quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Liberdade para os viciados, moradores das nossas ruas



                                                                                                              
           
            O Poder Público, em vários lugares, tem assumido o encargo de internar compulsoriamente os viciados em drogas, que perambulam pelas ruas das cidades, empregando, para isso, todos os cuidados, entre eles os jurídicos. Várias opiniões e posicionamentos efusivos acerca desse fato têm sido publicados pela mídia.
            
Os mais ruidosos são os que se opõem à internação dessas pessoas. Alegam ser uma violência internar alguém e submetê-lo a um tratamento contra a sua vontade. Levantam bandeiras em defesa da liberdade que tais pessoas devem ter de escolher se querem, ou não, se submeter a tratamentos.
           
Os grandes e entendidos discutem entre si, mas a maioria da população se pauta pelo velho e bom senso comum, perpetuado ao longo da história da civilização ocidental amalgamada pela tradição judaico-cristã. Por ela já nascemos sabendo que os viciados são pessoas prisioneiras de determinadas substâncias cuja falta lhes proporciona um desconforto indizível, a ponto de trocar todos os seus valores para adquiri-la e consumi-la.
            
Começam dispondo de seus próprios recursos, que muito rapidamente se tornam incapazes de produzir; a seguir passam a usar os recursos das pessoas para as quais são importantes, e o próximo passo, quando já quase intratáveis, começam a praticar todas as ações que lhes possam garantir "sua preciosa" droga, ou seja, perdem todo e completo domínio sobre a própria vontade. Passam a viver nas ruas, expostos a cometer e serem vítimas dos crimes mais cruéis. Com que força poderão escolher a opção "ficar sem a droga"?
            A substância passa a ser o centro da vida do viciado, que abre mão de sonhos, amores e valores, principalmente da própria dignidade, ao entregar a ela todo o seu ser. Torna-se seu escravo de corpo, alma, mente e coração, só para ela vive, só ela, a droga é importante.
            
A defesa desta situação por pessoas consideradas cultas causa, no mínimo, espanto: Como pode alguém, em pleno século XXI, em sã consciência, defender a escravidão alheia?
            
Como se pode exigir que as leis condenem à prisão, e à morte ignominiosa, semelhantes seus? Sim, pois isso é o que defendem os que não querem a internação e tratamento, mesmo compulsório, das pessoas presas ao vício, perdidas nas ruas das cidades. Seria a condenação a uma vida extremamente dolorosa, que conduz a pessoa à morte iminente. Alguém que defende este tipo de vida gostaria de praticá-la?
            
Como é próprio da democracia, temos o dever de respeitar tais opiniões, porém, o bom debate democrático permite que lhes cobremos coerência, que o respeito ao direito que atribuem aos drogados de continuar a sê-lo, seja estendido aos outros cidadãos, os que dolorosamente convivem com eles, de também obedecer ao que lhes pede a consciência e encaminhá-los ao devido tratamento.
            
Assim também, quem considera uma violência a internação compulsória de drogados, deveria, seguindo a sua consciência, cuidar pessoalmente deles, assim, viciados e drogados, guardando todo respeito e munidos de toda paciência, além de, de todas as formas, se responsabilizar por todos os desatinos que eles venham a cometer. 
            
Uma vez que o Poder Público chama a si esta responsabilidade, cabe a nós, cidadãos, seguindo os critérios de nossa formação, auxiliar no que pudermos para tenha êxito, que consiga, graças ao uso de todos os recursos da modernidade e, principalmente os da atenção humana, libertar nossos irmãos das cadeias do vício e trazê-los a um saudável convívio conosco. Esta luta sim, podemos abraçar, é uma luta pela saúde.


 Publicado no jornal "Diário de Sorocaba" em 29/01/2013


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma nova revolução francesa?



                                                                                                                 
           
            Em maio de 1968 acontecia em Paris, França um movimento que assumiu proporções revolucionárias. Um caldeirão de novas ideias inspiradas por Marx e Freud levava os franceses a se rebelarem contra os valores que até então tinham regido a vida da Nação e do mundo ocidental.
            
Intelectuais como Jean Paul Sartre e Herbert Marcuse exerciam grande influencia, principalmente sobre os mais jovens que se interessavam sobre tudo o que fosse considerado diferente e inovador.
            
Desde então nunca mais o mundo foi o mesmo. Os que hoje têm mais de 40 anos fazem parte de uma geração que assistiu as transformações sofridas pelo ambiente social; a princípio aproveitando as novidades, para logo em seguida sofrer os efeitos da falta do cultivo de alguns valores imprescindíveis à existência dos seres humanos, se quisermos que seja a humanidade tal como foi até aqui.
            
A evolução (se é que pode ser considerada assim) trouxe uma nova maneira de ver os seres humanos, como desprovidos da alma espiritual. A alma confere uma dignidade toda especial às pessoas, cujos direitos sempre foram defendidos pelas leis e pelos costumes, apesar de que também esses direitos fossem agredidos ao longo dos tempos, tais agressões sempre foram assim consideradas: como agressões.
            
Os efeitos dessa nova visão do homem se fazem sentir: as autoridades, sempre combatidas por essa forma de pensar, estão se tornando inócuas e os costumes familiares, antes sagrados, hoje são vilipendiados. Os produtos do novo modus vivendi estão continuamente na mídia: a violência, de todos os tipos, grassa nos mais diversos ambientes. Todos se sentem vítimas e, portanto, com o direito de se rebelar contra alguém. O culpado é sempre outra pessoa. "O inferno são os outros", dizia Sartre.
            
Teria o nosso mundo passado a ser um inferno, onde cada um está cercado de "outros" por todos os lados?
            
Em 13 de janeiro de 2013, mais de 40 anos depois, Paris se enche de pessoas (os jornais dizem 350 mil, os organizadores, 800 mil) exigindo a retirada de um projeto de lei do Presidente François Hollande que autoriza o casamento gay e permite que casais de pessoas do mesmo sexo possam adotar crianças.
            
Este acontecimento induz à reflexão: do que se trata essa grande manifestação, num país que é considerado o precursor das ideias mais avançadas nos meio intelectuais?
            
A multidão que formava a manifestação era formada por famílias religiosas católicas, muçulmanas e evangélicas, e de políticos considerados conservadores. Um movimento chamado "Manif pour Tous" (Manifestação para Todos) os reunia. Todos têm o direito de se manifestar. Para tais pessoas esse direito passou a ser visto como um dever.
            
Segundo o jornal "Le Figaro", os organizadores do movimento leram um manifesto solene dirigido ao Presidente Hollande que, entre outras coisas, diz:
            
"O Senhor Presidente da República não pode ignorar esta multidão considerável que se levanta espontânea e pacificamente contra o projeto de lei  " casamento e adoção para todos" que resulta em um novo tipo de filiação, o de filhos de pessoas do mesmo sexo.
            
O Senhor Presidente da República, não pode ficar parado diante das inquietações cada vez maiores dos franceses que descobrem a verdadeira natureza do projeto de lei "casamento para todos".
            
O "casamento para todos", é a negação jurídica da realidade mais elementar da nossa humanidade, constituída de "homem e mulher", a única união naturalmente apta para gerar o ser humano.
            
Será o Senhor, o Presidente da República, quem vai decretar que se pode nascer sem homem ou sem mulher?
            
O "casamento para todos" é a introdução na nossa lei fundamental de uma discriminação entre seres humanos: os que vão nascer de um pai e uma mãe, e os que serão legalmente "nascidos" de dois pais ou de duas mães.
            
Senhor Presidente da República, será o Senhor quem vai abolir a igualdade de nascimento entre as crianças?"
            
Estamos diante de algo inédito e interessante. O povo francês, mais uma vez, assume a vanguarda da civilização humana? Teria ele observado antes dos outros países que o excesso de liberdade pode causar danos à igualdade dos seres humanos e principalmente à fraternidade, se o mundo continuar, como dizia Sartre, um inferno formado por outros, do qual Deus, o criador e mantenedor da vida, está, naturalmente, cada vez mais distante?

Artigo publicado no Jornal " Diário de Sorocaba" em 15/01/2013


domingo, 27 de janeiro de 2013

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus segundo a Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus, a Lola

Apresentamos o devocionário:




A Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus era mais conhecida como Lola.
          
  Como sinal de Deus entre nós, viveu cerca de 60 anos 
alimentando-se somente da Santíssima Eucaristia, objeto de 
sua constante adoração e alvo de pedidos de graças, em favor 
da Igreja e de cada ser humano, que ela amava com o 
profundo amor derivado do Coração de Jesus.
            
Neste livrinho queremos partilhar o que sabemos 
do longo caminho de graças por ela percorrido sem sair de 
seu leito de paralítica: o caminho da união com Deus por 
meio do Sagrado Coração Eucarístico de Jesus. Por Ele, 
com Ele e n'Ele, seu apostolado alcança cristãos de todo 
o planeta.

     Leia -o. Faça download ( clique na palavra download) imprima e 
distribua esse livreto, repartindo assim o conhecimento do 
que Jesus fez na vida desta brasileira, que viveu no interior 
de Minas Gerais durante o século XX.
Ele contém as mais lindas orações divulgadas por ela, e nos
ajudam a abrir o coração para receber as imensas maravilhas
que Deus quer que recebamos.






terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Franceses defendem o direito das crianças "de ter pai e mãe"



Uma multidão enfrenta frio de 4ºC para protestar contra projeto de lei que aprova casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por elas.
            
No dia 13/01/2013, em Paris, França, aconteceu uma grande manifestação contra um projeto de lei do governo do presidente François Hollande, que pretende legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e permitir que "casais homossexuais" adotem crianças ( Chamada de Lei "Casamento e adoção para todos").
            
O site La Manif Pour tous, da organização do evento, diz que cerca de 800 mil pessoas ( oficialmente os jornais dizem que foram 350 mil), vindas de todas as regiões da França, participam da manifestação, que tem o apoio da hierarquia católica, das famílias religiosas católicas, muçulmanas e evangélicas, de políticos chamados conservadores,  e até mesmo homossexuais que se opõem que essa lei entre em vigor.
             
O Jornal Francês Le Figaro ( 13/01/2013 à 17:10) publicou o manifesto ao Presidente François Holande, lido pelos organizadores do evento, que diz:

Texto lido pela humorista Frigide Barjot  em nome dos organizadores da marcha.

Apelo solene da "Manifestação para Todos" ao Presidente da República, pronunciado no Champ de Mars, em Paris, em 13 de janeiro de 2013, de todos os manifestantes, porta voz e coorganizadores.

"Senhor Presidente da República,
           
Nós, porta voz e organizadores do movimento "Manifestação para Todos" juntos numa só voz com centenas de milhares de cidadãos presentes no Champ de Mars neste domingo, 23 janeiro de 2013,  nos dirigimos solenemente ao Sr. para solicitar a  escuta e a compreensão do que o povo da Franca   vem pedindo durante quatro meses.
            
O Sr Presidente da República não pode ignorar esta multidão considerável que se levanta espontânea e pacificamente contra o projeto de lei  " casamento e adoção para todos" que resulta em um novo tipo de filiação, o de filhos de pessoas do mesmo sexo.
           
O Sr. Presidente da República, não pode negar a mobilização de pessoas eleitas pela Nação, vereadores e prefeitos – de direita, de esquerda e sem lado definido – todos guardiões do casamento civil que garante a filiação de cada pessoa.
           
O Sr. Presidente da República, não pode ficar surdo à  palavra de todos aqueles homossexuais que desejam promover o bem comum sem deixar a sua opinião seja ditada por  sua preferência sexual ou agir sob pressão de lobbies ultra-minoritários .
            
O Sr. Presidente da República, não pode ficar parado diante das inquietações cada vez maiores dos franceses que descobrem a verdadeira natureza do projeto de lei "casamento para todos".
            
O "casamento para todos", é a negação jurídica da realidade mais elementar da nossa humanidade, constituída "Homem e mulher", a única união naturalmente apta para gerar o ser humano.
Será o Sr. Presidente da República, quem vai decretar que se  pode nascer sem homem ou sem mulher?
           
O "casamento para todos" é a introdução na nossa lei fundamental de uma discriminação entre seres humanos: os que vão nascer de um pai e uma mãe, e os que serão legalmente  "nascidos" de dois pais ou de duas mães.
            
Sr. Presidente da República, será o Sr. quem vai abolir a igualdade  de nascimento entre as crianças?
            
O " casamento para todos" é também, em última análise, o apagamento dos homens, que são reduzidos a meros pais anônimos, e da subjugação das mulheres, que são levadas a alugar seus ventres.
            
O Sr. Presidente da República, será aquele que fundará juridicamente a abolição da paridade pai-mãe na educação de uma criança? O Sr. Presidente da República não pode correr este risco agravando ainda mais a precária situação da família  pelo desrespeito ao princípio da precaução.
            
O Sr. Presidente da República, do diálogo, da consulta popular, da democracia participativa, não pode negar a crescente demanda do debate livre da homofobia, que se expressa em todo o país através da proliferação de reuniões de cidadãos.
            
O Sr. presidente da República tem diante de si, aqui em Champ de Mars, uma grande representação do povo francês. O povo lhe solicita, Presidente da República, que suspenda  sem demora o projeto de lei de "casamento para todos" que divide profundamente a França.
           
O povo lhe pede  hoje  que convoque os Estados gerais dos direitos da família, nascimento, casamento e filhos , e que, num gesto de reconciliação nacional, receba amanhã no Palácio de l'Eysée  os que a França envia pacificamente diante do Sr."






Fontes:  sites:
 La Manif Pour Tous :http://live.lamanifpourtous.fr/
                                           

Nota: Todas as fotos são do site La Manif Pour tous, disponíveis em 13/01/ 2013 às 15h.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Vargas Llosa e Sartre

O jornal O Estado de São Paulo de hoje, 13/01/2013 trouxe um excelente artigo de Mario Vargas Llosa, http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sartre-e-seus-ex-amigos-,983747,0.htm.

Quem respeita e estima a própria inteligência e preza sua dignidade, como ser humano, com certeza vai apreciar o que disse esse conhecido escritor a respeito dos primeiros anos de sua vida intelectual . Diz como foi enganado por um pensador que hoje, na maturidade da evolução intelectual sabe adjetivar o famoso "pensador" com termos mais precisos.

"Arthur Koestler pensou em Sartre quando disse que um intelectual, sobretudo na França, era alguém que acreditava em tudo aquilo que podia demonstrar e que demonstrava tudo aquilo em que acreditava. Ou seja, um sofista." (grifos nossos)


Sartre e seus ex-amigos

13 de janeiro de 2013 | 2h 07
Eu arrumava meu escritório quando um livro caiu de uma estante aos meus pés. Era o quarto volume da série Situations (1964) que reúne artigos e ensaios curtos de Sartre. O livro estava repleto de anotações que fiz quando o li, no mesmo ano em que foi publicado. Comecei a folheá-lo e passei o fim de semana relendo-o. Foi uma viagem no tempo e na história, uma peregrinação à minha juventude e às fontes da minha vocação.

Os livros e as ideias de Sarte marcaram minha adolescência e meus anos de universidade desde que descobri seu livro de contos O Muro, em 1952, meu último ano de colégio. Devo ter lido tudo o que ele escreveu até 1972, quando concluí, em Barcelona, os três densos tomos dedicados a Gustave Flaubert (O Idiota da Família), outra obras que deixou incompleta, como os romances de Os Caminhos da Liberdade, e o seu trabalho para fundir o existencialismo e o marxismo, Crítica da Razão Dialética, cuja síntese final, prometida muitas vezes, nunca escreveu.

Depois de 20 anos lendo e estudando Sartre com verdadeira devoção, acabei decepcionado com seus vaivéns ideológicos, suas grosserias políticas, sua logomaquia, e convencido de que teria sido mais proveitoso consagrar o esforço intelectual dedicado às suas obras de ficção, seus calhamaços filosóficos, suas polêmicas e seus ditames arbitrários, a outros autores, como Popper, Hayek, Isaiah Berlin ou Raymond Aron.

Contudo, confesso que foi uma experiência estimulante - e um pouco melancólica - a releitura das suas discussões com Albert Camus em 1952, sobre os campos de concentração soviéticos, da sua lembrança e empenho para reabilitar Paul Nizan, em março de 1960, e do longo epitáfio (quase uma centena de páginas) que dedicou à memória do seu companheiro de estudos, aventuras políticas e editoriais, amigo e adversário, o filósofo Maurice Merleau-Ponty (1961).

Sartre adorava a polêmica e a sua prosa, sempre inteligente, mas seca e áspera, nos debates se inflamava, brilhava e o seu afã de aniquilação conceitual do seu antagonista era insaciável. Simone de Beauvoir não se equivocou ao afirmar que ele era "uma máquina de pensar", mas acrescentou que esse intelecto desmedido, essa razão "raciocinante" podia ser também, em algum momento, fria e desumana. Lida hoje, não há a menor dúvida que sua resposta a Camus foi equivocada e injusta e que foi o autor de O Estrangeiro que defendeu a verdade, ao condenar a morte lenta, pelo stalinismo, de milhões de soviéticos no Gulag, quase sempre por causa de suspeitas infundadas de dissidência.

Retórica. Camus defendeu a verdade também ao afirmar que toda a ideologia política desprovida de sentido moral se converte em barbárie. Mas, ainda assim, os argumentos oferecidos por Sartre, apesar do caráter capcioso e sofismático, são expostos de maneira tão esplêndida, com uma retórica tão astuta e persuasiva, tão bem coordenados e ilustrados, que suscitam a dúvida e semeiam a confusão no leitor. Arthur Koestler pensou em Sartre quando disse que um intelectual, sobretudo na França, era alguém que acreditava em tudo aquilo que podia demonstrar e que demonstrava tudo aquilo em que acreditava. Ou seja, um grande sofista. 

A evocação de Paul Nizan (1905- 1940), seu discípulo no liceu Louis Le Grand e na Escola Normal Superior, unidos por uma amizade tempestuosa, é magnífica e comovedora. Filho de um operário bretão que graças ao seu talento recebeu uma educação esmerada, Nizan foi muitas coisas - dândi, anarquista, autor de panfletos às vezes disfarçados de romances que seduziam pela violência intelectual e força expressiva - até se converter num disciplinado militante do Partido Comunista. Quando a URSS firmou um pacto com a Alemanha nazista, Nizan desligou-se do partido e criticou duramente a aliança. Pouco depois, no início da Segunda Guerra Mundial, morreu em consequência de uma bala perdida. Mas sua verdadeira morte foi a hedionda campanha de descrédito levada a cabo pelos comunistas para aviltar sua memória.

Camus rompeu com Sarte por causa da aproximação deste com o Partido; Nizan, por causa das divergências e reticências em relação a ele. Em seu ensaio, que serviu de prólogo para o livro de Nizan, Aden Arabie, Sartre faz um relato muito vivo da fulgurante trajetória desse companheiro que parecia destinado a ocupar um lugar proeminente na vida cultural e que morreu daquela maneira trágica aos 35 anos. Ao passo que, quando refuta Camus, aparece como um perfeito companheiro de viagem, em que se dedica a defender a vida e obra de Nizan, Sarte é um debelador implacável do sectarismo dogmático que cobria seus críticos de calúnias infames e preferia desqualificá-los moralmente em vez de responder aos seus argumentos com argumentos. O ensaio é também uma premonição do que poderíamos chamar de espírito de maio de 1968, pois nele Sarte propõe que Nizan se torne um exemplo para as novas gerações, pois foi capaz de romper com os padrões ideológicos e as convenções e esquemas da esquerda francesa e buscar por conta própria e através da experiência vivida um plano de ação - uma práxis - que aproximasse o meio intelectual dos setores explorados da sociedade. 

O ensaio sobre Merleau-Ponty também é uma autobiografia política e intelectual, um relato dos anos que compartilharam, como estudantes de filosofia na Escola Normal Superior, o descobrimento da política, do marxismo, da necessidade do compromisso e, principalmente, a tomada de consciência do ódio que o ambiente burguês, do qual ambos provinham, lhes inspirava. Este ódio está impregnado em todas as frases deste ensaio e poderíamos dizer que, com frequência, antes das ideias e raciocínios e antes também da solidariedade para com os marginalizados, é este ódio que leva os dois amigos a determinadas posições e pronunciamentos. Sarte é muito sincero e não precisa muito para reconhecer que, para ele, o objetivo primordial da revolução é acabar com essa classe social privilegiada, dona do capital e do espírito, na qual ele nasceu e contra a qual nutre uma fobia patológica. Neste ensaio aparece a famosa afirmação sartreana - "Todo anticomunista é um cão" - que levou Raymond Aron a perguntar a Sartre se era caso de considerar a humanidade um canil.

Irreversível. Merleau-Ponty foi o último dos intelectuais de alto nível com os quais Sartre fundou Les Temps Modernes a se desligar da revista que durante anos foi para muitos jovens da minha geração uma espécie de Bíblia política. A partir do afastamento de Merleau-Ponty, nos anos 50, ficaram com Sarte apenas os incondicionais que, durante toda a Guerra Fria, aprovariam suas idas e vindas e suas contradições às vezes delirantes nesse imbróglio sadomasoquista em que ele viveu até o final com todas as variantes comunistas (incluindo a China da revolução cultural). 

Este ensaio impressiona porque mostra a fantástica evolução da Europa neste meio século depois que foi escrito. Quando Sartre o publicou, a União Soviética parecia uma realidade consolidada e irreversível. A impressão geral era de que a Guerra Fria se transformaria a qualquer momento numa guerra abrasadora e, embora Sartre e Merleau-Ponty tivessem posições divergentes sobre muitas coisas, ambos estavam convencidos de que a terceira guerra mundial seria inevitável e que, ao irromper, o Exército soviético em breve ocuparia toda a Europa ocidental. 

A política arrebata até a medula a vida cultural em todas as suas manifestações e os extremos deixam um pequeno espaço para um centro democrático e liberal que tem poucos defensores no mundo intelectual. 

Sarte e Merleau-Ponty não só consideram de Gaulle e a Quinta República representantes de um fascismo ressurgente como os Estados Unidos um novo nazismo. Semelhante disparate naqueles anos de esquematismos e intolerância era comum. É assustador o fato de pensadores que considerávamos os mais lúcidos do seu tempo se deixarem cegar a tal ponto por preconceitos políticos. 

Mas apesar das viseiras ideológicas, aqueles debates têm algo que hoje foi varrido, de um lado, pela banalidade e frivolidade, e de outro pelo obscurantismo acadêmico: a preocupação com os grandes temas da justiça e injustiça, como conciliar o conteúdo real da liberdade com a justiça e impedir que seja apenas uma abstração metafísica, etc. Hoje os debates intelectuais têm um horizonte muito limitado e transpiram uma secreta resignação conformista, uma noção de que aquelas utopias à época de Sarte e Camus foram erradicadas para sempre da história. Nos tempos atuais, em se tratando de política, é proibido sonhar e somente são permitidos os sonhos literários e artísticos.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Transverberação : o coração incandescido pelo amor de Deus


Nesta visão o Senhor quis que assim o visse: não era grande,
senão pequeno, formosíssimo, o rosto tão incendido, que deveria ser dos anjos 
que servem muito próximo de Deus, que parecem abrasar-se todos. Presumo
que seja dos chamados querubins, pois eles não me dizem seus nomes. 
Bem vejo que no céu há tanta diferença de uns anjos para outros, e destes
para outros ainda, que não saberia nomear.

Via-lhe nas mãos um comprido dardo de ouro. Na ponta de ferro 
julguei haver um pouco de fogo. Parecia algumas vezes metê-lo pelo
meu coração a dentro, de modo que chegava às entranhas. Ao tirá-lo
tinha eu a impressão que as levava consigo, deixando-me toda abrasada
em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor que me fazia dar os gemidos
de que falei.

Essa dor tão intensa produz excessiva suavidade que não se deseja o seu fim,
nem a alma se contenta com menos do que com Deus. Não é dor corporal, senão 
espiritual, ainda que o corpo não deixe de ter sua parte, e até bem grande. 
É um trato de amor tão suave entre a alma e Deus, que suplico à Sua Bondade  o dê 
a provar a quem pensar que minto.

Santa Teresa de Ávila - História da Vida - São Paulo, 1983 - Ed. Paulus




terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Liberdade para a inteligência ou a inteligência em harmonia com Deus.

Este artigo é uma pérola.

Faz um bem enorme à humanidade libertando as inteligências das armadilhas
elaboradas por mentes também inteligentes que procuram se abster de Deus.

Ninguém precisa dizer a um cristão, principalmente católico, que o uso da 
inteligência à revelia de Deus, o Criador, é uma atitude diabólica e portanto,
produz sempre antídotos  à alegria do crescimento na verdadeira evolução
do ser humano criado à semelhança de Deus.

Um artigo como este leva pessoas a experimentar o uso de suas inteligências
livres de postulados impostos por pessoas que gastam suas vidas e capacidades
tentando ludibriar a Verdade por meio de malabarismos de raciocínios com o 
objetivo de isolar Deus , engessá-lo e impedir que atue sobre a Sua própria 
criação. Conscientes ou não, querem usurpá-la  para dela se tornarem senhores.
Agem como  adolescentes, embora não o sejam cronologicamente,  que acreditam 
que, para se afirmarem como pessoas, é preciso contradizer os pais.

O Prof. Felipe Aquino é doutor em engenharia mecânica pela UNESP e Mestre 
na área pela UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá), também foi Diretor da 
FAENQUIL, atual Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP) durante 20 anos. 
É, portanto uma pessoa à altura de debater o tema.



A vida humana pode ter surgido sem Deus?
Prof. Dr. Felipe Aquino*

       Alguns cientistas ateus tentam usar a Ciência para provar que ou Deus não existe e/ou que não precisamos Dele para explicar a origem do Universo e da vida humana. Fazer isso é manipular a ciência. Nenhuma de suas teses e proposições são satisfatórias, pois Deus está numa dimensão além da ciência. Até hoje ninguém conseguiu explicar a origem da vida, e o que ela é. Um mistério de Deus.
       O físico Marcelo Gleiser, ateu confesso, que escreve na Folha de São Paulo, mistura suas crenças ateias com a astrofísica e apresenta uma cosmovisão suspeita, empurrando a física para o lado do ateísmo, ideologicamente.
       Em recente entrevista à TV Bandeirantes, ele tentou mostrar que a ciência pode explicar a origem da vida humana, pelo “Princípio da Incerteza”, mas caiu no vazio como os demais. Ora, o que ensina esse Princípio?
       Este Princípio da Física, é a base da mecânica quântica e foi formulado em 1919 pelo físico alemão Werner Heisenberg; afirma que não é possível ter simultaneamente a certeza da posição e da velocidade de uma partícula e que, quanto maior for a precisão com que se conhece uma delas, menor será a precisão com que se pode conhecer a outra. A teoria do quantum de Max Planck ajudou a entender o porquê disso. Dr. Planck, Prêmio Nobel de física,  estudou profundamente o assunto. É bom  dizer que tanto Heisenberg como Planck acreditavam em Deus e eram crentes. É pena que Marcelo Gleiser, que aprendeu com eles a física, não tenha aprendido religião. Heisenberg foi Prêmio Nobel de física em 1932 e disse:
"Creio que Deus existe e que dEle procede tudo. A ordem e a harmonia das partículas atômicas têm que ter sido impostas por alguém.” (HEISENBERG, Werner K., dito em Madrid, 1969. Físico, Nobel de 1932).
Max Plank (1858-1947), físico, alemão, criador da teoria dos quanta, Prêmio Nobel 1928, disse:
“Para onde quer que se dilate o nosso olhar, em parte alguma vemos contradição entre Ciências Naturais e Religião; antes, encontramos plena convergência nos pontos decisivos. Ciências Naturais e Religião não se excluem mutuamente, como hoje em dia muitos pensam e receiam, mas completam-se e apelam uma para a outra.  Para o crente, Deus está no começo; para o físico, Deus está no ponto de chegada de toda a sua reflexão. (Gott steht für den Gläubigen em Anfang, fur den Phystker am Ende alles Denkens)”.
Posso ainda citar o Dr. Schrödinger (1887- 1961), criador da mecânica ondulatória, Prêmio Nobel 1933:
“A obra mestra mais fina é a feita por Deus, segundo os princípios da mecânica quântica…”.
Fiz meu doutorado em ciências exatas no ITA e na UNESP, e pude estudar física quântica, cálculo tensorial de Einstein, mecânica relativística, Teoria cinética dos gases, etc., e não encontrei a mínima base científica no que Gleiser colocou para explicar a origem da vida e do Universo pelo Princípio da Incerteza de Heisenberg.
Para Gleiser a vida humana teve origem por acaso, e não  tem como fator inicial a origem de vida inteligente. Tudo é obra do senhor Acaso, cego e impotente, como se fosse um ser inteligente e organizador. É lamentável que um cientista moderno, que escreve em um grande Jornal, ainda apele para o senhor Acaso. O Dr. Adolf Butenandt, Prêmio Nobel em Química, em 1938, por seu trabalho sobre os hormônios sexuais, disse que:
 “Com o átomos de um bilhão de estrelas, o acaso cego não conseguiria produzir sequer uma proteína útil para a vida”. (“A Criação não é um mito” , Domenico E. Ravalico, Ed.Paulinas, SP, 1979).
Desde já eu contraponho à tese do Dr. Gleiser, a palavra do maior cientista em biotecnologia dos tempos modernos, Dr. Francis Collins, Diretor do Projeto Genoma Humano, o maior empreendimento em biotecnologia do mundo. Dr. Francis Collins, que é biólogo, físico, químico e médico, foi um dos responsáveis por um feito espetacular da ciência moderna: o mapeamento do DNA humano, em 2001. Foi o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo. Ele escreveu o livro “The Language of God” (A Linguagem de Deus), onde conta como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos 27 anos.
Dr. Collings enfrenta os famosos cientistas ateus como Richard Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris, dizendo:
Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança...”. (VEJA, Edição 1992 de 24 de janeiro de 2007). 
Chega a ser ridículo um físico moderno apelar para o Acaso para explicar a origem do universo e da vida.
Sabemos que o Universo teve origem com o Big Bang, melhor entendido hoje como uma “Big expansion” conduzida por Deus milimetricamente para chegar até o homem; como mostra hoje o “Principio Antrópico”. O Big Bang foi uma genial descoberta do Padre belga Dr. George Lamaitre, amigo de Einstein, que disse-lhe ser “a melhor explicação para a origem do Universo”. Einstein também acreditava em Deus, e dizia que “Deus não joga dados”; isto é, nada é obra do Acaso.
Os físicos do CERN, o maior acelerador de partículas nucleares já criado, a maior maquina humana já construída que custou mais de dez bilhões de dólares, comprovaram a realidade do Big Bang com a descoberta do bóson de HIggs. Os físicos modernos dizem que o Big Bang é a expansão de uma partícula de tamanho quase zero, mas que carrega uma massa e uma energia tão grande que é imensurável. Ora, quem poderia gerar isso senão Deus. Tudo o que existe fora do nada é obra de Alguém.  O que existe atrás do “muro de Planck” – o que está antes do Big Bang -  ninguém sabe, só Deus.
O Dr. Marcelo Gleiser defende a origem do Big Bang como produto mecânico da energia vital, uma energia que seria origem do ponto ou núcleo que deu origem a expansão do Universo. Mas ele não consegue explicar quem e como surgiu esse núcleo extremamente pequeno de massa e energia infinitas. Apela para o Acaso, uma fuga, e se refugia no Princípio de Heisenberg, outra fuga.
Viemos sim do “pó das estrelas”, mas criados por Deus.

*Prof. Felipe Aquino é doutorado pela UNESP, escreveu 73 livros e recebeu do Papa Bento XVI em 6/2/2012 o título de Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno.

Entrevista completa com Marcelo Gleiser na Band (dia 22/07/12)



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Gustavo Corção e o Século do Nada


Faz algum tempo "conheci", pela internet, Gustavo Corção.


Primeiro li  o "Três alqueires e uma vaca" , de que já havia
ouvido falar quando muito jovem.

Procurando mais sobre ele encontrei o "Século do Nada".
Para usar a mesma expressão de Corção a respeito de Chesterton em 
Três alqueires, esse livro parece que foi escrito "para mim".
Ele responde a todas as minhas perguntas a respeito das agressões que a 
Mãe Igreja vem sofrendo nos últimos anos e que tanta dor 
tem causado aos que amam ao Deus  das Santas Teresas, Catarina de Sena 
Santo Agostinho, São João da Cruz e outros tantos queridos, nossos mestres.

Partilho com vocês esse link, onde o encontrei. Ele não está à venda nas livrarias:


Acredito  que esta é uma oportunidade para se saber a origem e razão
de tanto desvario  que temos  dolorosamente visto, graças ao estudo 
e dedicação de um católico fervoroso e grandiosamente culto. 

Quem puder leia o livro todo, mas somente a introdução já é um grande 
ensinamento.A sua leitura proporciona uma doce calma na alma, alimentada 
com a Verdade,mesmo que dolorosa. 

A Verdade liberta os filhos de Deus. Entender a razão do sofrimento fortalece, 
e dá mais sabedoria e eficácia na luta pelo Reino de Deus, onde, e somente 
onde ele acontece, o católico pode soltar o seu espírito e dar vazão à toda vida nele aprisionada pelos que querem um mundo sem Deus.

Louvado seja Deus!