domingo, 30 de setembro de 2012

Para agir com eficiência


  
Texto do livro:

                       Construir o homem e o mundo
 de Michel Quoist 


É fácil por uma casa abaixo, mas é muito mais difícil construí-la. 

É fácil criticar, mas, muito mais difícil agir. 

É fácil conceber planos, mas, difícil realizá-los. 


Ora, para abrigar os homens, mais vale uma choupana construída do que palácios em projetos. Suas boas intenções não têm valor se não se concretizarem em ação. Porque você não pode fazer grande coisa, muitas vezes você não faz nada. Mais vale que você faça o pouco que pode... 


O membro que não utilizamos mais atrofia-se. O homem que não age, não só não progride como recua. Você só pode completar-se agindo. 

Olhe os homens à sua volta. Eles se agitam muito, se dispersam, falam, reagem, debatem-se e finalmente desanimam, pois o resultado que conseguem é insignificante em relação aos seus esforços. 

Não é a intensidade do movimento que dá evidência à ação, mas a marca do espírito, que graças a você ela revela. 

Certos homens em pouco tempo, poucos gestos e pouca ação, farão muito; outros em mais tempo, mais gestos e mais ação, farão pouco. 


Toda a diferença reside na qualidade da alma dos que agem.       

 A ação do animal é instintiva.       

 A ação do homem é refletida.        

A ação do cristão deve ser vivida na fé.         


Muitas vezes você age por automatismo, como um animal; algumas vezes por reflexão, como um homem; raramente pela fé como cristão.         

Examinando e refletindo cada vez mais sua ação, você pode se tornar cada vez mais “pessoa” humana.         

Vivendo cada vez mais a ação pela fé, você se torna cada vez mais filho de Deus.         


Você pode ajudar os outros a se personalizar, e depois a se cristianizar fazendo-os passar progressivamente da ação instintiva à ação refletida, e da ação refletida à ação na fé.         

Se você quiser agir seriamente, olhe primeiro a realidade.Humanamente isto é sabedoria. Meça exatamente as necessidades, delimite o ponto preciso onde você deve inserir-se.  Deduza as forças que devem ser empregadas...         Cristãmente é evitar a ilusão.


 Se você interrogar a realidade, guiado pela fé, é Deus quem lhe responderá e, através da circunstância concreta o convidará à ação.         Na perspectiva da fé, submeter-se à realidade é submeter-se a Deus.         

Você não pode agir correta e cristãmente sem antes ter –à luz da fé – examinado e julgado.  A ação deve ser para você a realização do plano do Pai, depois de havê-lo decifrado depois de um olhar fiel sobres a sua vida.         

Você quer ser eficaz,Mas, impacienta-se com o pouco resultado de sua ação,E sofre ao ver a intensidade de trabalho que aparece sem que você possa realizar;         Você ouve o apelo do seu meio e de toda a humanidade...         


Se você quiser dar à sua vida o máximo de eficiência, troque a sua vontade pela vontade infinita de Deus, e Ele trocará a sua miserável força por sua ONIPOTÊNCIA INFINITA.         

Deus fez grandes coisas contando com o seu próprio poder, você limita a sua eficácia.         

Se você desaparecer, Cristo poderá aparecer e, por você, terminar o plano do Pai.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Piedade e santidade


          
Os assuntos relacionados com religião e fé não podem ser vistos da mesma maneira como  observamos as coisas materiais.


         "Não podemos compreender o santo se analisarmos os seus atos segundo nossas ideias. Os menores e mais triviais espetáculos do mundo, se deixarmos de lado os objetivos que os homens se propõem, perderiam o último vislumbre de santificação.
          
          Imaginemos, por exemplo, que estamos assistindo os jogos olímpicos e que passam por nós os corredores, usando todas as reservas de força e de destreza para arrebatar o premio final. Se um de nós não crê nos prêmios, ou não crê que aquela pista termine em algum lugar, é claro que não entrará na competição; mas se quer saber o que é uma corrida tem que levar em conta que os atletas creem na chegada e no prêmio.
          
         A maior parte das pessoas que se referem à vida do santo incorre nesse engano de aproximar os atos piedosos de suas próprias ideias. E divertem-se  muito com o absurdo que resulta, pensando que o tolo é o santo."  - Gustavo Corção 
no livro Três alqueires e uma vaca, no capítulo O Herdeiro -






domingo, 23 de setembro de 2012

Ato de Confiança em Deus


       
                                                                       Por São Cláudio de La Colombière

                       Meu Deus, estou  tão persuadido de  que velais sobre os que em Vós confiam e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que determinei viver para o futuro sem preocupação alguma e descarregar sobre Vós o peso dos meus cuidados: "Em paz me deito e adormeço tranquilo, porque só Vós, Senhor, me fazeis repousar em segurança" (Sl. 4, 9).                       

                Podem os homens despojar-me dos bens e da honra; podem as doenças privar-me das forças e dos meios para Vos servir; posso até perder a graça pelo pecado. Mas o que nunca perderei é a minha esperança; conservá-la-ei até ao último alento da minha vida, embora todas as potências infernais se esforcem, em vão, por ma arrancar. "Em paz me deito e adormeço tranquilo."                       

         Esperem uns a felicidade das suas riquezas e talentos; confiem outros na inocência da sua vida, no rigor das suas penitências, no número das suas esmolas ou no fervor das suas orações. "Só Vós, Senhor, me fazeis repousar em segurança".

        Senhor, toda a minha confiança se funda nesta mesma confiança. Ela jamais enganou alguém: "Ninguém confiou no Senhor e ficou confundido" (Ecl. 2,11). Assim, estou seguro que serei eternamente feliz, porque firmemente espero sê-lo; e é de Vós, ó meu Deus, que o espero. "Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido" (Sl.30,2).                       


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dom Odilo, Russomano e o "kit gay"




           O Jornal O Estado de São Paulo traz hoje, 17/09/2012, uma matéria em que o Sr. Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, expõe com grande alarde, o que disse  Marcos Pereira, coordenador da Campanha  de Celso Russomano no seu blog em maio de 2011 associando a Igreja Católica aos "Kits gays"distribuídos nas escolas com o objetivo de "combater  a homofobia". Na verdade, a própria Presidente da República em manifestação pública, considerou o material como uma apologia à homossexualidade. 

         O texto de Pereira voltou a circular na internet recentemente.Por isso, cardeal se manifestou conforme diz o  O Estado de São Paulo   ( clique no link para ler a notícia).
          
       Diante de tal notícia, aqui da minha condição de católica e de cidadã, pondero, com tristeza que:
           
         Se o PT está no poder, apesar de ser o partido responsável pelos projetos de leis que agridem os valores dos cristãos (embora os cristãos compreendam a grande maioria dos eleitores) deve, e muito, aos padres progressistas orientados pela CNBB.
          
         Portanto, existe sim uma cumplicidade dos que respondem pela instituição Igreja Católica com a existência dos "kits gay" e similares.
           
      O que, absolutamente, não tem a concordância da maioria dos católicos, que pensam, neste assunto, como os evangélicos.
          
       Produzir e fomentar a divisão entre cristãos, nesse caso, favorece Haddad, o candidato dos que vilipendiam constantemente os valores cristãos. Estaria o Cardeal entre eles?


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

. . . e ainda, a porta da igreja.




                                                                                         Yêdda Neves Moreira Rosa

            É próprio da natureza humana julgar os fatos de acordo com a própria consciência, tendo como medida de comparação os seus valores pessoais, ou seja, como diz  Nosso Senhor Jesus Cristo --- onde está o seu tesouro aí está o seu coração.
           
            É preciso estar alerta, ter uma boa visão periférica do ambiente onde  acontecem os fatos para não se envolver emocionalmente e assumir uma atitude fisiológica onde não se consegue perceber nada além do que se quer que seja a verdade. É onde pode chegar o ser humano quando se deixa levar pela egolatria “religião” que hoje tem o maior número de adeptos.
           
            Ao ler O IMPARCIAL p.p. especialmente o artigo “Moção Paroquial de Apoio”, encontramos o seguinte:  “que as palavras voam, as obras permanecem”, porém isso não acontece na nossa cidade --- aqui, as palavras voam e as obras também.  É só lembrarmos-nos da antiga “CASA PAROCHIAL’ construída em 1928, com esmero, pelo Padre João Crisóstomo,  no estilo neoclássico romântico --- ela era rosa e bonita. O que fizeram? Destruíram-na e construíram uma nova, moderna e cara, bem ao gosto do ex-pároco. Então, as obras ficam   se   as respeitam  e conservam.

Exercer a cidadania é um direito inalienável que todos deveriam praticar e foi o que tive a graça de Deus para fazê-lo no que se refere ao episódio da  “porta da igreja’’.
           
            Quero que fique bem claro que não agi em nenhum momento movida por sentimentos pessoais e muito menos com intuito de prejudicar quem quer que seja. Muito pelo contrário, as minhas moções foram CONSEQUÊNCIAS de ações de outras pessoas, essas sim, agiram com total arrogância e abuso de poder.
           
            As autoridades são na verdade servidores dos cidadãos, e quando  exercem seus mandatos, não recebem o título de proprietários dos bens da comunidade podendo fazer deles o que bem entender.
           
            Cada cidadão é também um servidor da sua própria comunidade e quando vê abuso das mesmas autoridades em área na qual ele tem conhecimento  a ponto de ver e detectar o erro, ele tem o dever de fazer o que estiver ao seu alcance para defender os interesses da comunidade.

              Foi exatamente o que fiz no caso da porta da igreja. A maioria dos cidadãos talvez não tenha percebido ainda que o patrimônio arquitetônico da cidade é um valor de grande porte. Um valor que não pertence a nenhuma pessoa particularmente, mas todos nós estamos ligados a ele; é como um cordão umbilical que nos une aos nossos antepassados, nos faz  ver que não somos seres “surgidos ao acaso” mas que temos uma origem. As nossas edificações representam o que de bem ficou daqueles que nos antecederam, as suas manifestações de arte, cultura, valores, enfim, a expressão daquilo que chamamos de identidade, que faz, por exemplo, o povo de Rio Pomba ser diferente do povo de Tocantins, do povo de Ubá etc. Não que seja melhor ou pior, mas diferente. Cada cidade tem as suas características próprias.
           
            Mutilar o prédio de maior expressão da cidade é uma agressão violenta, principalmente quando feita por pessoas para quem o passado histórico do povo não tem nenhum valor. Quando feita pela própria comunidade, significa  passar um atestado de infantilidade, como quem não tem a menor consciência de quem realmente é como povo. Deixar que isso aconteça sem fazer nada para impedir, tendo consciência desta verdade,  configura covardia e fraqueza de caráter.
           
            Não podemos deixar que descaracterizem o templo.
Preocupados em abrir espaços e colunas quadradas em completa desarmonia com a nave da mesma, em fechar a porta que ali está há quatro gerações, estrangulando a entrada/saída de fiéis, deixam o altar-mor que é a preciosidade maior da igreja, abandonado aos cupins, necessitando urgentemente de trabalho especializado para o RESTAURO do mesmo. Se demorar muito poderá ruir, o que seria uma enorme perda.  Infelizmente, seria providencial para os adeptos do modernismo substituí-lo por uma fria parede de mármore com um crucifixo,  como já o fizeram com a Matriz do Rosário.
           
            Fiz o que estava ao meu alcance para defender os valores da nossa terra, tenho orgulho de ”poder olhar as gerações futuras” e dizer: --- Fiz o que pude para guardar o seu tesouro (físico e moral ) mesmo a custa de saber que só vocês  e alguns poucos da minha geração poderão me compreender.
           
            Às pessoas que se sentiram atingidas só posso dizer que sinto muito, não é por meu gosto pessoal que faço isso, mas por um dever de consciência. Não posso deixar de levar a sério a fé e os verdadeiros valores que recebi de meus antepassados, pelos quais sou grata a Deus, e dos quais me sinto neste momento depositária, e são também por eles que deverei prestar contas a Ele..



                                                     Rio Pomba, outubro de 2004

Artigo publicado  no jornal OImparcial de Rio Pomba/MG na mesma época.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O significado da Cruz






         Entra-se no Evangelho por duas portas: a da história (isto é, da crítica) e a da fé.
        
         Aquele que penetra no Evangelho pela porta da crítica histórica, dali sairá com um cadáver nos braços, após ter encontrado uma objeção a cada linha e uma dúvida a cada palavra. Compilado muito depois dos acontecimentos com o intuito de instruir os simples, mesclado de mitologia e desse "maravilhoso" que causa horror aos teólogos da moda e aos peritos em contabilidade, o texto lhe parecerá pouco plausível no princípio e discutível depois, e dele só extrairá uma moral árdua e bastante original, embora dela se encontrem antecipações nos essênios, nos mesopotâmios, nos chineses, egípcios ou gregos. [...]

         Aquele que entra no Evangelho pela porta da fé, pelo contrário, sabe – ou vislumbra- que não existem limites para a grandeza de Deus, e este é certamente o ponto mais essencial a ter em conta quando nos propomos viver, ao longo de algumas páginas, na intimidade de Cristo. [...]
        
         Quem entra no Evangelho pela porta certa, descobrirá em Cristo muito mais – é o que eu digo: "muito mais" - do que um homem atormentado à busca de uma eventual identidade com Deus, fugidia, e no fim das contas improvável;

descobrirá, pelo contrário, um ser eterno que pouco a pouco adquire um conhecimento experimental da condição humana até a agonia da cruz e ao grito dilacerante:

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

         Este brado marca por assim dizer, o fim da lição, o exato momento em que a Encarnação, abolida toda e qualquer parcela de luz sobrenatural, se arremata no mais completo despojamento.

Texto de André Frossard  no  livro: Deus em questões
Editora Quadrante - São Paulo, 1991; pg. 49 

Para cantar com a Igreja:
Vitória, tu reinarás...

sábado, 8 de setembro de 2012

Um bom parceiro


        
  Parte do livro: Três alqueires e uma vaca
                           de Gustavo Corção 
 6ª edição – Editora Agir -  Rio de janeiro 1961 -

           
                Uma das grandes alegrias que nos é dada neste mundo tanta vezes inóspito e doido, é o encontro de um bom parceiro de ideias.
           
              Talvez seja esta a razão de existirem a bisca (um jogo de baralho) e o xadrez: o homem precisa viver com outro homem sob a mesma regra. Dessa necessidade fundamental resultam os cassinos e os mosteiros, pois o falso e o genuíno se encontram em torno das mesmas necessidades.
           
              O homem precisa de uma lei, ainda que seja para logo depois a ultrapassar. Forma necessários o Levítico, o Decálogo, e todos os livros  e preceitos para que Santo Agostinho pudesse promulgar a terrível anarquia cristã: "Ama e faze o que quiseres."O homem precisa de uma lei para superá-la; de uma regra para não sentir sua prisão; de uma clausura para se libertar.
           
            Por isso gostamos do jogo e temos necessidades de uma regra de jogo. O que todos procuram nos mosteiros e nas casas de negócio é um lucro. Varia a natureza, mas há uma só coisa que não varia: a ideia de que só há lucro, o verdadeiro, adequado à natureza do homem, rezando ou vendendo gravatas, quando foram cumpridas certas regras. O lucro é a vitória sobre os limites, conquistada dentro dos próprios limites. Com isso eu afirmo a realidade moral do homem, e penso explicar sua propensão, às vezes excessiva e imoral, para os jogos de azar.
           
         O estabelecimento das regras, que perduram enquanto dura o jogo tem uma importância particularmente dramática na fase inicial. Nesse momento as regras são princípios ou juramentos, sendo cuidadosamente estipuladas onde o jogo é liso. No duelo os padrinhos verificam a igualdade das espadas e examinam escrupulosamente  se restam possibilidades que acordo que afaste os parceiros do campo de combate; no casamento, se as há de desacordo que os afaste também desse jogo sem fim, onde iguais são as regras e tão desiguais as armas.
           
             Há porém um jogo desconcertante, um jogo de regras difíceis e escondidas, cujo pacto inicial remonta a gerações. Refiro-me a essa coisa trivial e cotidiana que é a troca de ideias. Pensava nisso quando disse, e agora repito, que uma das grandes alegrias que nos pode ser dada é o encontro de um bom parceiro de ideias. Não basta a concordância sobre um certo número de assuntos. Não basta mesmo que dois indivíduos partilhem o mesmo credo.
           
          Ainda que sejam ambos católicos, ligados pela mesma Fé e no mesmo Pão, chocam-se na hora de tocar ideias. E nesses casos os choques são maiores e mais dolorosos; mas, ainda bons. Pior do que o choque é o desencontro, que é uma falsa conciliação.
           
       A divisão, mesmo dentro da Igreja, não é um mal em si, como parecem supor os espíritos largos a que já me referi e que se caracterizam pela falta de pugnacidade. Invocam eles a universalidade da Igreja e o pacifismo dos santos para impedir os choque saudáveis e necessários, que separam os Beneditinos dos Dominicanos, ou Jesuítas dos Franciscanos.
          
         A escolha, porém, é um ato violento; e se todos ouvissem os conciliadores que falam em unificação, ninguém escolheria Santo Inácio ou São Bento, mas ficaria a meia distância dos dois votos, imaginando um hábito intermediário e uma regra mista.
           
         A divisão, em si, não é má; de outro modo o Apóstolo não diria que o homem casado é um dividido, e que o matrimônio é um grande  sacramento. O que é mau e péssimo é a trapaça. A desobediência às regras do jogo. Porque então não há mais troca de ideias opostas que sejam, mas troca de golpes escusos, em busca do mau lucro e da defeituosa vitória em que a verdade é ultrajada. E, se grande é a alegria causada pelo encontro de um bom parceiro de ideias, grande também são a tristeza e o nojo causados pelo encontro de um parceiro que marca as cartas, ainda que seja com o sinal da cruz.
          
       Chesterton é um bom parceiro. Para mim, quando o encontrei, mais do que um grande autor, ele significou a inesperada valorização de uma antiga coroa de ideias, abandonada como um chapéu velho e fora de moda  de que agente se envergonha. O que em mim havia de verdadeiro, e de que me envergonhava – o simples amor pela família, o simplíssimo amor pela simplicidade, o gosto pelo riso, a preferência do claro sobre o escuro, o bom-senso, o bom-humor – aparecia anunciado por esse supervivo corretor, numa alta imprevista
           
    Veja bem o leitor que não estou me gabando de aproximações literárias, mas de aproximações humanas. A afinidade de ideias é uma semelhança e não uma igualdade; equipara os ângulos mas ressalva as proporções. Encontrei-me a mim mesmo em Chesterton, porque as mais simples e triviais ideias que para mim pareciam relíquias de família, desprezíveis nas altas esferas da cultura, eram suas ideias mestras, e eram realmente relíquias de família. E, sobretudo, eram ideias regeneradoras e fecundas. Faça o leitor a mesma experiência. Leia Chesterton; jogue com ele esse melhor dos jogos, em que as ideias são atiradas de campo para campo, e em que o lucro pode perfeitamente ser a recuperação do tempo perdido que Proust em quatorze volumes, não encontrou.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Dom Hélio Gonçalves Heleno



                     “Propter Regnum Dei” (Por causa do Reino de Deus).

            
        Ao receber a notícia do falecimento de Dom Hélio Gonçalves Heleno, bispo emérito de Caratinga/MG, acontecido em 04/09/2012, nossa memória se põe numa viagem de louvor a Deus pelo bom exemplo recebido daquele que foi nosso pároco na adolescência e juventude.
            
             Há alguns anos atrás, a convite dele, a AACL - Associação dos Amigos da Causa da Lola – esteve presente no Congresso Diocesano do Apostolado da Oração, em Caratinga, para falar sobre a nossa querida Lola.
            
               Foi um domingo inesquecível. Saímos cedinho de Rio Pomba e chegamos ainda pela manhã em Caratinga, o que possibilitou fazer uma visita a Dom Hélio. Ele nos recebeu com a simplicidade de quem recebia parentes. Depois desta visita tivemos a impressão de que sempre se sentiu rio-pombense.
            
             Com que alegria ele abriu vários álbuns de fotografias, todas tiradas em Rio Pomba, mostrava uma por uma e dizia os nomes das pessoas que nelas estavam como quem resgatava, por meio da memória, momentos de grande alegria.  Mostrou grande orgulho do trabalho realizado pelos casais do Cursilho de Cristandade. Falou da alegria de ter sido ordenado bispo em Rio Pomba, dos amigos que organizaram a festa, e da semelhança que figura no seu escudo episcopal com o escudo da nossa cidade.

            Mas o exemplo que mais marcou foi a demonstração do carinho despendido a seu irmão também bispo, Dom José Heleno, que após sofrer um derrame tornou-se bispo emérito de Governador Valadares e passou a morar com ele. Ele levou-nos até ele, a quem disse, demonstrando importância na fala: - Eles trabalham pela causa da Lola, vieram aqui para falar dela no Congresso do Apostolado da Oração. Dom José, impossibilitado de falar, recebeu um folheto com o retrato da Lola, que colocou junto do coração. Dom Hélio mostrou-nos, como se fosse um privilégio pelo qual era muito grato a Deus, a capela da casa onde ele celebrava a Santa Missa para o irmão.


            Ele tinha grande orgulho de ser, e ter, um irmão bispo mostrou-nos uma publicação que trazia a notícia da raridade que Cipotânea, sua terra, se tornara por legar ao mundo dois irmãos bispos. Seus olhos brilhavam de humilde alegria ao mostrar suas fotografias junto do Papa.
           
         Será impossível esquecer, e deixar de agradecer a Deus, o tempo em tínhamos o padre Hélio em Rio Pomba e Padre Heleno em Mercês. Nas vésperas das primeiras sextas feiras, Dom Heleno vinha ajudar o irmão a atender  as grandes filas de  fiéis que queriam receber o sacramento da confissão. Dom Heleno era grande confessor, e eu, sempre que podia, vinha de Viçosa para me confessar com ele, que ensinava  a trocar todos os temores pela confiança em Deus Onisciente e Todo Poderoso.
            
      O testemunho de Dom Hélio a respeito da Lola, a Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus, é de grandíssima importância. Ele foi seu pároco por vários anos, teria por dever de ofício, dizer o que havia de errado na sua vida e em torno dela, caso seus olhos de sacerdote vissem algo desabonador; no entanto ele sempre se portou, naturalmente, como um devoto da santidade dela.

            Não será necessário nenhum esforço mental para entender a trajetória simples e naturalmente humilde de Dom Hélio Gonçalves Heleno, ele foi antes de tudo, um fiel da Igreja Católica Apostólica Romana, seu lema episcopal o traduz: “Propter Regnum Dei” (Por causa do Reino de Deus), muito próximo do "Tudo por Vós ó Sagrado Coração de Jesus" que norteou da vida da Lola. Com toda certeza que nos dá a fé católica, temos agora dois importantes  e influentes rio-pombenses no Céu, a nosso favor.
                                                                                

                                                                               Giselle Neves Moreira de Aguiar
                                                                                                  Sorocaba, 07 de setembro de 2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Direito masculino


Neste artigo, João Pereira Coutinho conta sobre pesquisador Português Jorge Martins Ribeiro que reivindica para os homens o direito de rejeitar a paternidade, evocando o direito da mulher ( em seu país) de realizar o aborto.

O texto ilustra com o exemplo,  o perigo que se corre ao abandonando
os preceitos sagrados  da espécie humana para correr atrás da 
satisfação pessoal. Onde iremos parar?

"Eis, no fundo, a beleza da "autonomia" progressista: todos sabemos 
como ela começa; ninguém sabe como ela acaba." 


Filhos da mãe

Por : João Pereira Coutinho, publicado no Jornal "Folha de São Paulo, disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/1143954-filhos-da-mae.shtml
                  

Aborto. A minha semana foi dominada por ele. Nos Estados Unidos, o republicano Todd Akin fez estragos na campanha de Mitt Romney com uma afirmação miserável sobre o tema: quando há violação, o corpo da mulher tem maneiras de resolver isso, rejeitando a gravidez.

A miséria da frase não está no delírio acientífico do homem, nem sequer na sua recusa do aborto em casos de violação --uma posição tradicionalista, sim, que é possível entender (não por mim) e até respeitar (idem).

A verdadeira miséria está na defesa explícita de que há violações e violações. Se a violação é verdadeira, o corpo da mulher é uma espécie de nave espacial que se desvia dos meteoritos, impedindo que o espermatozoide faça a sua aterragem triunfal em solo ovular.

Se, pelo contrário, a violação é ambígua, ou "amigável", como sacrificar a vida de um inocente?Sobretudo quando esse inocente é o produto de uma violação-que-não-é-bem-uma-violação?

Já escrevi nesta Folha. Repito: sou contra a liberalização do aborto, exceto quando está em causa a saúde física e psíquica da mãe.E imagino que uma mulher violada --a sério ou a brincar-- não fica propriamente no seu melhor estado anímico. As palavras de Todd Akin são, por isso, duplamente aberrantes.

Mas o aborto, e a minha semana a pensar no assunto, não veio dos Estados Unidos. Veio de Portugal. Na imprensa lusitana, encontro notícia séria que merece reflexão séria: um pesquisador português, Jorge Martins Ribeiro, escreveu um estudo universitário sobre a paternidade.

Melhor: defendendo a possibilidade de um homem não reconhecer a paternidade de um filho nascido contra a sua vontade. O pesquisador português baseia-se na mais pura igualdade entre gêneros. E invoca a liberalização do aborto no país (desde 2007) em socorro das suas teses: se, em Portugal, a mulher pode decidir abortar até as dez semanas de gestação, independentemente da posição do homem sobre o assunto, por que motivo o homem não pode recusar a paternidade de uma criança?

O raciocínio de Martins Ribeiro é exemplar --e exemplar porque parte da mesma noção de "autonomia" que está no centro das discussões progressistas sobre 
o aborto.

É a mulher grávida quem decide o que fazer com a criança. Sempre. A opinião  do homem; os seus interesses; o desejo (ou não) de ser pai --tudo isso tem importância, digamos, conjugal ou sentimental.Mas nada disso determina o fim do processo. Porque a "autonomia" da mulher é sempre soberana.

Nenhum homem pode obrigar uma mulher a abortar.
 No esquema geral das coisas, o homem não passa de um doador de esperma que, depois do serviço, é atirado para as bordas do prato, assistindo a um filme onde ele será apenas ator coadjuvante.

Como? Perfilhando (obrigatoriamente) a criança e sustentando-a, caso a mãe decida tê-la.

O pesquisador Jorge Martins Ribeiro, com impressionante sensibilidade paritária, inverte as premissas tradicionais do debate e conclui: se um homem não pode obrigar a mulher a abortar, não pode também ser obrigado pela mulher a perfilhar uma criança que ele não desejou.

E mais: nem a autoridade do Estado pode invadir essa esfera de "autonomia" (masculina). O Estado não pode determinar que uma mulher aborte uma criança.

Como pode desencadear uma averiguação oficiosa de paternidade? 
Se o pai não quer ser pai, o filho será, literalmente, filho da mãe.

Claro que, no meio do debate, algumas consciências progressistas acabarão 
por apelar para "os superiores interesses da criança".

Curioso: quando é para abortar, não há "superiores interesses da criança"; quando o homem ameaça fazer as malas, a criança passa a ter "superiores interesses".

Nada disso perturba o raciocínio do nosso pesquisador. "Superiores interesses da criança"?

Diz ele: um sistema que já acomoda o aborto livre até as dez semanas pode perfeitamente conviver com filhos sem atribuição da filiação paterna.

Eis, no fundo, a beleza da "autonomia" progressista: todos sabemos 
como ela começa; ninguém sabe como ela acaba.

João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" ( editora Record). Escreve às terças-feiras na versão impressa do caderno Ilustrada do jornal "Folha de São Paulo", e a cada duas semanas nos site do jornal.