguro para uma
ética
racional e parapromover a civilização humana. A humanidade
ainda
se vale muito pouco das luzes da razão.
Hitchens
procura desqualificar o trabalho da bem-aventurada
Tereza
de Calcutá como também de outros líderes religiosos,
como
Martin Luther King.
Já Paul
Davies, doutor em física, professor de renome nas
universidades
de Cambridge, de Londres e de Adelaide na
Austrália,
autor de muitos livros sobre física, tem uma posição
diametralmente
oposta. Em seu livro “Deus e a nova física”,
publicado em inglês em 1983, afirma: “A
ciência só é possível
porque
vivemos num universo ordenado, que se conforma com
leis
matemáticas simples.
A
tarefa dos cientistas é estudar, catalogar e relatar a
ordenação
da natureza, não indagar a sua origem.
Mas os
teólogos têm argumentado, desde há muito, que a ordem
do
mundo físico é uma prova da existência de Deus.
Se isso assim for, então a ciência e a
religião adquirem
um
objetivo comum que é revelar a obra de Deus”.
É dele
a afirmação: “pode parecer estranho, porém, em
minha
opinião, a ciência oferece umcaminho mais seguro
para
Deus que areligião”.
E
ainda: “Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé
profunda.
A
situação pode ser expressa por uma imagem:
a
ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega”.
Prezado(a)
leitor(a), há cientistas que afirmam ser a ciência
um
caminho para Deus e há cientistas que consideram a afirmação
da
existência de Deus uma abdicação da razão diante do desafio de
progredir
na explicação do universo e na solução dos problemas
que
afetam a humanidade.
Há
aqueles que, com Hitchens, julgam que a religião não passa
de uma
ideologia que acaba por justificar a injustiça ea violência.
Surge então
a pergunta: afinal crer ou negar Deus é uma conclusão
da
razão, filosófica ou científica? Ou será uma experiência anterior
ao
esforço filosófico ou científico que só depois se tenta justificar
racionalmente.
Somos
da convicção de que as raízes-fonte da crença ou da descrença
são
anteriores ao processo da razão pensante, assim como a existência
- a experiência
vivida - precedem a consciência.
Pode se
colocar pergunta semelhante sobre o fenômeno universal da
experiência
amorosa.
O amor
não é uma decisão consequente a um esforço racional de pensar
a
natureza humana e descobri-la orientada para o outro.
O amor
emerge como uma dimensão profunda do ser humano.
Depois
ele pode e deve ser pensado, inclusive para determinar-lhe
a
natureza e desmascarar suas formas doentias.
Assim também
a crença em Deus: ela emerge das
profundezas
do ser humano como manifestação do desejo
de uma
Verdade definitiva, fundamento do próprio existir.
Por isso
um ateísmo militante será sempre uma
luta
contra uma “doença” / “delírio”, - a
mais
profunda aspiração do ser humano –
incurável
da natureza humana.
Naturalmente
muitas razões se poderão oferecer às pessoas para
que se
oponham à fé em Deus.
Assim
como o amor, a mais bela expressão da natureza humana,
ao se
corromper produz loucuras tais como ciúmes seguidos de
crimes,
separações dolorosas de casais, abandono de filhos,etc...,
assim
Deus pode ser invocado para apadrinhar intolerância, fanatismo
e
guerras.
Mas não
é o amor que é ruim, péssima é sua corrupção.
Pois
bem, quem é Deus e em que consiste o amor é o coração do
Novo
Testamento.
Deus é
amor e o amor se manifestou:
Deus se
fez um de nós para salvar-nos da corrupção de nossa dignidade,
fazendo-nos
filhos seus.
Nossa
vida tem sentido: superar a morte.
Amar
como Cristo amou é o caminho de salvação da humanidade
para
esta vida e para a eternidade.
Letrado
ou iletrado, todo ser humano deseja a plenitude da vida.
Na
Epístola aos Hebreus existe um versículo que diz que Jesus
veio
para nos libertar da angústia da morte: “libertar os
que
passaram a vida em estado de servidão, pelo temor da morte” (Hb 2,15).
Prezado(a) leitor(a), não lute contra seu
desejo
de Deus.
Escute
um dos homes mais inteligentes da história do pensamento:
“Ó Deus,
fizestes-nos para vós e nosso coração está inquieto enquanto.
não
repousa em vós” (Agostinho).
Não
tenha medo de Deus, Ele é apenas uma criança pobre, que,
de
longe, sábios vieram adorar.