quarta-feira, 13 de abril de 2016

Barbarismo



Oh dor!
Quando avaliamos ser grande a nossa perda, constatamos, assombrados, que existe quem a queira muito maior.

 A manhã chegou com uma dolorosa surpresa. O principal quadro da obra de Bruno de Giusti, na Catedral de Sorocaba,  sofreu um ataque de vandalismo.

O jornal “Cruzeiro do Sul” de hoje, 13/04/2016, mostra o ataque que atingiu o quadro da multiplicação dos pães e dos peixes, do artista ítalo-sorocabano Bruno de Giusti. Quadro recém submetido a um trabalho de restauro  e de cuidados  para sua preservação. 

Fiz o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de Jornalismo, na UNISO (Universidade de Sorocaba), sobre a obra do artista na Catedral.  Pelo que aprendi ao longo de uma vida no catolicismo, com o gosto pela arte, especialmente a sacra, e o que foi aprendido com os estudos e pesquisas, a obra de Giusti conjuga e harmoniza conteúdo e forma, comunicação e arte. É um verdadeiro tesouro cultural contido em um acervo extremamente democrático, uma vez que qualquer pessoa pode ter acesso a  tais obras, sem menor a restrição.  Ele  pertence ao povo de Sorocaba, 

O estado lamentável dos afrescos das capelas laterais evidencia a  necessidade de um sério trabalho de restauro, no qual a pintura original do artista, ressurja de debaixo de várias camadas de possíveis pinturas sobrepostas. Mas parece que, pelo estado em que agora se encontram, algumas estejam quase sem condições de serem restauradas. Muito especialmente o de Nossa Senhora Aparecida, tão significativo para o catolicismo, a cultura de berço do povo sorocabano. 

A fácil acessibilidade talvez tenha sido o calcanhar de Aquiles, responsável pelo imenso dano. Ter obras valiosas assim expostas, em tempos atuais, é mesmo muito perigoso. É importante registrar porém, que tal ato de vandalismo não combina com a população que frequenta a Catedral para fazer orações, e que se beneficia das  obras de Giusti como inspiração.  Não combinam também  com os mendigos que ali entram, e circulam, sem menor a cerimônia, como pequeninos na casa do Pai rico.  Tal barbarismo é próprio de um tipo de  black bloc que deseja protestar contra Deus. Tudo o que exalta Seu valor e eleva a alma humana, causa-lhe dor tão grande que sente necessidade de destruir. Lamentável ato de quem deseja ter Deus banido.  Ou então, pior ainda, seria coisa de um fundamentalismo bárbaro, o mesmo que parece acometer integrantes do "Estado Islâmico",  que andam destruindo patrimônios culturais da humanidade, em diversos lugares.

Nunca precisamos tanto da misericórdia divina!

P. S. O texto atribuído a mim nas aspas da reportagem do “Cruzeiro do Sul” não é de minha autoria. O que escrevi e publiquei sobre a obra de Giusti pode ser lida e vista  partir do seguinte seguinte link:



"Para aqueles que emigraram para a morte, essa aldeia era como uma harpa.Todas as coisas tinham o seu significado: árvores, fontes, casas. E cada árvore com a sua história, diferente da outras árvores. E cada casa com os seus costumes, diferente das outras casas. E cada muro diferente dos outros muros, por causa dos seus segredos. Quando caminhas, vais compondo o teu passeio como uma música, extraindo o almejado som de cada um dos passos. Mas o bárbaro acampado não sabe fazer cantar a tua aldeia. Aborrece-o essa proibição de penetrar nas coisas e acabam por te desmoronar as paredes e dispersar os objetos. Por vingança contra um instrumento de que não se sabe servir, ateia o incêndio, que ao menos lhe paga com um pouco de luz. Depois desanima e começa a bocejar. Para a luz ser bela, é preciso conhecer até o que se queima. Aí tens a chama do círio que acendes ao teu Deus. Mas ao bárbaro, nem a chama da tua casa dirá coisa alguma, pois não é chama do sacrifício.” - Saint Exupéry, em “Cidadela" -

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