terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Advento

                                         
                                                              
         Quem pode ir mais além que Deus? Quem, mais que a ressonância magnética, pode escanear o coração humano, perceber e interpretar cada movimento, cada sentimento, e, ao mesmo tempo, ter uma visão total da pessoa como um único e precioso ser, e amá-la como só um Deus pode amar?
         
Só um Deus é capaz de, por uns tempos, se tornar uma criatura e ao mesmo tempo continuar sendo Deus. Fazer isso para ensinar – demonstrando com o próprio exemplo – a cada indivíduo dessa espécie como otimizar a sua existência, ser totalmente feliz e realizado, e por consequência, muito contribuir para a felicidade alheia.
         
Pigmalião foi capaz de se apaixonar pela sua criatura, mas só Deus pode inventar um jeito de estar sempre com ela, dando vazão à sua paixão de corpo e alma! Esse jeito é a Eucaristia.
         
A proximidade do Santo Natal leva o católico a observar mais o tesouro de infinito valor que lhe foi dado “de graça”: a Presença do Deus Altíssimo em nos sacrários, de corpo e alma, como estava presente em Belém, no colo de sua Mãe especialíssima.
        
Especialíssima porque não poderia portar em seu DNA as marcas das misérias já vividas por seus antepassados. O DNA de seu Filho-Deus não seria compatível com nenhuma imperfeição, então, o poder de Deus a fez: “Concebida sem pecado” em função de sua especial Maternidade.
        
Mesmo neste tempo de confusão e erro, quando temos todos os motivos para estarmos apavorados com as infindáveis más noticias que recebemos, a inefável Presença Divina se faz sentir ao redor do sacrário, embora muitos de nós ainda não estejamos capazes de percebê-la. Isso porque nossos corações andam sintonizados em estações que enfatizam tanto os cuidados e o bem-estar do corpo que nos faz esquecer de que temos alma!
         
Só a alma percebe a inefabilidade de Deus. Ela é a antena que nos sintoniza com esse Deus. Mas infelizmente, muitos de nós andamos com as antenas danificadas, devido à falta de manutenção, por isso não se consegue sintonizar Deus; acabamos pensando que Ele não existe...
         
Hoje, em tecnologia, estamos aonde não pensaríamos estar, de tão longe! Mas em termos de civilização estamos mais ou menos como nos tempos de Henrique VIII e São Thomas Morus, quando a promiscuidade entre a questão religiosa e os interesses materialistas e políticos produzia a degeneração das consciências e, consequentemente, a dos costumes.
         
Alguns hoje, que se consideram muito evoluídos, estão na verdade tendo uma vida muito próxima à vivida pela maioria das pessoas no final da idade média. A inatividade do espírito – semimorto- e a falta de paradigmas consistentes os obrigam a viver guiados pelos próprios instintos e compulsões, como bárbaros, apesar de possuírem grandes conhecimentos em outras áreas.
        
O Advento, nos tempos modernos existe para nos lembrar de que não precisamos esperar mais, que Quem que nossos antepassados esperavam já está no meio de nós! Que não há razão para viver angústias, pelo menos no que concerne à vida pessoal: o Todo-Poderoso, sem a menor burocracia, recebe pessoalmente quem o deseja, para uma conversa informal, na qual terá toda a paciência para escutar nossas mazelas, dúvidas e, sobretudo dores. 

Se o pedirmos, Ele repara nossas antenas para tornar-nos capazes de ouvir a Sua voz, compreender o que nos diz e sentir os efeitos da Sua Presença, na qual mal nenhum subsiste. A única condição para que isso aconteça é querer, querer, querer...
        
Tal fato é motivo mais que suficiente para enfeitarmos a casa, prepararmos o presépio, instrumento da didática do amor, para que as crianças percebam o quanto amor devotamos ao nosso Deus, que quis nascer humano em ambiente de total desprezo às riquezas materiais.
        
A maneira como quis nascer o Onipotente nos revela que o que é realmente importante é o afeto gratuito de quem sabe reconhecer o valor intrínseco da união entre Deus e o humano acontecida no presépio. Afeto demonstrado pela simplicidade natural dos pastores e pelo poder e ciência reunidos nas pessoas dos “reis magos”, que usando os conhecimentos da astronomia conseguiram chegar à presença do Deus-menino na qual sentiram uma alegria ‘muitíssimo grandíssima’ como dizem algumas traduções do evangelho tentando mostrar, com a força dos superlativos, a alegria sentida por ambos, pastores e reis.
         
Não importa se somos simples pastores, trabalhadores braçais, sofisticados cientistas ou bem sucedidos empresários, diante da Hóstia em que tornou o ‘Menino’ do presépio ficamos todos humildes, embevecidos com tanta beleza invisível, bondade, paz e uma incontinente alegria...
        

Para que tudo isso aconteça com cada um de nós só é necessário um ato da nossa boa vontade. Jesus está presente no sacrário para cada um de nós como estava presente no presépio há mais de dois mil anos. No que se refere a Ele, não tenhamos a menor dúvida, Ele anda ansioso, cansado de esperar que lhe prestemos atenção, afinal, é para estar conosco que se submete à solidão do tabernáculo...

                                         Giselle Neves Moreira de Aguiar

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