sexta-feira, 16 de março de 2012

Os 27 padres de Cuiabá


Uma reflexão sobre o catolicismo no Brasil e na América Latina diante do imbróglio acontecido entre 27 padres da Arquidiocese de Cuiabá e o  Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior





Recentemente, 27 padres da Arquidiocese de Cuiabá pediram às autoridades eclesiásticas que sanções fossem aplicadas a Padre Paulo Ricardo, este fato agitou a internet há um tempo. 
Partilho com meus irmãos de fé minhas observações a esse respeito, feitas da minha humilde posição de reles ovelha do rebanho de Cristo, o que me coloca junto com milhares e milhares de pessoas. 


Faço uso dos diretos democráticos que me cabem para, diante de Deus abrir meu entendimento e dar vazão a observações às quais muitas pessoas possivelmente não concordarão com elas, as quais são alvo do meu respeito.

Considero imperioso para a nossa dignidade de pessoas que professam a fé católica, a que temos como uma herança bendita e pela qual são pautados todos os valores morais que alicerçam nossas pessoas, observar que devemos estar atentos ao grande problema que vive a nossa Igreja no Brasil, na América Latina e que tem se alastrado pelo mundo. 

A manifestação dos 27 padres de Cuiabá cujos nomes, graças a Deus não conhecemos e sua repercussão, pode servir para dar grande entendimento no tocante ao que tem acontecido com inúmeros padres da América Latina, pelo menos com os mais jovens, segundo o seguinte raciocínio: 

Esses padres, Entraram para o seminário no final da adolescência para servir à Igreja, seguindo um chamado do Cristo, do Amor-Verdade que tem o poder de atingir cada fibra do ser humano quando o abrasa. Foram estimulados pela família em cujo DNA domina, há gerações, a certeza de que o sacerdócio é um nível muito alto na capacidade de união com Deus. Em resumo, o candidato a sacerdote entra no seminário movido pelas práticas dos ritos e costumes religiosos de seus pais e avós, instrumentos de acesso ao coração de Deus, fonte de todo bem. 

Logo nos primeiros anos de Seminário começa sua transformação, os pais, geralmente pessoas habituadas aos exercícios de piedade, têm seu primeiro encontro com o desapontamento ao ver o filho, em frequentes arroubos de espontaneidade, menosprezar, criticar duramente e muitas vezes debochar das mesmas práticas de piedade que antes o atraíam tanto. Ele agora as associa à ignorância e ao atraso cultural. 

Quantos pais, e principalmente mães, não tiveram ou têm o coração amargurado ao ver o filho seguir ideias tão contrastantes com a fé dos antepassados? O martírio aumenta quando têm, muitas vezes, que representar o papel de quem aprova o que consideram deplorável nas atitudes do filho. Muitas chegam a dedicar suas vidas a acompanhar fisicamente o filho já sacerdote, com o objetivo de defendê-lo de loucuras mais perigosas a que está exposto um padre que praticamente não reza, vive envolvido com as preocupações sociais. 

O que terá acontecido com os meninos piedosos que no Seminário mudaram de posicionamento e se transformaram em líderes políticos dispostos a defender o feudo de suas paróquias contra as elites que manipulam o povo por meio dos atrativos do capitalismo, que é muito mais execrável do que o demônio, esse que, por sua vez, passou a ser apenas um recurso inventado para manipular o povo, o seu novo deus. Eles passaram a ver condenação em todo o meio ambiente cultural de seus pais, ao qual devem sua formação mais profunda. 

Não existe outra explicação mais plausível a respeito da origem da mudança do que os ensinamentos recebidos no seminário. Usando a observação de muitos casos podemos observar que esta transformação pode acontecer da seguinte maneira: 

A boa formação de filhos obedientes leva os novos seminaristas a considerar como absoluta verdade tudo o que o Seminário ensina, afinal trata-se de um Instituto para a formação de sacerdotes, que receberão, por meio de especial Sacramento, a Ordem de absolver pecados e de ser instrumento na transubstanciação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo, alimento capaz de transformar uma mera criatura humana em uma pessoa completa, filha de Deus, e atingir os níveis mais altos de interação com Ele, pela transcendência própria dos que cultivam a vida espiritual, por tratar-se de Amor e Verdade em forma alimento. 

Para o jovem seminarista e sua família, o Seminário é uma casa que ensina a servir a Deus, não existe razão para desconfiar de que lá se possa estar ensinando errado. 

E assim, por sua boa-fé os jovens têm suas consciências estupradas por meio de um processo "educacional" que desconstrói os valores aprendidos na infância, na casa dos pais, no lar cristão para formatá-los nas ideias marxistas, pela pedagogia da Escola de Frankfurt, usando o método de Antonio Gramsci

Pessoas versadas nessa doutrina, que também é aplicada na maioria das nossas escolas, antes no ensino superior, e hoje até mesmo nas primeiras séries do ensino fundamental, tornam-se especialista em criticar e distribuir adjetivos desabonadores a todos os valores que alicerçam a nossa cultura, atribuindo más intenções ocultas a toda produção de bens, principalmente os de natureza religiosa, porque a ideia marxista considera a religião como o ópio do povo. 

Ensinar essa doutrina não causaria tanto mal aos seminaristas quanto à omissão da verdadeira doutrina da Igreja e seus doutores. Pergunte aos padres modernos se já leram Santo Agostinho, São Tomás de Aquino ou Santa Teresa de Ávila. 

A respeito desse assunto dois fatos marcantes: ao apresentar a um jovem bispo a história de uma pessoa cuja beatificação é pleiteada pelas pessoas de nossa terra, o vimos se maravilhar ao dizer que, de certa forma sentia inveja de nós, porque tivemos acesso à vida de piedade, e ele, teria aprendido somente o "evangelho duro e seco". 

Outro caso a se considerar é o dos escritos de um frei católico que, depois de muitos anos de militância marxista, parece ter lido Santa Teresa de Ávila, mas já fazendo dela uma leitura completamente alienada da espiritualidade da santa cuja memória sofreu, no seu texto, uma das mais cruéis agressões. Ele que supõe e propõe um novo homem, filho de Santa Teresa de Ávila e Che Guevara, cujos trechos podem ser lidos aqui. Não consegui encontrar o texto completo, mas somente o que o pode ter inspirado. Textos como estes demonstram como se tornam esquizofrênicos, acreditando em fantasias que integrem os dois mundos totalmente antagônicos como o marxismo e o cristianismo. Esse tipo de raciocínio dá origem a nova crença, e possivelmente a inúmeras outras, totalmente alienadas de todo sentido de nexo e lógica, o que permite associar seus criadores com a esquizofrenia. O antagonismo entre as duas foi crenças muito bem explicado pelo grande jurista brasileiro, católico praticante, Heráclito Sobral Pinto

A perigosa prevalência da Teologia da Libertação, como é chamada entre os mais intelectualizados a doutrina professada e ensinada nos Seminários e que é definida por seus próprio adeptos neste filme , sobre o verdadeiro Catecismo da Igreja católica fará com seja cada vez mais comum fatos dolorosos protagonizados por padres como este, professor da PUC – Pontifícia Universidade Católica - que se mostra muito mais discípulo de Freud do que Jesus Cristo, embora não sinta nenhum constrangimento em usar o título de padre da Igreja Católica, ao contrário, demonstra intenção de impor suas ideias ao catolicismo cuja doutrina considera inferior, portadora de preconceitos milenares. Segundo o pensamento dele, nós católicos devemos deixar de seguir os preceitos que pautaram a vida de inúmeras gerações ancestrais nossas, cuja sabedoria embasou toda a evolução da ciência e cultura ocidental para seguir as ideias dele. 

Seguindo por esse caminho certamente será comum sacerdotes que dizem aberrações como estas, demonstrando ter se tornado totalmente alienado de toda e qualquer capacidade de transcender, de conceber o amor como conhecemos e muito menos a devoção a Deus e à Santíssima Virgem. Mostra ter o coração duro como pedra. Acredita muito mais nas ideias ensinadas pelo marxismo no combate à nossa fé do que na sua própria raiz. 

Cabe muito bem a esses dois "padres", prefiro não dizer sacerdotes, as palavras de Jesus em Mt 12, 34 : a boca fala daquilo que o coração está cheio. 

Os 27 padres de Cuiabá, como inúmeros outros do Brasil e da América Latina, no fundo da alma, acreditam que agradam a Deus porque todo o tempo têm sido fiéis aos seus superiores hierárquicos, que usam da autoridade eclesiástica para falar em nome de Deus. Deus cada vez mais ausente. 

Ao mesmo tempo em que, diante de suas consciências, fizeram "o dever de casa", porque pregam o que aprenderam e agem sob as ordens que recebem de seus superiores, eles observam que seu trabalho é como enxugar gelo, porque quanto mais pregam que o importante são as conquistas sociais, dizem que o povo é oprimido pelas classes dominantes e  insinuam que toda a riqueza dos ricos é roubada dos pobres, mais o povo procura Deus. E eles, que gostariam de ser aclamados, amados pelo povo como os padres da renovação carismática sofrem tremendamente. 

Observemos que a maioria do povo cristão hoje está dividida entre católicos carismáticos e ex- católicos que se tornaram evangélicos. Em torno desses abnegados servidores da Teologia da "Libertação" estão sempre pessoas mais interessadas em obter relevo social pela exposição da figura em trabalhos "para a Igreja". 

Os verdadeiros católicos frequentam a paróquia geográfica apenas para assistir à Missa e receber os sacramentos. Recebem o alimento espiritual das pregações carismáticas assistidas pela TV ou pelo rádio. As pregações politizadas dos párocos são suportadas por eles fazendo uso da caridade cristã. 

Foquemos agora no acontecimento que deu origem a toda essa reflexão: 

Em fevereiro deste ano, num evento em Cuiabá, padre Paulo Ricardo fez uma pregação que pode ser lida e vista neste link, na qual ele faz uma leitura do comportamento dos padres de hoje aos olhos dos que continuam a cultivar a verdadeira fé católica. Esse discurso provocou nesses pobres homens o sentimento traduzido na carta enviada aos Bispos, Padres e Povo de Deus, CNBB, ANP, /CNP, CRB, Regional Oeste II, Estado de Mato Grosso, que pode ser lida no mesmo link, porque a transcrição de um trecho do sermão do padre Paulo Ricardo faz parte dela. 

Dessa carta alguns trechos servirão de base ao nosso raciocínio:


Diante de um homem amargurado, fatigado, raivoso, compulsivo, profundamente infeliz e transtornado toma-nos, como cristãos e como sacerdotes, um profundo sentimento de compaixão e misericórdia. Diante de suas reiteradas investidas contra o Concílio vaticano II, contra a CNBB e, sobretudo, contra seus irmãos no sacerdócio invade-nos um profundo sentimento de constrangimento e dor pelas ofensas, calúnias, injúrias, difamação de caráter e conseqüentes danos morais que ele desfere publicamente e através dos diversos meios de comunicação contra nós, sacerdotes e bispos empenhados plenamente na construção do Reino de Deus.
Somos padres diocesanos e religiosos da Arquidiocese de Cuiabá e das demais dioceses do estado de Mato Grosso. Há décadas, dedicamo-nos, todos nós, com afinco, zelo e dedicação apostólica à instrução do povo nos caminhos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, não merecemos as calúnias, injúrias e difamação de caráter que Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior desfere contra nós.
É desastrosa e danosa à reputação de milhares de sacerdotes à “tradução” e “interpretação” que padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior dá às supostas palavras de Nossa Senhora ao Padre Stefano Gobbi.
[ Padre Paulo Ricardo] Interpreta ele erroneamente o Cânon 284 do Código de Direito Canônico (do qual se diz mestre) – “os clérigos usem hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pela Conferência dos Bispos e com os legítimos costumes locais.” – e também as normas estabelecidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que observam: “nas determinações concretas, porém, devem levar-se em conta a diversidade das pessoas, dos lugares e dos tempos.”
Colocando-se talvez no lugar de Deus, Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior julga e condena inúmeros irmãos no sacerdócio que levam vida ilibada e que são reconhecidamente compromissados com o Evangelho, com a Igreja e com o Reino de Deus. Ele espalha discórdia e divisões desnecessárias e prejudiciais ao crescimento espiritual do clero e do povo de Deus. De forma indireta, condena nosso arcebispo emérito Dom Bonifácio Piccinini e nosso atual arcebispo, Dom Milton Antônio dos Santos. Ambos, dedicados inteiramente, com generosidade e abnegação ao Reino de Deus e à Igreja, não usam batina, como observou em junho passado uma fiel leiga presente a uma dessas contendas levadas a cabo por Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior e seus sequazes.
Causa compaixão a um coração cristão o sofrimento desses padres. Eles começam a sentir na pele o que procuram incutir no povo com suas pregações, o sentimento de ser injustiçado e manipulado.  Como devem raciocinar?
            Acreditam não merecer tal condenação de estar contra a Igreja de Cristo, eles que obedecem religiosamente todos os ensinamentos e ordens que recebem dos senhores bispos.
            Fazem do padre Paulo Ricardo o alvo de sua revolta, como se fosse ele que os julgasse e condenasse e não tudo o que concerne à Santa Madre Igreja ao longo de dois mil anos de gerações de fiéis à doutrina imutável da Igreja. A mesma Igreja cujo domínio pertence somente a Jesus Cristo mas que, o movimento a que eles pertencem, a Teologia da Libertação quer usurpar para implantar uma nova visão de mundo, avessa a tudo o que conhecemos com fé católica.
Embora tudo isso se passe, o que realmente os atingiu foi o confronto do comportamento deles como sacerdotes e a figura de Nossa Senhora, eles sabem que a Mãe de Deus não pode estar contente com eles, e eles se importam muito com isso, por mais que preguem e digam que as práticas de piedades são alienantes e retrógradas. Eles não conseguem negar a sua natureza batizada como filho de Deus e Virgem Maria. A figura que fazem diante da Mãe será sempre muito importante para eles. Contudo, sabem que jamais poderão ter a aprovação daquela que representa a imagem de tudo o que abriram mão ao se submeterem à nova ideologia que incursiona na Igreja.
Eles são impelidos a agir movidos pela dor lancinante. Fazem o que  a mesma natureza os impele: chamam para os defender aqueles que fizeram deles o que se tornaram, a  CNBB e as autoridades eclesiásticas de todas as siglas.
E como se manifestarão essas autoridades a esse respeito? Farão calar a voz do padre Paulo Ricardo? Pegarão no colo suas crianças tão bem comportadas? Virão a público dizer que tudo o que padre Paulo Ricardo tem dito é falso, mentiroso, que está em desacordo com o Catecismo da Igreja Católica?
Cabe-nos observar e escolher bem os nossos posicionamentos. Vivemos tempos muito difíceis já previstos por  São João Bosco , precisamos estar unidos ao Papa, à Nossa Senhora e à Eucaristia. Este estado de união com Deus sua Igreja é a nossa garantia de não cair na lábia do inimigo.
Neste mesmo estado podemos observar os olhares de cumplicidade trocados entre Nossa Senhora e Padre Paulo Ricardo, que parecem concordar que foram bem sucedidos em todo esse imbróglio. Que este tempo quaresmal é muito propício a sentir esse tipo de dor que acomete os 27 padres de Cuiabá. Uma dor assim pode fazer avaliar toda uma vida e trazer de volta filhos pródigos de seu coração materno. Trazê-los de volta ao carinho de seu coração cujo contato tem o poder de curar todo coração endurecido, seco, e fazê-los capazes novamente de se sentir parte de um sonho imenso e abrangente, onde estão contidos todos os sonhos que as criaturas são capazes de sonhar em suas aventuras ideológicas, o sonho do Pai.
E por saber ser esta uma verdade de fé cabe a cada um de nós se posicionar na trincheira  da luta em defesa da vida como a conhecemos.
É preciso adquirir conhecimento a respeito da fé, da Igreja e do  catecismo da Igreja católica, que é um resumo da fé recebida pelos Apóstolos, ilustradas por preciosas reflexões de santos doutores ao longo de dois mil anos de catolicismo., um verdadeiro deleite para inteligência mais acurada.
  Hoje dispomos de um de um poderoso instrumento para aprender sobre a nossa fé, a internet. Se tivermos uma real intenção de agradar a Deus e não a nós mesmos ou a imagem que os outros possam fazer de nós, certamente O invocaremos e Ele nos dará o olhar atento e cuidadoso de Sua Mãe sobre nós. Ela nos pegará pela mão e nos conduzirá por seu Filho, que é o nosso Caminho, a nossa Verdade e a nossa Vida; e é por este, neste e somente neste habitat que o homo sapiens terá vida em plenitude. É o que diz a nossa fé, o nosso tesouro, quase desconhecido.
 Se amamos a nossa família, temos senso de autodefesa e desejamos preservar o universo de amor que conhecemos  busquemos o conhecimento de toda a vida a espiritual que nos tem sido sonegada desde que essa ideia maluca apareceu querendo dominar o mundo sem ser Deus.

 Giselle Neves Moreira de Aguiar,
Sorocaba, SP, quaresma de 2012



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