segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Nossa Padroeira





          por Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, Arcebispo de Sorocaba.
Artigo publicado na edição impressa do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba,SP, e disponível em: http://www.cruzeirodosul.inf.br/acessarmateria.jsf?id=410253



No próximo dia 15, aniversário de criação do povoado de Sorocaba em 15 de agosto de 1654, celebramos a festa de Nossa Senhora da Ponte, cuja imagem, chegada ao Brasil em 1771, é um símbolo expressivo da presença da Mãe de Deus em nossa Igreja e na alma de nosso povo.

Invocar Nossa Senhora como “da Ponte”, qualquer que seja a origem dessa devoção, nos remete ao lugar ocupado pela mãe de Jesus, na obra de nossa Redenção.

Não há como evitar que nos venham à mente todos os momentos narrados no evangelho da participação de Maria na missão salvífica de Jesus.Jesus é o Sumo Pontífice, ou seja, a grande Ponte entre o céu e a terra, vale dizer entre o Pai e a humanidade. Mas para fazer a passagem, para ser o Pontífice dos bens futuros, o Verbo deveu nos chegar pelo ventre de Maria de quem o Pai, pelo ministério do arcanjo Gabriel, aguardou a resposta: “faça-se em mim segundo a tua palavra”. E, então, “o Verbo se fez Carne  e habitou entre nós.”

Desde então a mãe esteve unida ao Verbo feito carne no operar a salvação da humanidade. É impossível também não recordar o episódio das bodas de Caná quando Maria, sentindo a aflição da família que celebrava as bodas de seu filho, se dirigiu a Jesus, dizendo: “eles não têm mais vinho”. Jesus pergunta “o que a mim e a ti, mulher?”(em tradução literal). E logo depois afirma: “Ainda não chegou a minha hora”. Mas Jesus faz o milagre e salva a festa.

O sentido, entretanto, da pergunta de Jesus “o que isso tem a ver conosco” (tradução pelo sentido) com a sequente afirmação “ainda não chegou a minha hora” revela que entre a “Mulher”, Maria, e Ele existe uma relação muito profunda que vai se revelar quando chegar a “Hora”. Quando chegou a “Hora” -- é o mesmo evangelista João que narra -- lá estava a ”Mulher”, de pé ao pé da Cruz. Foi quando Jesus lhe disse: “Mulher, eis aí o teu filho”, e, dirigindo-se logo ao discípulo,: “Eis aí tua mãe”. Como não ver na expressão “Mulher” uma referência ao texto de Gênesis 3,15: “porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela”?

A Virgem Maria é a primeira resgatada por Cristo, preservada do pecado para unir-se a Ele na nossa salvação, participando do resgate de toda a humanidade, representada por João ao pé da cruz, a ponto de ser proclamada, pelo próprio Cristo, mãe dos resgatados, no instante mesmo em que o redentor consumava sua existência salvífica.

Os padres da Igreja - primeiros escritores cristãos - chamaram Maria de “a Nova Eva” e São Bernardo, com muita acuidade, ao comentar a lancetada que transpassou o coração de Cristo, já morto, viu-nos nascer, como filhos de Deus, também do coração de Maria, onde somente de fato foi sentida a dor que rasgara o coração do crucificado.
Se a Igreja nasceu do coração transpassado de Cristo, donde jorrou sangue e água, símbolos do batismo e da eucaristia, todos nascemos também do coração de Maria que, ali estava de pé, em atitude de total entrega com Jesus à vontade do Pai.

A Igreja Católica, firmada, nas Escrituras, representa Maria Santíssima, com muitas imagens, ora apresentando suas virtudes e sua participação singular na obra de nossa redenção, ora representando suas manifestações extraordinárias na vida do povo cristão. O primeiro fruto da redenção de Cristo, operada na Cruz, foi a redenção de Maria, por preservação do pecado original, e o fruto final, sua glorificação pela assunção, em corpo e alma, aos céus.

O caminho e o destino final da humanidade de Jesus são também o caminho e o destino final dos que o seguem. Em Maria tudo acontece com total perfeição, e por primeiro. A ressurreição de Jesus foi vivida por ela com a mesma intensidade com que viveu seu sacrifício redentor ao pé da cruz. Não houve aparições de Jesus ressuscitado a Maria.

Ela viveu em sua alma a ressurreição de Jesus no mesmo instante em que Ele ressuscitava. Sua alegria foi intensa, mais plena ainda do que aquela vivida quando do mistério da encarnação do Verbo pela atuação do Espírito Santo. Sustentou os apóstolos na expectativa da vinda do Espírito Santo (At 1,14) e, com certeza, esteve com eles, animando-os, nos inícios da missão.

Unida ao Cristo no caminho de sua existência terrena como mãe e como singular cooperadora, a Ele está unida, plenamente remida, na glória do céu, onde nos precedeu e de onde nos acompanha com sua intercessão permanente.

Se Cristo intercede permanentemente por nós, com certeza ela o acompanha também nessa intercessão, como o acompanhou até o ato extremo de amor com que Cristo se ofereceu por nós na Cruz.

No próximo dia 15 estaremos celebrando na Catedral a festa de Nossa Senhora da Ponte que esteve visitando as paróquias de nossa Arquidiocese. Sua imagem lembra-nos sua presença de mãe na vida de nossa Igreja e de nossa cidade.Que Ela, a Mãe, abençoe seu Povo!


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