A
liberdade de expressão tem sido para mim objeto de alto custo. Como estudante
do 6º período de jornalismo mesmo estando às portas da terceira idade, observo algo
que deve acontecer nas universidades do mundo globalizado: uma certa corrente
de pensamento as invadiu e aplica os ensinamentos de Gramsci sobre hegemonia aos
incautos alunos. Faz isso usando as formas de manipulação que ensinam a eles, atribuindo-as,
com veemência e constância, aos demonizados “industriais da cultura” e ao que
considera o próprio demônio, o capitalismo, a responsabilidade por todas as
mazelas do mundo, eis seu dogma precioso e sagrado.
Os estudos das Teorias da Comunicação dizem
que este movimento começou na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, a
partir de 1964; Angela Prysthon, no seu trabalho: Histórias da teoria: os estudos
culturais e as teorias pós-coloniais na América Latina, diz
que: "os Estudos Culturais se
estabeleceram como um terreno por excelência, tanto para o estudo como para o
próprio desenrolar das transformações", noutras palavras, os próprios
professores seriam militantes a serviço da ideologia política.
Esta
constatação foi motivo de decepção, espanto e revolta para quem passou vida
lendo, principalmente jornais, e pretendia, depois da aposentadoria, realizar
um mergulho intelectual no mundo da comunicação, da cultura e da arte. Porém,
nas primeiras aulas desta mesma disciplina, vi que nada veríamos sobre
comunicação, cultura e arte, a não ser críticas, críticas e mais críticas às
empresas de comunicação e aos países profícuos nas artes de entretenimento. Os
filmes de Hollywood eram apresentados não como objetos de análise do talento
dos artistas, da engenhosidade dos recursos e da visão dos empreendedores, mas sempre
como instrumentos de manipuladores ferozes nas mãos dos quais os pobres futuros
jornalistas haveriam de sofrer horrivelmente por tê-los como patrões. Nenhuma
outra visão de mundo era apresentada.
Vi-me
impelida, em tão esdrúxula situação, a usar minha liberdade de expressão, como
aluna e cidadã, para com muita contundência, defender minha inteligência e a de
meus colegas de verdadeiras agressões, uma vez que, professores abusando do
direito à liberdade de cátedra, estavam, no meu entendimento de pessoa vivida,
doutrinando os alunos nas suas crenças ideológicas.
A
princípio os colegas se assustavam com aquela senhora, fora de seu habitat
natural, que discutia com o professor que evocava a cada instante o seu título
de doutor. Com o tempo se acostumaram e diante de uma afirmação mais incisiva
dos mestres olham para mim espreitando novo bafafá. Hoje acontecem raras
interpelações, os professores estão mais contidos.
A
vivencia de tal situação foi agravada por outra dificuldade de comunicação: ao
comentar o que acontecia dentro das
salas de aula com as pessoas da minha idade, a maioria delas me olhava com
descrença, considerava impossível que
tal fato viesse a acontecer. A geração das
pessoas acima de 55 anos não pode conceber que se doutrine estudantes, em
qualquer área do pensamento, dentro da universidade, onde se espera que
aconteça apenas a grandíssima pluralidade de ideias e a explosão benéfica que
acontece, pela ação do contato entre a
criatividade e o conhecimento científico, de projetos que propiciem o
progresso.
Acredito
que a liberdade de expressão seja algo tão precioso, que valha grandes
sacrifícios. No meu caso, a idade e o conhecimento que ela traz me obrigam a fazer
o possível para que meus colegas, assim como todos os estudantes
universitários, tenham acesso às mais variadas correntes de pensamento.
Dentro
dos meus limites, mas aderindo à audácia dos militantes ideológicos, procuro
fazer uso da minha liberdade de expressão, assegurada pela nossa Constituição
Federal em seu artigo 5º, IX, para pelo menos
dificultar que a universidade seja para os jovens o que diz, sobre a mídia,
José Arbex na apresentação do livro: "Padrões de manipulação na grande
imprensa", de Perseu Abramo, cuja leitura é obrigatória no meu curso de
jornalismo: "...Constrói consensos, educa
percepções, produz "realidades" parciais apresentadas como a
totalidade do mundo, mente distorce os fatos, falsifica, mistifica – atua,
enfim, como um "partido" que, proclamando-se porta-voz
dos "interesses gerais" da sociedade civil, defende os
interesses específicos de seus proprietários privados.'' No caso da
universidade seriam os interesses dos
que dela se apropriaram violentando inteligências vulneráveis.
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