domingo, 19 de fevereiro de 2017

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues


A  Arquidiocese de Sorocaba se despede de seu arcebispo Dom Eduardo Benes  de Sales Rodrigues, que no próximo dia 25 de fevereiro de 2017 transfere o cajado do arcebispado  para Dom Júlio Endi Akamine, novo arcebispo nomeado pelo Papa Francisco. 

O jornal "Diário de Sorocaba” trouxe no dias 18 deste mês uma excelente  reportagem sobre a importante, e ao mesmo tempo humilde,  pessoa de  Dom Eduardo.

Tomamos a liberdade de copiá-la para seja aqui também encontrado o rico texto do jornalista e historiador sorocabano José Benedito de Almeida Gomes: 


"Arquidiocese homenageia dom Eduardo Benes por fecundo episcopado Arcebispo emérito vai residir em Juiz de Fora, no mesmo local onde menino entrou para o Seminário e de onde continuará sua missão apostólica a serviço da difusão do Reino de Deus e do Evangelho 

Publicada em 18/02/2017 às 11:24


Uma semana antes da posse do quinto bispo e terceiro arcebispo metropolitano de Sorocaba, na pessoa de dom Júlio Endi Akamine, SAC, a igreja da Catedral de Nossa Senhora da Ponte, na praça Cel. Fernando Prestes, na região central da cidade, acolhe ao meio-dia deste sábado, 18 de fevereiro, a comunidade local e regional para render ação de graças a Deus pelos quase doze anos de profícuo e fecundo ministério pastoral de dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues como nosso quarto bispo e segundo arcebispo. Foram mais exatamente onze anos e sete meses, desde que procedente de Lorena, no Vale do Paraíba, onde era bispo diocesano, depois de rápida passagem como bispo-auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dom Eduardo Benes tomou posse na sucessão de dom José Lambert a 3 de julho de 2005, por designação do papa Bento XVI.

Será um momento de agradecimento a Deus e retribuição por parte da comunidade arquidiocesana de Sorocaba por tudo que entre nós semeou – e que certamente continuará semeando como Arcebispo Emérito, a partir do dia 25 – dom Eduardo Benes esta solene Concelebração Eucarística de logo mais. Como não enumerar, nesta ocasião, a criação de novas paróquias, quatorze ao todo; a ordenação de um grupo considerável de novos sacerdotes e de diáconos permanentes; a elaboração do Diretória da Catequese e também dos Sacramentos; a formação do Conselho Arquidiocesano de Leigos – sempre acompanhado pessoalmente pelo Arcebispo; o despertar da consciência missionária, em particular a semente do Sine (Sistema Integral da Nova Evangelização) - que está presente em duas paróquias; os retiros do clero e as formações para os padres; o empenho junto aos agentes de Pastoral e movimentos eclesiais; a Pastoral do Acolhimento, “também uma pequena árvore que precisa crescer”, como tem destacado o próprio dom Eduardo; a Pastoral do Surdo; seu empenho pessoal junto aos Meios de Comunicação Social, inclusive com as sempre aguardadas entrevistas e depoimentos dos programas semanais “Igreja no Novo Milênio”, pela TV Canção Nova; ou a atuação dedicada e decidida como presidente da Fundação Dom Aguirre, mantenedora da Universidade de Sorocaba (Uniso), sobretudo com a reforma dos estatutos da FDA, que permitiu a superação das dificuldades por que passaram as Universidades Comunitárias do País. Isto tudo entre tantas e inumeráveis outras iniciativas e atuações que Sorocaba fica a dever a seu quarto bispo e segundo arcebispo.

“Tudo isso, porém, é mérito não meu, mas do clero de nossa Arquidiocese e de homens e de mulheres de ideal que generosamente assumem a missão de ser Igreja”, ressalva dom Eduardo Benes ao ser confrontado pela reportagem do DIÁRIO com o elencamento de tantas realizações durante seu episcopado em Sorocaba, acrescentando esta consideração pessoal: “A Igreja no Brasil busca caminhos de ser toda ela missionária, na vida dos discípulos de Cristo e em suas estruturas. Esse é um caminho em que estamos dando os primeiros passos. É preciso renovar sempre o ardor missionário e ter a coragem de mudar o que precisa ser mudado, a partir de um renovado encontro com Cristo”.

Segunda-feira (20), dom Eduardo Benes, que logo depois que aqui chegou no início de julho de 2005 foi distinguido com o título de Cidadão Sorocabano, será novamente homenageado pela Câmara Municipal. Receberá, desta feita, a Comenda Referencial de Ética e Cidadania, em sessão solene marcada para as 19h30 no Plenário do Legislativo sorocabano, no Parque da Boa Vista. A proposta, aprovada por unanimidade pelos vereadores, partiu do vereador Anselmo Neto.

'SOROCABANO COM A GRAÇA DE DEUS' - Ao falar ao DIÁRIO nesta semana sobre sua passagem por Sorocaba, dom Eduardo Benes fazia questão de destacar, `em primeiro lugar´ como disse, que “foi uma especial graça de Deus”. E acrescentava: “Em segundo, tenho muito presente a consciência de minhas falhas e omissões. Em terceiro, um comovido agradecimento ao `Pai das misericórdias´ pelas muitas coisas boas que ele realizou nesses anos na Igreja de Sorocaba durante esse tempo”.

“Do povo de Sorocaba ressalto o acolhimento, como é característica de sua história. Aqui fui generosamente acolhido por católicos e não-católicos, o que facilitou uma convivência construtiva com todos”, prosseguiu dom Eduardo, vaticinando: “A fé do povo sempre me devolvia a consciência da missão de bispo: `Eles veem em mim a presença de Cristo´. Sim, o respeito e o carinho das comunidades sorocabanas, assim como nos encontros de pastorais fazem o Bispo – também os presbíteros e diáconos – tomar consciência de que devem ser, de fato, um sinal de Cristo Pastor. Guardo no coração a amizade dos padres, dos diáconos, das religiosas e de tantos e tantos leigo(a)s, que são exemplo de oração e de dedicação ao povo no espírito do Evangelho”.

Arcebispo emérito, dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues irá residir na cidade de Juiz de Fora, sul do Estado de Minas Gerais, no Lar Sacerdotal, que é também residência do Arcebispo local, hoje dom Gil Antônio Moreira, que já foi também bispo diocesano de Jundiaí. “Entrei no Seminário de Juiz de Fora com 12 anos de idade” – recorda-se dom Eduardo. “Ali fui formador de 1971 a 1994. Depois fui pároco e vigário-geral da Arquidiocese de Juiz de Fora e continuei a lecionar no Seminário de Santo Antônio até 1998” (ano de sua elevação ao Episcopado, pelo Papa São João Paulo II. “Tenho orado bastante e refletido sobre a vida de um bispo emérito – prossegue ele, futuro arcebispo emérito de Sorocaba. “No Brasil, são mais de 100. Estão organizados para se apoiarem uns aos outros. Ainda ontem (quarta-feira) – a entrevista foi feita na quarta -, recebi convite para em setembro participar do encontro dos eméritos e me pedem para fazer uma reflexão: `O bispo emérito em uma Igreja em saída´. Vou ao encontro, mas respondi: `Isso eu quero ouvir de vocês´. Não vou aceitar oferecer a reflexão. Minha convicção e meu desejo – para o que peço orações, aliás – é ser cada vez mais empenhado no ministério episcopal, no serviço da Igreja. Há muitas formas de fazê-lo. Isso ficará claro aos poucos. O Espirito Santo vai me mostrar. Afinal, torna-se mais urgente estar bem preparado para o encontro definitivo. Como gosto de pescar, às vezes alguém me diz: `Agora, vai aproveitar para pescar´. Subjacente à afirmação, está a ideia do `peso´ do trabalho episcopal. Respondo: `Vou pescar como o faço agora, de vez em quando. Meu tempo deverá ser para o serviço da difusão do Reino de Deus e do Evangelho”.

Perguntado, por outro lado, se Sorocaba continuará a vê-lo sempre, dom Eduardo é incisivo: “Sempre, não. De vez em quando. Mas sempre estarei sintonizado, na oração, com todas as pessoas com quem partilhei esta porção de minha vida”. Quanto a como se sente às portas de entregar o báculo de Pastor desta Arquidiocese a que tanto amor e serviu a dom Júlio Endi Akamine, exclama prazeroso: “Muito feliz. Quando escrevi a Roma descrevendo a Arquidiocese de Sorocaba, não indiquei nomes para me substituir.  Tendo descrito o perfil sociocultural da Arquidiocese, assim concluí: `Tudo isso pede de nós, bispos: * Uma boa cultura teológica, com capacidade de discernimento dos apelos do Espírito vindo da realidade sociocultural. * Uma boa capacidade de diálogo com as pessoas que vivem mais intensamente a experiência da secularização, de modo a poder promover a organização do laicato por áreas profissionais. Um Conselho de Leigos focado nessa perspectiva. * Uma boa capacidade de organizar e de motivar – penso, sobretudo, no clero –, para implantar, de fato, um processo de evangelização e de conversão pastoral que torne as paróquias mais missionárias. * Uma boa capacidade administrativa - também dos bens temporais –, que torne a Arquidiocese independente de alguns alugueis, às vezes incertos, fazendo do dízimo a fonte suficiente de sua manutenção. Penso, enfim, que o novo Arcebispo deverá ser mais jovem, menos de 60 anos. Essas qualidades em um coração de Pastor, acompanhadas de perseverança e paciência, farão um imenso bem à Igreja de Sorocaba”.

“O papa Francisco, orientado pela Congregação para os Bispos e assistido pelo Espírito Santo, estou certo, fez a melhor escolha”, conclui dom Eduardo. (Texto de José Benedito de Almeida Gomes)


'Manso e Humilde de Coração'

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues é natural do pequeno município mineiro de Bias Fortes, entre as cidades de Barbacena e Juiz de Fora. Nasceu a 25 de junho de 1941, filho do casal José Justino Rodrigues/Aurora Sales Rodrigues. “Eu nasci a 18 quilômetros desse lugarejo (Bia Fortes), numa fazenda antiga, num casarão de muitas janelas, que teria sido construído pelo meu bisavô que veio de Portugal. Esse lugar fica próximo ao Parque Estadual da Serra de Ibitipoca. Ali eu vivi até os 5 anos de idade. Meu pai era filho de fazendeiro e tocava o sítio, que naquele tempo era uma propriedade bastante considerável, com a produção de 80 litros de leite por dia”, relembra sempre dom Eduardo.

Com 10 anos de idade, influenciado por um seminarista órfão que ficava durante as férias em sua minha casa e na casa dos primos, decidiu-se por ser padre e entrou no Seminário “Santo Antônio”, na cidade de Juiz de Fora. Em 1958, o seminarista Eduardo Benes foi para Seminário Maior “São José”, em Mariana, um dos mais antigos do Brasil, fundado em 1750. Ali estudou Filosofia por três anos. Já o curso de Teologia, veio concluir em São Paulo, no Seminário Central da Imaculada Conceição, no bairro do Ipiranga. 

Foi ordenado presbítero no dia 13 de dezembro de 1964 na Catedral de Santo Antônio, em Juiz de Fora, por dom Geraldo Maria de Moraes Penido. Depois da ordenação, padre Eduardo foi nomeado vigário paroquial daquela Catedral, de 1964 a 1971. Assumiu ainda muitos outros encargos pastorais por ali, como coordenador arquidiocesano da Catequese e formador no Seminário “Santo Antônio”, onde foi também reitor e diretor espiritual. Também lecionou Filosofia da Religião na Universidade Federal de Juiz de Fora para cursos atendidos pelo Departamento de Ciência da Religião da UFJF. 

Elevado ao Episcopado por São Papa João Paulo II em 1998, escolheu como lema episcopal “Mitis et Humilis Corde” – “Manso e Humilde de Coração”. “


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Como fiéis da Igreja de Cristo, apresentamos nossa profunda gratidão a Dom Eduardo pelo profícuo episcopado, transbordante de fidelidade e amor a Jesus Cristo, Fundador e Único Senhor da Igreja, a Quem todos nós queremos servir com a mesma fidelidade, humildade e profunda dignidade própria dos filhos de Deus e da Virgem Maria, que  em tantas ocasiões  vimos demonstradas na figura e postura do nosso querido Pastor.


A montagem fotográfica, uma humilde homenagem a Dom Eduardo, foi feita com uma imagem d o Sagrado Coração de Jesus, cujo autor desconhecemos, encontrada em alguns sites católicos. As outras são da festa de Corpus de Christi de 2014.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

José Messias Rosa





José Messias Rosa nasceu em 22 de agosto de 1927, no sítio das Palmeiras, no vizinho município de Ubá. Seu nascimento foi um acontecimento especial na vida sua família devido a uma coincidência rara de acontecer que considero importante registrar:  o jovem farmacêutico Mário Magalhães, filho do viúvo Sr. Paulino Rosa, estava noivo da senhorita Luiza Moura, filha da viúva Sra. Maria Messias. Com a convivência entre as duas famílias, os dois viúvos vieram a se casar e desse casamento nasceu José Messias Rosa,  que veio a ser irmão do Sr. Mário Magalhães e também de Dona Luiza, sua esposa. Talvez pelo fato de ser duplamente irmão, teve também duplicada a benção de Deus em sua vida.

Aos 14 anos veio para Rio Pomba, morar e trabalhar com irmãos Mário e Luiza, então proprietários da "Farmácia Santa Maria”. Com muita facilidade assimilou os procedimentos do trabalho farmacêutico, que naquele tempo era todo artesanal e os medicamentos eram em grande parte manipulados na própria farmácia. Seu espírito curioso e atento percebia como cada remédio era eficaz para cada tipo de doença. Foi se tornando, pouco a pouco, o braço direito do seu irmão Mário. Desde aquele tempo cultivava o hábito de ler jornais e comentar as notícias com os amigos, o que lhe deu uma boa visão geral da vida, firmou-lhe os pés no chão e lhe deu asas à imaginação. Era o que chamamos hoje de empreendedor.

Em 1953 casou-se com Yêdda Neves Moreira Rosa. Paralelamente ao trabalho na farmácia, era também representante comercial de uma fábrica de adubos. 








No ano de 1965 seu irmão Mário resolveu aposentar-se. Queria morar em Juiz de Fora. Propôs então a José vender-lhe a farmácia, proposta que foi prontamente aceita. O negócio prosperou nas mãos do José, que conhecia quase todo mundo em Rio Pomba, talvez soubesse mesmo da saúde de grande parte dos rio-pombenses.  Na cidade, era comum o fato de que, sempre que  alguém sentisse alguma coisa, passava primeiro no Zé do Mario. Se fosse algo mais simples já levava o remédio, se não fosse ele mandava para o médico. Foi assim que ganhou um grande número de compadres e naturalmente de afilhados  e afilhadas. 

Em 1971, seu espírito empreendedor teve papel importante em Rio Pomba, com  a inauguração da Padaria Rosa Cristi, a primeira com instalações ultra modernas para a época. Foi quando o rio-pombense pode ter o conforto de ter “pão quente a toda hora”. Quem estava à frente do frutuoso negócio era o popular Cristiano Santos Pires, o Sr. Cristianinho, seu sócio.

Os empreendimentos estavam a pleno vapor em 1972,  com a inauguração da  "Fábrica de Móveis Plama". Seus fundadores eram dois talentosos artistas rio-pombenses: Antonio Mendes Campos, Alaor Mendes  além do empresário José Messias Rosa. 

O casal Zezé e Yêdda esteve sempre ativo na vida da comunidade.  continuamente ligado aos interesses coletivos. Foi assim nos trabalhos paroquiais da Paróquia de São Manoel, especialmente no movimento "Cursilho de Cristandade”. Destacou-se nos preparativos da festa de Sagração Episcopal de Dom Helio Heleno, então sacerdote daquela paróquia. Foram também presidentes do Lions Club, em cuja gestão foi recuperada a Escola Rural da localidade Granatos. José sempre fez parte da diretoria do Club dos Trinta. 

Uma pessoa tão popular e tão ligada aos interesses coletivos não poderia deixar de passar pela política local. Foi vereador na legislatura de 1973 a 1077. Mas o forte dele mesmo era a farmácia. Foi ali que passou longo tempo da vida, sempre auxiliado por pessoas boníssimas que tinham tudo a ver com ele, fazendo com que a "Farmácia Santa Maria" fosse um ponto de referencia na cidade, onde sempre se passava, mesmo que fosse para somente um “dedo de prosa”. Dentre todos os auxiliares, o que mais se identificou com ele foi Alírio Lopes Ferreira. 

José Messias Rosa aproveitou pouco da aposentaria. A partida da sua musa, Yêdda, o tornou  cada vez mais recolhido. As responsabilidades, deixou para os filhos. Precisaram quatro para substituí-lo: dois empresários e dois médicos. Sabedoria Divina.Falando sério, José Messias Rosa  foi mais um grande exemplo entre muitos que temos em Rio Pomba. Nossas novas gerações precisam conhecer e valorizar pessoas que souberam, como ele, tirar proveito de tudo o que a vida lhe ofereceu; as que foram capazes de transformar cada oportunidade em benefícios para grande número de pessoas.   


Que agora, junto de sua saudosa Yêdda, ele merecidamente repouse confortavelmente no Sagrado Coração de Jesus "da Lola”, de Quem foi um fiel escudeiro,  colocando seu testemunho e empenho na fundação da Associação dos Amigos da Causa da Lola, que teve em sua esposa Yêdda um importantíssimo arrimo,  em horas  tão difíceis.

Giselle Neves Moreira de Aguiar
Sorocaba, 03 de fevereiro de 2017

  • Texto adaptado do que foi lido em setembro de 2005, da mesma autoria, por ocasião em  que José Messias Rosa recebeu o título de  “Cidadão Honorário de Rio Pomba", conferido pela Câmara de Vereadores da cidade, na época.

    Sobre sua esposa: Yêdda Neves Moreira Rosa