Este texto que fala, no contexto dos anos 40, sobre a era da tecnologia, foi lido como um conto para um programa vespertino de rádio; como trabalho da disciplina Iniciação ao rádio e TV no curso de Jornalismo.
Um dia suspenso
A
pequena cidade de São Manoel do Passa Cinco, situada em qualquer lugar do
sudeste do Brasil, teve, o que pode ser chamado, um dia suspenso. Tal fato foi devido ao aparecimento,
repentino, em plena Praça da Matriz, no meio da manhã da última quarta-feira,
de um artefato do qual nenhuma pessoa no mundo tenha conhecimento.
A
princípio a população, atônita, pensava estar diante de uma nave alienígena,
pois era o que parecia ser: uma cápsula, como as que o senhor Mário Magalhães, o
boticário, usa como invólucro para tornar os medicamentos mais toleráveis, mas do
tamanho de um automóvel Ford, de material desconhecido, sem nenhuma janela ou orifício
pelo qual pudesse circular o ar.
Num
piscar de olhos, toda a população da pequena cidade estava em volta do
curiosíssimo objeto que, após poucos minutos se abriu, ao meio, como podem ser abertas as cápsulas de medicamentos.
De dentro dela saíram dois homens, iguais a
qualquer um dos que conhecemos, dois senhores aparentando ter por volta de
sessenta anos, embora apresentassem uma grande vitalidade e usassem roupas
feitas com tecidos de existência nunca
vista. Olhavam ao redor com expressões de surpresa e encantamento. Aos poucos
foram se mostrando mais serenos e todos ouviram quando começaram a falar entre
si, em inglês, o que deu motivo de outro encantamento para a população.
Imediatamente o senhor Hugo Pereira, ali presente, professor de inglês da Escola Normal, traduzia o que falavam, embora dissesse que o fazia a muito custo e sem muita segurança, porque falavam de maneira muito rápida, com as palavras apostrofadas.
Ao
observarem que o Prof. Hugo podia compreender sua língua, se dirigiram a ele.
Queriam saber onde estavam, e qual era a data atual. A cada resposta do
professor, seus rostos se iluminavam em claros sorrisos.
Em
seguida passaram eles a responder ao professor as infinitas questões que
povoavam a imaginação das pessoas ao redor. Disseram se chamar William Gates e
Steven Jobs, que eram cidadãos dos Estados Unidos da América, que nasceram ambos,
no futuro ano de 1955 e que o tempo atual para eles seria o ano de 2015.
Explicaram
a presença deles naquele instante como o resultado um árduo trabalho que
desenvolvem em conjunto, há cerca de 12 anos: a cápsula que encerra os
requisitos necessários para se viajar através do tempo, e esta fora a primeira que conseguiram concretizar.
Ambos
são pesquisadores científicos que se tornaram ricos empresários, aliando o
conhecimento de suas descobertas e invenções a um também grande tino comercial.
Disseram que sempre foram considerados rivais, e quase inimigos, por serem os
criadores das duas maiores empresas no ramo do que chamaram de Informática. No
entanto, eram amigos e admiradores recíprocos, a ponto de, secretamente, usarem
as informações das pesquisas mais recentes de suas empresas e desenvolverem o
projeto Viagem no Tempo, usando a colaboração de dois ou três fiéis e
discretíssimos colaboradores. Tinham em comum este segredo que, no momento
oportuno serviria para, mais uma vez, surpreenderem a humanidade.
Como se
não bastasse a própria presença deles e sua cápsula maluca, infinitamente mais
surpreendente eram os aparelhos que compunham o
seu interior. Algumas pessoas
tiveram medo e saíram correndo ao vê-los, outras, mais esclarecidas
demonstravam curiosidade em conhecê-los e vê-los em funcionamento, enquanto
ouviam as explicações traduzidas pelo estupefato professor Hugo.
O
principal deles é o que chamam de computador, um aparelho de mais ou menos 25
por 35 centímetros, que se abre como um livro, totalmente diferente de tudo o
que já tenhamos visto. Abrindo-o ao meio aparece de um lado, uma tela de vidro,
que funciona como um pequenino cinema à cores, cujas imagens variam de acordo
com as informações demandadas por meio do teclado, como o de uma máquina de
escrever (que não usa papel nem fita) que fica acoplado a ela. Um detalhe muito
importante: este aparelho não precisa estar ligado por fios à eletricidade,
armazena energia em pequeninas baterias, o que faz com que pareçam caixas de
mágicas.
Este
aparelho contem todas as informações disponíveis na face da Terra. Segundo os
senhores William e Steven todos os aparelhos da Terra podem estar interligados
entre si, por um sistema chamado rede, que pode ser comparada a uma teia de
aranha invisível, assim, as pessoas podem trocar informações instantaneamente
mesmo estando em lados opostos do planeta.
Pela tela
de vidro do “computador” do senhor Jobs, as pessoas puderam ver o que
acreditamos ser inenarrável, mas faremos o possível para descrever certos
aparelhos, entre eles, o mais fascinante: a tele-visão
Todos
nós já conhecemos muito bem o rádio, pois bem, tente imaginar um rádio no qual
se pode, ao mesmo tempo em que acontecem,
ver
as notícias dadas por ele. Pois bem isto já existe no tempo de tais visitantes,
por isso chama-se televisão, que quer dizer visão à distancia.
Os dois
cientistas disseram que no tempo deles, quase todas as casas possuem um
aparelho desses, pelo o qual assistem teatro, espetáculos musicais, se inteiram
das notícias além de apreciarem os mais diversos espetáculos.
Nos
países mais adiantados, a televisão já é transmitida por um meio mais moderno
ainda, chamado por eles digital, em que as telas podem ser enormes e finas, com
mais de um metro de comprimento e proporcional altura que a faça retangular; por
ela, chegam a poder assistir a mais de um programa ao mesmo tempo, pois a tela
pode se subdividir em duas ou mais pequenas telas que passam programas
diferentes em imagens que parecem mais reais do que se estivessem sendo vistas
ao natural.
O que causou
maior impressão foram uns aparelhos pequeninos, que cabem na palma da mão,
podendo ser facilmente levados no bolso da camisa ou nas bolsas das senhoras, dos
quais se pode assistir aos programas da tele-visão em todo tempo e lugar que se
queira e estar em conexão com a rede internacional de computadores. Em outras
palavras, por meio de um pequeno aparelhinho daqueles, se pode ter acesso à
toda a cultura humana; como se esses aparelhinhos mágicos contivessem todas as
bibliotecas do mundo.
Mas, o
mais incrível é que esses aparelhos, a que dão o nome de celular, porque seriam
como células que contêm todas as informações de um organismo por fazer parte
dele, servem também como telefones portáteis, o que faz com que se possa falar onde,
e com quem se quiser a todo tempo e lugar, podendo até mesmo ver a pessoa com
quem se fala.
Após cerca de duas horas de demonstrações de maravilhas, os senhores William e Steven foram convidados pelo senhor Paulo Furtado, o prefeito, para se hospedarem em sua residência, sempre por meio da tradução do professor Hugo Pereira.
De posse de um pequeno aparelho que também se cabe na mão, eles seguiram o senhor prefeito, pedindo permissão para efetuarem, por meio dele, a “filmagem” de toda a nossa cidade, sua gente, seu povo, seus costumes, tradições, crenças, devoções, arquivos e objetos do pequeno museu municipal. O prefeito consultou as pessoas mais influentes, como o senhor Juiz de Direito, o senhor Promotor Público além dos professores e pessoas mais eruditas da cidade. Todos concordaram e deram ”entrevistas” traduzidas pelo professor Hugo, que foram “armazenadas”, como filmes de cinema, na pequena filmadora do senhor William.
Ao final do dia, disseram que precisavam partir. Toda a pequena população se reuniu novamente ao redor da capsula. Eles se despediram, entraram no veículo, e deram partida. Neste instante houve um tremendo efeito luminoso, sem nenhum ruído, mas que fez com todos caíssem desmaiados.
Ao
voltarem a si, após pouquíssimos minutos, as reações foram também inesperadas,
a maioria não se lembrava, absolutamente, de nada do que tinha acontecido,
outros tinham certa lembrança, como se fosse de um sonho, do qual se retém
poucas memórias; mas houve quem se lembrasse de tudo, tintim por tintim, mas
tal pessoa jamais terá coragem de comentar com quer que seja a repeito, por
temor de se passar por lunática. Porem, a sós com seus pensamentos, digeria as
lembranças, uma a uma, até seus neurônios se acostumarem com elas.
Tal
pessoa, depois de tanto refletir a respeito, chega mesmo a pensar que os
senhores William Gates e Steven Jobs pudessem não ter sido absolutamente
sinceros, talvez aquela não fosse a primeira viagem que fizeram no tempo, pode ser que, nas primeiras viagens tivessem
ido ao futuro quando adquiriram o que denominavam tecnologia, e de volta a seu
tempo, arregaçaram as mangas e entregaram as mãos à obra, vindo a se tornarem ricos. Agora podem
se dar ao luxo de viver viajando por aí de tempo em tempo.
giselle neves moreira de aguiar
Sorocaba, 13/03/2011
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