quarta-feira, 27 de junho de 2012

Censura ideológica


            Pré-banca de TCC – trabalho de conclusão de curso- na universidade. Antes do nosso foi apresentado um trabalho sobre prostituição, depois do nosso seria um sobre pedofilia.

Quando o nosso foi anunciado, sobre o catolicismo, houve um ensaio de deboche feito pelos professores da banca que "brincando" disseram: prostituição, pedofilia, catolicismo... Quando eu disse: viva a democracia e a pluralidade sorrisos sumiram.
Os dois trabalhos, sobre prostituição e pedofilia faziam alusões à Igreja Católica, em ambos, de forma desabonadora.

        Procuramos fazer um relato do que é o catolicismo dentro do mais rigoroso espírito científico, citando Einstein, Pascal, Galileu Galilei, Chomsky, Skinner, Morin e Maffesoli para dar respaldo ao que diz a bíblia e o Catecismo da Igreja Católica, que a orientação insistia que não deveriam ser usados por serem "livros de fé". Para poder incluí-los no trabalho usamos o argumento de que falar do catolicismo sem usar a bíblia e o catecismo seria, para o jornalismo, o mesmo que fazer uma matéria sobre determinada pessoa viva sem entrevistá-la, baseada somente no outros disseram sobre ela.

Os três professores da banca viram no trabalho uma defesa do catolicismo, disseram que falamos demais. Houve um que ficou irritado com o que dissemos no trabalho (apoiadas em Maffesoli), que para se entender o catolicismo era preciso vê-lo com olhos de quem considera o intangível, que é parte integrante do universo católico e norteia toda a sua doutrina e código de conduta de quem queira ser católico. Esse professor se mostrou educadamente irritado; disse que queríamos impor o nosso modo de pensar ao mundo ao obrigar que se tenha um posicionamento específico para observar o catolicismo, perguntou por que nós não nos colocávamos na posição dos que eram alvo do trabalho, no caso eles, componentes da banca, a Academia, o reino do livre pensamento. Perguntou também se o jornal católico, alvo de nossa pesquisa, dava espaço para pensamentos diferentes dos católicos, apesar de já ter ficado claro que se tratava de um jornal dirigido a um público segmentado, o público que professa a fé católica.

             Tivemos grande dificuldade para dizer que tudo aquilo que foi dito não era nada mais do que a apresentação do campo de pesquisa, ou seja, assim como os que fizeram trabalhos sobre prostituição e pedofilia tiveram que fazer uma descrição do universo de pesquisa, assim também nós tivemos que dizer o que é o catolicismo.

         Só não pude entender por que a simples descrição do campo de pesquisa e a inserção dele contexto cultural de hoje pode se considerado uma forte defesa do catolicismo...
Fico pensando, como pode um professor universitário se irritar por um trabalho pelo fato dele explicar algo que ele demonstra combater.
Como, um  outro componente da banca pôde dizer que temos que nos afastar do objeto de estudo, se ele mesmo continuamente tenta impor seus valores ideológicos sobre os alunos enquanto "desconstrói" os valores da sua cultura, dizendo explicitamente que esse é o objetivo? Se ele mesmo faz da Academia local de estudo e ao mesmo tempo coercitivo instrumento de proselitismo ideológico?

         Como pode um professor universitário, numa banca de trabalhos, questionar os intuitos dos alunos quanto a elaboração do trabalho?

          Quando um deles perguntou se queríamos mudar o mundo ao falarmos da necessidade de um olhar especial para se observar cientificamente uma atividade humana específica como a religiosa, por tratar da atmosfera, da aura que acompanha as obras da cultura (conforme Maffesoli) respondemos que não, não tencionávamos mudar o mundo, apenas defender nossos valores, nossa visão de mundo no restrito lugar de nossa posição de acadêmica e que o trabalho em questão era o foro relativo a esta atividade.

            Impressiona como a mentalidade ateia marxista está incorporada ao raciocínio acadêmico. Nesse ambiente, onde se fala tanto em pluralidade, na luta que os revolucionários travaram contra a opressão da ditadura, não se concede o direito de ter um pensamento discordante do ideário político feito hegemônico à moda de Gramsci. Considera-se apologia apenas a descrição do catolicismo. O mais impressionante é que todos negaram veementemente serem marxistas. Imagine-se se realmente o fossem






Nenhum comentário:

Postar um comentário