Nesta visão o Senhor quis que assim o visse: não era grande,
senão pequeno, formosíssimo, o rosto tão incendido, que deveria ser dos anjos
que servem muito próximo de Deus, que parecem abrasar-se todos. Presumo
que seja dos chamados querubins, pois eles não me dizem seus nomes.
Bem vejo que no céu há tanta diferença de uns anjos para outros, e destes
para outros ainda, que não saberia nomear.
Via-lhe nas mãos um comprido dardo de ouro. Na ponta de ferro
julguei haver um pouco de fogo. Parecia algumas vezes metê-lo pelo
meu coração a dentro, de modo que chegava às entranhas. Ao tirá-lo
tinha eu a impressão que as levava consigo, deixando-me toda abrasada
em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor que me fazia dar os gemidos
de que falei.
Essa dor tão intensa produz excessiva suavidade que não se deseja o seu fim,
nem a alma se contenta com menos do que com Deus. Não é dor corporal, senão
espiritual, ainda que o corpo não deixe de ter sua parte, e até bem grande.
É um trato de amor tão suave entre a alma e Deus, que suplico à Sua Bondade o dê
a provar a quem pensar que minto.
Santa Teresa de Ávila - História da Vida - São Paulo, 1983 - Ed. Paulus
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