quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O significado da Cruz






         Entra-se no Evangelho por duas portas: a da história (isto é, da crítica) e a da fé.
        
         Aquele que penetra no Evangelho pela porta da crítica histórica, dali sairá com um cadáver nos braços, após ter encontrado uma objeção a cada linha e uma dúvida a cada palavra. Compilado muito depois dos acontecimentos com o intuito de instruir os simples, mesclado de mitologia e desse "maravilhoso" que causa horror aos teólogos da moda e aos peritos em contabilidade, o texto lhe parecerá pouco plausível no princípio e discutível depois, e dele só extrairá uma moral árdua e bastante original, embora dela se encontrem antecipações nos essênios, nos mesopotâmios, nos chineses, egípcios ou gregos. [...]

         Aquele que entra no Evangelho pela porta da fé, pelo contrário, sabe – ou vislumbra- que não existem limites para a grandeza de Deus, e este é certamente o ponto mais essencial a ter em conta quando nos propomos viver, ao longo de algumas páginas, na intimidade de Cristo. [...]
        
         Quem entra no Evangelho pela porta certa, descobrirá em Cristo muito mais – é o que eu digo: "muito mais" - do que um homem atormentado à busca de uma eventual identidade com Deus, fugidia, e no fim das contas improvável;

descobrirá, pelo contrário, um ser eterno que pouco a pouco adquire um conhecimento experimental da condição humana até a agonia da cruz e ao grito dilacerante:

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

         Este brado marca por assim dizer, o fim da lição, o exato momento em que a Encarnação, abolida toda e qualquer parcela de luz sobrenatural, se arremata no mais completo despojamento.

Texto de André Frossard  no  livro: Deus em questões
Editora Quadrante - São Paulo, 1991; pg. 49 

Para cantar com a Igreja:
Vitória, tu reinarás...

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