terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Azur e Asmar






Resenha do filme de animação: As aventuras de Azur e Asmar, do diretor Michel Ocelot, lançado na França em 2006, com o título original Azur et Asmar


Desde o início, o filme já mostra a evidência das diferenças entre os praticamente recém-nascidos
Azur e Asmar. O primeiro, apesar de ter nascido em uma família rica de uma cidade europeia, já nasceu carente, pobre e necessitado de afeto uma vez que seu pai, seguindo a sua cultura, não era afeito a demonstrações de afeto, principalmente quando se sentia atingido pela perda irreparável da esposa.

O segundo carecia da presença paterna, embora o carinho da mãe fosse suficiente para suprir essa falta, a ponto dele não se importar em dividi-lo com o pobre Azur. O amor que recebia era tão farto que podia dividi-lo generosamente. Jenane, mãe de Asmar e babá de Azur, jamais demonstrou nenhum complexo de inferioridade por exercer uma função servil em relação a seu patrão. Exercia sua função com maestria e a perfeição possível, como se fosse a melhor e mais importante. 

Até que chegou o momento em que o pai de Azur foi tomado de ciúme, por considerar que seu filho amasse mais a babá, seu filho e a cultura dela do que a ele próprio e a sua. Acreditando que a presença  dela e a de seu filho fossem nefastas a Azur, e,  se sentindo uma vítima porque tinha seu filho “roubado por sarracenos”, expulsou-os de suas terras, sem menor a consideração. Depois disso entregou seu filho para que fosse ensinado na sua cultura pelos que seriam considerados “sargentos”,na visão de Saint-Exupéry no seu livro “Cidadela".

Como era de se esperar, assim que pode, Azur correu atrás das delícias intangíveis da cultura de sua babá, onde tinha ancorado seu sentido para a vida.
Nas agruras do começo, não se exasperou, compreendeu que o rejeitavam por superstição.O filme mostra que ele usou bem os conhecimentos de sua cultura para adquirir itens necessários para a subsistência e também, alguns que seriam usados para a conquista da Fada dos Djins.

A entrada da personagem Crapoux é muito significativa, ela parece mais uma figura de muitos discípulos da Escola de Frankfurt, que especialistas em crítica, diminuem tudo o que não podem alcançar, roubam os que dizem ajudar e ainda desejam o seu afeto e consideração. Azur, considerava todos os adjetivos que cabiam no novo “amigo” e, ainda assim, não o rejeitou e soube fazer bom uso dos benefícios que dele vinham.

Na sequência, Jenane, a babá, havia se transformado em rica comerciante e fazia questão de dizer que não endossava as superstições de seu povo, mostrava bem que enriquecera usando os conhecimentos adquiridos na Europa, e que, os reconhecendo e fazendo bom uso deles, beneficiava a si mesmo e aos que participavam da sua escalada na conquista da riqueza material, que continuava infinitamente menor que sua riqueza espiritual, cada vez maior e livre de preconceitos.

Graças ao uso das duas riquezas ela pode ver seus dois filhos (porque como tal considerava Azur sem diminuir em nada seu amor por Asmar), unidos, vitoriosos e felizes, tudo o que deseja uma mulher que vive em comunhão e harmonia com a própria natureza. 

É lindo ver como o filme aborda, de maneira elegante, o convívio de pessoas de diferentes culturas, de conceitos diversos que, sabendo evoluir dentro da própria cultura,  valorizando seus próprios valores intangíveis, aprendem a respeitar e considerar a cultura e os valores de seus semelhantes. Porque são capazes de sentir a dor causada pela agressão a seus valores sagrados, sabem respeitar o que não conseguem compreende; são capazes de sentir o que pode ser sagrado para o outro e, portanto, também de respeitar e até admirar.

Pessoas assim encontram seu prazer em beneficiar, em usar seus conhecimentos para ajudar aos outros a tingir os próprios objetivos.   No filme, além, de Jenane havia também o sábio judeu e a princesinha, que embora pequena, era rica em conhecimentos, mesmo que tenham sido adquiridos por meio de “sargentos”; seu coração era vivo o suficiente para bem usá-los.

Um filme que enriquece. 


































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