sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Seara sofista



Os sofistas foram, na Atenas antiga, mestres na arte do "bem falar”. Para eles, tudo seria relativo: “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, o que se determinar que seja verdade "fica sendo”.  Tudo é uma questão de semântica, depende de como se usar as palavras certas  para distorcer evidências e fazer prevalecer o pensamento de interesse do indivíduo, hábil em retórica. Com sua habilidade, que podemos chamar de lábia, ganhavam muito dinheiro ensinando aos jovens de famílias ricas a usar de artimanhas no uso das palavras e na política. Ensinavam a manejar minuciosamente as técnicas de discurso, de maneira que as pessoas aderissem rapidamente a um, bem apresentado.  

Sócrates, contemporâneo deles, os contrapunha tanto em comportamento, pois não cobrava para ensinar, mas, essencialmente, na ideia;  ele se propunha a levar o interlocutor a questionar-se sobre a verdade dos fatos, dos princípios éticos ou dos sentimentos.  Para ele, o respeito ao outro era essencial. Seus sucessores, Platão e Aristósteles, aprofundaram estes conceitos que  constituem a base do conhecimento e do desenvolvimento do progresso humano no mundo ocidental

Ao longo dos séculos, o embate entre os que buscam a verdadeira sabedoria e os sofistas sempre aconteceu, de maneira relativa ao tempo e costumes culturais de cada época. Os oportunistas sempre procuraram tirar partido das virtudes e bens alheios em proveito próprio, ou ainda, conseguir sucesso sem o esforço correspondente.  Uma maneira confortável encontrada  foi a da crítica aos que produzem, com inteligência e trabalho físico, bens de todos os tipos; também aos que estudam realmente e baseiam seu conhecimento e afirmações em trabalhos de cientistas e pensadores do passado e, por conseguinte, alcançam sucesso. Estes tiveram seus estudos baseados  no princípio socrático do grande compromisso com a verdade, na busca de um conceito universal, que valesse para todas as pessoas, de todo tempo e lugar, ou seja, no que pode ser considerado ciência: o conhecimento novo que vai sendo depositado em cima do conhecimento anterior, a partir do qual foi conseguido, o que, posto em prática, gera progresso, conforto e bem-estar para toda a humanidade.

Os sofistas de todos os tempos, inconsequentes, sem outro compromisso a não ser com a  boa visão da própria imagem, preocupados somente em agradar a quem os ouve, estão sempre a agredir o raciocínio lógico e a inteligência alheia enquanto encenam expressões de grande seriedade. Apresentando expressões corporais de acordo com o conceito que desejam imprimir, proclamam obviedades, com as quais não há quem não concorde. Buscam atingir o emocional antes que o racional possa se manifestar. 

Da metade do século XX para cá, os sofistas ganharam notoriedade usando, sempre, seus recursos peculiares. Assim, o que era erva daninha foi, aos poucos foi se tornando a cultura principal. Os sofistas cooptaram muitos jovens nas universidades. Uma inversão de valores foi invadindo os meios culturais cujas produções induzem ao pensamento sofista, relativista, enquanto o mesmo é exaltado por professores, seus discípulos. Assim, como nas produções artísticas e, até mesmo nas igrejas…

As consequências estão estampadas nos  noticiários de todas as mídias. A violência intelectual e moral a que são submetidos, a insegurança produzida pelo relativismo, o sofrimento que traz a sonegação do conhecimento relacionado à alegria de produzir benefícios a serem usufruídos por outrem, faz o jovem viver num estado de carência de sentindo para a vida. 

Tais fatos tem conduzido a juventude à situações extremas em todas as áreas das ações humanas. Temos visto jovens de países considerados ‘top’ em civilização se alistarem no exército do Estado Islâmico e praticarem atrocidades homéricas. Presídios lotados de barbaridades. Pais que matam filhos, filhos que matam pais, jovens universitários que destroem patrimônio público e privado… Violência de todos os matizes. Onde está o progresso? A involução nos assombra… O que será do mundo dominado pelos sofistas? 

O querer saber o que é certo, o correto, já nasce com o ser humano.  Por tal motivo, mais que a água do planeta, é necessário, agora, preservar o pensamento crítico tão ensinado pelos mesmos sofistas nas escolas e nos meios culturais, e fazer uso dele dirigindo-o aos que fazem a sua apologia sempre direcionado suas críticas aos reais valores que edificaram a vida no mundo ocidental e, basicamente, de toda a humanidade. 

Os que tanto criticam os produtores de bens de todos de tipos, estão, realmente aptos a capitanear a imensa produção de bens necessários para que o povo possa continuar a evoluir?  Ou, são apenas exímios produtores de críticas, que sabem apenas usar as palavras e os gestos, mas que, no entanto, jamais produziram nenhum bem de consumo. Lembremos aqui os discursos dos candidatos nesta campanha eleitoral, principalmente ao Poder Executivo. Os argumentos sofistas prevalecerem em todas as notícias. Tanto nas desculpas esfarrapadas para justificar rombos em empresas estatais e justificar números indigestos sobre a economia, como para apresentar  velhos candidatos com novos argumentos, que, por sua vez, podem ser alterados a todo instante. Sofismas cada vez mais sofisticados...

Como somos portadores de um corpo biológico que demanda grande número de necessidades materiais, não podemos nos dar ao luxo de prestar atenção somente  nas ideias, nos "blá blá blás” de sofistas que pensam que podem governar apenas dando ordens…

Temos visto que a Europa, berço de tantos sofistas notáveis e cultuados, sofre grande recessão há anos.   Na maioria dos países europeus se vive, com  grande intensidade, sob a égide dos sofistas, proclamando o que a maioria gostaria de ouvir. Assim, os patrões são considerados odientos exploradores dos pobres trabalhadores, que têm cada vez mais direitos e menos deveres. Ou seja, cada vez se trabalha menos e tem mais direitos. Os patrões se tornam assim, espécimes em extinção, donde toda a grande produção acaba controlada por meia dúzia de empresários que podem bancar os altos custos empregatícios por meio de acordos e auxílios do poder central. Cada vez menos trabalho, cada vez menos empregos, cada vez maior o número dos que vivem da previdência social. O trabalho deixou de ser uma fonte de prazer, vindo da constatação de se ver capaz de realizar algo que beneficia todo o ecossistema do planeta.

 A realidade é dolorosa. Podemos observar que, na França, o presidente está em vias de ter se transformar em super-herói para atender a todos os direitos que proclamava ter o povo, antes da eleição, com cada vez menos recursos materiais…

Nos vizinhos do Mercosul, especialmente a Venezuela e a Argentina, onde os sofistas reinam há algum tempo, pode-se constatar o grande progresso na produção de pobreza. Incrível como  os sofistas reinantes conseguem submeter o povo à ditadura cubana. Mesmo através das notícias filtradas que nos chegam daqueles países, podemos ver que tiveram suas riquezas desmaterializadas para mandar recursos para Cuba,  mormente a Venezuela, e, no entanto, Cuba  continua a viver na miséria, há décadas. Transformou-se num ilha-museu, que tem seus edifícios preservados de todo cuidado e manutenção, assim como seus carros, que ainda são os mesmos de antes da revolução;  seus moradores também vivem como nos anos 50 do século passado. Mas, o que não faltam aos cubanos são os discursos sofistas. Seu comandante supremo, sempre os obrigou a ficar horas escutando seus discursos, os mesmos que pautam todas as matérias do único jornal da ilha. Cuba produz apenas “fidelidade à Fidel”, e é o maior exportador de clandestinos para Miami. 

Aqui no Brasil, os sofistas têm encontrado solo menos fértil para florescer, felizmente. Nosso povo tem mostrado que preserva o bom uso da inteligência em favor próprio. Haja vista as manifestações do ano passado. Não será qualquer discurso sofista, mesmo dotado de  alto grau de sofisticação, como tem aparecido, por mais habilmente camaleônico que seja, nos dará da Venezuela proximidade maior do que a geográfica. Esperança e confiança na inteligência brasileiria posta em uso.

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