segunda-feira, 12 de maio de 2014

Fátima: Comunicação Sobrenatural

13 de julho de 1917.
No centro da multidão, as crianças rezavam o terço, enquanto olhavam ansiosas o céu pelo lado do nascente. Não prestaram atenção a uma velha que as insultava, chamando-as impostoras, e Jacinta e Francisco nem perceberam a presença do pai, que veio colocar-se ao lado deles, disposto a defendê-los se fosse preciso.

O tio Marto olhou para Lúcia. Uma extrema palidez invadia-lhe as faces. Ainda rezavam o terço quando a ouviu gritar: 

- Fechem [tirem] os chapéus, fechem os chapéus, que já aí vem Nossa senhora!

Repentinamente, o sol perdeu o brilho e uma aragem fresca soprou por sobre a Serra. Nesse instante, o sr. Marto viu algo de parecido a uma nuvenzinha acinzentada descer sobre a azinheira e, segundo disse, ouviu um sussurro “como de um moscardo dentro de um cântaro vazio”, ou, mais pitorescamente, “assim como a gente fala ao telefônio… que eu nunca falei”. Mas nem ele, nem Maria Carreira, nem o resto do povo conseguiram distinguir as palavras que só as crianças ouviam.

Durante esse tempo, todos os estímulos do mundo sensível -  a multidão, o sol, a brisa, todas as trivialidades de espaço e tempo - tinham desaparecido para os pequenos videntes, arrebatados por uma força sobrenatural. Perceberam então aquele resplendor branco dentro do qual, uma vez mais, cheios de inefável alegria, viram a Senhora deslizar sobre a copa da azinheira.

- Vossemecê que me quer?, perguntou Lúcia, como das outras vezes.

Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra  de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz no mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.

Lúcia disse:   
- Queria perdir- que nos dissesse quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.

-Continuem a vir aqui todos os meses. Em outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre  que todos hão de ver para acreditar.

Nesse momento Lúcia pensou em alguns pedidos que várias pessoas lhe haviam feito.” Não recordo bem quais foram”, escreveu em 1941. Do que se lembra é que a Senhora lhe insistiu na necessidade de rezar o terço. E acrescentou:

-“Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes “Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.”

"Ao dizer estas última palavra, abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra - são palavras de Lúcia escritas em 1941 -, e vimos como um mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmo saíam juntamente com as nuvens de fumo, caindo para todos os lados, como caem as faúlhas nos grandes  incêndios , sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam  e faziam estremecer de pavor […]. O demônios distinguiam por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes, como carvões em brasa”.

As crianças ficaram tão atemorizadas que recearam estar a ponto de morrer, como se não lhes tivesse sido dito que  que as três iriam para o Céu. Depois de contemplarem esse espetáculo terrível, que nem Santa Teresa descreveu tão assustadoramente, ergueram os olhos em súplica desesperada para a Senhora que os contemplava com melancólica ternura.

“- Viste o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores - disse por fim -. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo  a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muita almas e terão a paz. A guerra vai acabar. Mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de PioXI começará outra pior.

“Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.

“Para impedir, virei pedir a consagração  da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, vária nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração  triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.

“Em Portugal, conservar-se-á sempre o dogma da Fé. 
“Isto não o digais a ninguém. 
Ao Francisco, sim, podei dize-lo.

“Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, principalmente aquelas que mais precisarem.”

Seguiu-se um momento de silêncio. A multidão parecia pressentir a solenidade apocalíptica dessa comunicação sobrenatural. Não se ouvia um único som.As crianças, o povo, o vento, tudo estava em absoluto silêncio. Finalmente, Lúcia, pálida como um cadáver, aventurou-se a perguntar com a sua voz de timbre enternecedor:

- Vossemecê não me quer mais nada?
- Não. Hoje não te quero mais nada.

Com um último olhar repassado de afeto, a Senhora desvaneceu-se, como de costume. Lúcia conclui o terrível relato da terceira aparição nestes termos: “E, como de costume começou a elevar-se  em direção ao nascente até desaparecer na imensa distância do firmamento.”

Enquanto as crianças se entreolhavam, ainda pálidas e aturdidas, o povo começou a aglomerar-se  em torno delas e a crivá-las de perguntas:

- Ó Lúcia, que te disse Nossa senhora que ficaste tão triste?
- É um segredo.
- E é coisa boa?
- Para uns é boa, para outros é má.
- E não o dizes?
- Não, senhor, não o posso dizer.

Alguém ofereceu-se para levá-las de volta a casa de automóvel. O tio Marto acedeu, e as crianças subiram pela primeira vez nessa espécie de monstro que andava sem cavalos, e que tinham visto algumas vezes roncando pela estrada Ourém a Leiria. Não tinham disposição de ânimo para desfrutar da nova experiência, mas deram graças por esse modo rápido de chegarem a casa. 


William Thomas Walsh, no livro: “Nossa Senhora de Fátima”, escrito em 1947, depois de  longa visita ao lugar e ter entrevistado  várias pessoas que viveram a experiência de presenciar as aparições de Nossa Senhora às crianças;  inclusive a própria Ir. Lúcia. 



Abaixo, fotografias do cenário da última aparição de Nossa de Nossa Senhora, 
em 13 de outubro de 1917:
Os três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta







 Notícias  dos jornais  da época

Reportagens  dos jornais de Lisboa


Como é Fátima nos dias de hoje:




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