Quem
pode ir mais além que Deus? Quem, mais que a ressonância magnética, pode
escanear o coração humano, perceber e interpretar cada movimento, cada
sentimento, e, ao mesmo tempo, ter uma visão total da pessoa como um único e
precioso ser, e amá-la como só um Deus pode amar?
Só
um Deus é capaz de, por uns tempos, se tornar uma criatura e ao mesmo tempo
continuar sendo Deus. Fazer isso para ensinar – demonstrando com o próprio
exemplo – a cada indivíduo dessa espécie como otimizar a sua existência, ser
totalmente feliz e realizado, e por consequência, muito contribuir para a
felicidade alheia.
Pigmalião
foi capaz de se apaixonar pela sua criatura, mas só Deus pode inventar um jeito
de estar sempre com ela, dando vazão à sua paixão de corpo e alma! Esse jeito é
a Eucaristia.
A
proximidade do Santo Natal leva o católico a observar mais o tesouro de
infinito valor que lhe foi dado “de graça”: a Presença do Deus Altíssimo em nos
sacrários, de corpo e alma, como estava presente em Belém, no colo de sua Mãe
especialíssima.
Especialíssima
porque não poderia portar em seu DNA as marcas das misérias já vividas por seus
antepassados. O DNA de seu Filho-Deus não seria compatível com nenhuma
imperfeição, então, o poder de Deus a fez: “Concebida sem pecado” em função de
sua especial Maternidade.
Mesmo
neste tempo de confusão e erro, quando temos todos os motivos para estarmos
apavorados com as infindáveis más noticias que recebemos, a inefável Presença
Divina se faz sentir ao redor do sacrário, embora muitos de nós ainda não
estejamos capazes de percebê-la. Isso porque nossos corações andam sintonizados
em estações que enfatizam tanto os cuidados e o bem-estar do corpo que nos faz
esquecer de que temos alma!
Só
a alma percebe a inefabilidade de Deus. Ela é a antena que nos sintoniza com
esse Deus. Mas infelizmente, muitos de nós andamos com as antenas danificadas,
devido à falta de manutenção, por isso não se consegue sintonizar Deus;
acabamos pensando que Ele não existe...
Hoje,
em tecnologia, estamos aonde não pensaríamos estar, de tão longe! Mas em termos
de civilização estamos mais ou menos como nos tempos de Henrique VIII e São
Thomas Morus, quando a promiscuidade entre a questão religiosa e os interesses
materialistas e políticos produzia a degeneração das consciências e,
consequentemente, a dos costumes.
Alguns
hoje, que se consideram muito evoluídos, estão na verdade tendo uma vida muito
próxima à vivida pela maioria das pessoas no final da idade média. A
inatividade do espírito – semimorto- e a falta de paradigmas consistentes os
obrigam a viver guiados pelos próprios instintos e compulsões, como bárbaros,
apesar de possuírem grandes conhecimentos em outras áreas.
O
Advento, nos tempos modernos existe para nos lembrar de que não precisamos
esperar mais, que Quem que nossos antepassados esperavam já está no meio de
nós! Que não há razão para viver angústias, pelo menos no que concerne à vida
pessoal: o Todo-Poderoso, sem a menor burocracia, recebe pessoalmente quem o deseja,
para uma conversa informal, na qual terá toda a paciência para escutar nossas
mazelas, dúvidas e, sobretudo dores.
Se o pedirmos, Ele repara nossas antenas
para tornar-nos capazes de ouvir a Sua voz, compreender o que nos diz e sentir
os efeitos da Sua Presença, na qual mal nenhum subsiste. A única condição para
que isso aconteça é querer, querer, querer...
Tal
fato é motivo mais que suficiente para enfeitarmos a casa, prepararmos o
presépio, instrumento da didática do amor, para que as crianças percebam o
quanto amor devotamos ao nosso Deus, que quis nascer humano em ambiente de
total desprezo às riquezas materiais.
A
maneira como quis nascer o Onipotente nos revela que o que é realmente
importante é o afeto gratuito de quem sabe reconhecer o valor intrínseco da
união entre Deus e o humano acontecida no presépio. Afeto demonstrado pela
simplicidade natural dos pastores e pelo poder e ciência reunidos nas pessoas
dos “reis magos”, que usando os conhecimentos da astronomia conseguiram chegar
à presença do Deus-menino na qual sentiram uma alegria ‘muitíssimo grandíssima’
como dizem algumas traduções do evangelho tentando mostrar, com a força dos
superlativos, a alegria sentida por ambos, pastores e reis.
Não
importa se somos simples pastores, trabalhadores braçais, sofisticados
cientistas ou bem sucedidos empresários, diante da Hóstia em que tornou o
‘Menino’ do presépio ficamos todos humildes, embevecidos com tanta beleza
invisível, bondade, paz e uma incontinente alegria...
Para
que tudo isso aconteça com cada um de nós só é necessário um ato da nossa boa
vontade. Jesus está presente no sacrário para cada um de nós como estava
presente no presépio há mais de dois mil anos. No que se refere a Ele, não
tenhamos a menor dúvida, Ele anda ansioso, cansado de esperar que lhe prestemos
atenção, afinal, é para estar conosco que se submete à solidão do
tabernáculo...
Giselle
Neves Moreira de Aguiar