segunda-feira, 13 de março de 2017

"Silêncio", de Scorsese





O mais novo filme de Martin Scorsese, “Silêncio", inspirado na obra de mesmo nome do escritor japonês Shusaku Endo, parece emergir de um passado soterrado por tsunamis de informações que impedem o ser humano atual de fazer uma contínua auto-análise, necessária para que seja sempre senhor de si mesmo, especialmente quando as dificuldades aparecem. 

Diante do que vivem  seus personagens, podemos concluir que as tempestades que hoje vivemos não passam de um mero copo d’água. Consequentemente, observamos que, em termos de autoconhecimento e fortaleza interior, os modernos habitantes do planeta Terra, são cada vez mais fracos, mais próximos do personagem  Kichijiro, vivido no filme pelo ator Yosuke Kubozuka. 

O filme fala de silêncio.
A própria motivação que dá início ao enredo é o silêncio a respeito do que teria acontecido com um padre Jesuíta português desaparecido no Japão do século XVII. Oficialmente, para a Ordem religiosa, ele teria apostatado e vivia no Japão como um japonês comum, casado, e com filhos. Dois de seus ex-alunos se recusaram a acreditar em tal versão e pedem ordens para ir ao Japão procurar o Padre Ferreira.

A partir daí, o inimaginável acontece. Os dois jovens sacerdotes, cheios de fé e confiança em Deus,  se jogam numa aventura e vivem situações que exigem deles contínuos atos de bravura, sempre apoiados no Deus invisível, com Quem ajudavam as pessoas a se relacionar através de sinais de grandíssimos significados para todos eles.

As dificuldades se tornam cada vez mais pungentes. Separados os dois continuam um tipo de martírio físico e emocional para o qual ganham forças apenas no momento em que vivem o ápice de cada fato em si. 

O filme segue focando no Padre Rodrigues, que preso pelos perseguidores desenvolve importantes diálogos com eles. Sempre firme e sereno na posição de sua fé, embora demonstre todo respeito às opiniões divergentes dos que o mantinham preso, sob torturas emocionais de alto nível.

No momento crucial, aparece o silêncio de Deus. Aqui o padre Rodrigues encarna Cristo, no Gólgota quando diz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandoastes?" (Mt 27:46). 

Mas, o mais lindo de tudo é que os autores dão um forte ensinamento aos cristãos de hoje através de outro tipo de martírio, também mostrado na película: o martírio do silêncio. Viver a sua fé na mais completa solidão do seu íntimo, despojado de todos os signos que poderiam alimentá-la. Como quem diz aos despojadores: "De tudo o que possa ser sinal exterior da minha fé eu abro mão. Posso até demonstrar que trabalho contra ela, mas no íntimo do meu coração continuo adorando meu Deus, em Espírito e em Verdade; Ele é o único que pode satisfazer minha fome intangível".  De acordo com a passagem do Evangelho: –"E, se  alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” (Mt5:41); graças a essa postura gozar de um tipo de paz  que não é deste mundo.  Tal atitude parece ser necessária aos cristãos de hoje, envolvidos numa atmosfera de aversão à sua fé. Galhardia é fundamental.


Longos anos vivendo tal situação constitui um contínuo martírio, cheio da grandíssima dor  por não poder falar do imenso amor que  habita seu coração. Não poder reparti-lo com tantas almas cuja fome e sede dele é obrigado a conviver,  transforma o silêncio num meio de santificação que só as almas mais elevadas têm acesso.


O filme é um brado de esperança na humanidade. Mostra que os humanos são capazes de feitos gloriosos.


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