A Padroeira de Sorocaba é Nossa Senhora da Ponte.
Aqui no Brasil é o único lugar em que a Virgem é venerada
com este título. A imagem atual, que fica no altar-mor da Catedral,
veio do Porto, em Portugal, em1771.
Segundo o grande historiador sorocabano, Aluísio de Almeida,
tal invocação tem origem mesmo em Portugal. Em uma cidade
do Minho, que se chama Ponte de Lima, existe uma imagem
muito parecida com a daqui. Daí teria surgido o nome Nossa
Senhora da Ponte, significando a Nossa Senhora da cidade de
Ponte de Lima.
Católicos de todo o planeta, no entanto, consideram muito natural
o fato de que Nossa Senhora seja a ponte entre a indigência
humana e a onipotente bondade de Deus. Por meio dela
(servindo como ponte), o “Verbo” se fez carne, e habitou entre
nós. Deus fez-se humano, uniu-se a nós, tornou-se humano, sem,
no entanto, deixar de ser Deus.
Porém, se alguém aplicar uma pesquisa em Sorocaba para
saber qual é o título de Nossa Senhora de maior devoção dos sorocabanos,
sem dúvida vai se certificar de que é Nossa Senhora Aparecida.
Duas vezes por ano, o povo acorda cedo para homenageá-la.
Na madrugada do segundo domingo de julho, os fiéis se reúnem na porta
da Catedral para, depois de participar de uma Missa celebrada pelo arcebispo,
levar uma pequenina imagem para o segundo santuário a ela dedicado, o de
Aparecidinha, em um bairro distante cerca de 15 quilômetros, que o povo percorre a pé.
O mesmo trajeto é feito de volta, depois dos primeiros
raios de sol do Ano-Novo. Aos primeiros raios de sol do primeiro
dia de janeiro, novamente o arcebispo metropolitano celebra a Missa no
Santuário, depois da qual a romaria traz de volta a pequenina
imagem para ser venerada na sua capela da Catedral.
Durante o cortejo a imagem passa pela Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba,
onde os doentes e os que deles cuidam se sentem abençoados e confortados
com tão querida visita.
Dessas romarias, participam dezenas de milhares de pessoas, dos mais
diferentes perfis. Conta-se na cidade, que essas romarias ocorrem desde
1852, mas que as datas foram fixadas a partir de 1899 pelo então
pároco da Matriz (ainda não era Catedral) de Nossa Senhora da
Ponte, Monsenhor João Soares. Na ocasião, havia um surto de
febre amarela e o povo pedia ajuda de Nossa Senhora para a cura
de terrível doença.
Hoje, inúmeras são as necessidades que movem os romeiros,
entre elas, a de agradecer a tantas graças vindas do fato de poder
considerar como sua a Mãe de Deus, e gozar de tudo o que isso significa.
Por essa devoção tão grande, a capela de Nossa Senhora
Aparecida, uma das oito que margeiam a nave da Catedral de Sorocaba,
é a que tem diante de si sempre o maior número de pessoas.
Alí, a história desse título, Aparecida, está contada por uma
pessoa que era ainda um estrangeiro, recém-chegado da Itália,
mas que soube como descrever com grande significado a história
que todos podem compreender sabendo ou não ler.
A pintura de Bruno de Giusti ao redor da pequena imagem mostra,
do lado esquerdo, o momento em que a imagem “aparecia” na rede
dos pescadores. A frágil imagem de Nossa Senhora da Conceição,
que se tornara negra por ter estado tanto tempo no fundo rio Paraíba,
mostrava-se da cor de muitos dos seus filhos que estavam, naquela época,
na condição de escravos. A mãe dava um sinal de que aquilo não
estava certo, queria todos os seus filhos livres.
Tal fato é comprovado pela cena retratada do outro lado.
Um episódio tão contado em todos os ambientes católicos de até
pouco tempo atrás, está (ainda) descrito com total simplicidade
pelo pincel e pela grande sensibilidade do pintor estrangeiro: um
escravo, apesar de ter os braços ligados por pesadas correntes,
fugia do seu dono e era perseguido pelo feitor e seus cachorros.
Quando não aguentava mais, viu uma pequena capela, onde buscou,
instintivamente, o refúgio. Ali se encontrava a pequenina
imagem da Mãe “aparecida” na rede dos pescadores. Caiu de joelhos
diante da imagem com um olhar suplicante; nesse momento,
perante os olhos do feitor, que vinha em seguida, as correntes
caíram milagrosamente.
Para cena, o pintor usou como modelo da figura do escravo
uma pessoa muito popular na cidade chamada Roque.- trecho do livro, inédito, "A Arte Sacra de Bruno de Giusti -
Comunicação e Cultura na Catedral de Sorocaba"
É lamentável o estado em que se encontra atualmente uma obra de arte tão
relevante do patrimônio cultural, de Sorocaba e do catolicismo mundial
Giselle Neves Moreira de Aguiar
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