Pré-banca de TCC – trabalho de
conclusão de curso- na universidade. Antes do nosso foi apresentado um trabalho
sobre prostituição, depois do nosso seria um sobre pedofilia.
Quando o nosso foi anunciado,
sobre o catolicismo, houve um ensaio de deboche feito pelos professores da
banca que "brincando" disseram: prostituição, pedofilia,
catolicismo... Quando eu disse: viva a democracia e a pluralidade sorrisos
sumiram.
Os dois trabalhos, sobre prostituição
e pedofilia faziam alusões à Igreja Católica, em ambos, de forma desabonadora.
Procuramos fazer um relato do que
é o catolicismo dentro do mais rigoroso espírito científico, citando Einstein,
Pascal, Galileu Galilei, Chomsky, Skinner, Morin e Maffesoli para dar respaldo
ao que diz a bíblia e o Catecismo da Igreja Católica, que a orientação insistia
que não deveriam ser usados por serem "livros de fé". Para poder
incluí-los no trabalho usamos o argumento de que falar do catolicismo sem usar a
bíblia e o catecismo seria, para o jornalismo, o mesmo que fazer uma matéria
sobre determinada pessoa viva sem entrevistá-la, baseada somente no outros
disseram sobre ela.
Os três
professores da banca viram no trabalho uma defesa do catolicismo, disseram que
falamos demais. Houve um que ficou irritado com o que dissemos no trabalho (apoiadas
em Maffesoli), que para se entender o catolicismo era preciso vê-lo com olhos
de quem considera o intangível, que é parte integrante do universo católico e
norteia toda a sua doutrina e código de conduta de quem queira ser católico.
Esse professor se mostrou educadamente irritado; disse que queríamos impor o
nosso modo de pensar ao mundo ao obrigar que se tenha um posicionamento
específico para observar o catolicismo, perguntou por que nós não nos
colocávamos na posição dos que eram alvo do trabalho, no caso eles, componentes
da banca, a Academia, o reino do livre pensamento. Perguntou também se o jornal
católico, alvo de nossa pesquisa, dava espaço para pensamentos diferentes dos
católicos, apesar de já ter ficado claro que se tratava de um jornal dirigido a
um público segmentado, o público que professa a fé católica.
Tivemos grande dificuldade para
dizer que tudo aquilo que foi dito não era nada mais do que a apresentação do
campo de pesquisa, ou seja, assim como os que fizeram trabalhos sobre
prostituição e pedofilia tiveram que fazer uma descrição do universo de
pesquisa, assim também nós tivemos que dizer o que é o catolicismo.
Só não pude entender por que a
simples descrição do campo de pesquisa e a inserção dele contexto cultural de
hoje pode se considerado uma forte defesa do catolicismo...
Fico pensando, como pode um
professor universitário se irritar por um trabalho pelo fato dele explicar algo
que ele demonstra combater.
Como, um outro componente da banca pôde dizer que
temos que nos afastar do objeto de estudo, se ele mesmo continuamente tenta impor
seus valores ideológicos sobre os alunos enquanto "desconstrói" os
valores da sua cultura, dizendo explicitamente que esse é o objetivo? Se ele
mesmo faz da Academia local de estudo e ao mesmo tempo coercitivo instrumento
de proselitismo ideológico?
Como pode um professor
universitário, numa banca de trabalhos, questionar os intuitos dos alunos
quanto a elaboração do trabalho?
Quando um deles perguntou se
queríamos mudar o mundo ao falarmos da necessidade de um olhar especial para se
observar cientificamente uma atividade humana específica como a religiosa, por
tratar da atmosfera, da aura que acompanha as obras da cultura (conforme
Maffesoli) respondemos que não, não tencionávamos mudar o mundo, apenas
defender nossos valores, nossa visão de mundo no restrito lugar de nossa
posição de acadêmica e que o trabalho em questão era o foro relativo a esta
atividade.
Impressiona como a mentalidade
ateia marxista está incorporada ao raciocínio acadêmico. Nesse ambiente, onde
se fala tanto em pluralidade, na luta que os revolucionários travaram contra a
opressão da ditadura, não se concede o direito de ter um pensamento discordante
do ideário político feito hegemônico à moda de Gramsci. Considera-se apologia
apenas a descrição do catolicismo. O mais impressionante é que todos negaram
veementemente serem marxistas. Imagine-se se realmente o fossem
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