sábado, 22 de junho de 2013

A mídia e as manifestações populares

            
Os principais veículos de comunicação são também alvo de críticas e até de protestos.
                                                          
           
Andam estranhos os jornalistas no Brasil. Os da televisão com cara de apreensivos, os do rádio nervosos. Demonstram não saber o que pensar e menos ainda o que dizer. Chamam continuamente a atenção do público para os casos de vandalismo.  Transmitem medo.
            
Diversos raciocínios podem explicar o estado desses brasileiros, encarregados do esclarecer à população o que acontece ao seu redor. Recordo-me da época da reeleição de Lula. Naquela época enviei aos mais relevantes veículos de comunicação do país a mesma carta que perguntava como se sentiam, como jornalistas, em relação à sua eficácia profissional, uma vez que passaram horas a fio publicando notícias sobre o mensalão, entre elas a denuncia de pessoas do alto escalão do governo feita pelo então Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, por crimes como corrupção ativa, formação de quadrilha e crimes contra o mercado financeiro.
            
Perguntava-lhes como se sentiam, uma vez que tudo o que disseram não havia surtido efeito, o povo iria eleger novamente aquele que entregou cargos tão importantes a pessoas capazes de cometer tais crimesde  lesa-pátria? Somente um jornalista me respondeu, de alguma maneira.
           
Na época senti uma grande desilusão, ainda não conseguia discernir o que poderia provocar tal comportamento que me parecia inaceitável. Como pode alguém, que trabalha com comunicação, que passa ao povo as notícias das quais deveriam saber, ou pelo menos deduzir, muito sobre o que significam?
            
O mesmo foi sentido quando um importante jornal televisivo fazia a cobertura e evidenciava os recursos, até sórdidos, usados por Hugo Chaves na Venezuela para ganhar as eleições, e como o país caminhava para um cenário de ditadura ideológica. A mesma edição noticiava fatos, acontecidos no Brasil, que indicavam que o nosso país seguia, mais vagarosamente, para o mesmo destino; no entanto, nem um mínimo sinal que estabelecesse um elo entre as notícias foi insinuado. Os jornalistas não teriam percebido? Teriam omitido de propósito? Por qual propósito?
            
Hoje, ao terminar o curso de jornalismo, mais pela maturidade que idade traz do que por causa dele, vejo a grande fragilidade de muitos desses profissionais que acabam se tornando parte do veículo em que trabalham, rádio, televisão ou jornal impresso ou digital. Transmitem as notícias sem alcançar o significado delas. Podem até apresentar um envolvimento emocional com o fato, contra ou a favor, mas não se mostram capazes de estabelecer um link entre os mais diversos fatos que vivem de anunciar, muito menos parecem ser capazes de prever as consequências deles.
            
Os jornalistas de hoje são devorados pela própria produção. Trabalham sempre contra o tempo e sob contínua pressão; não são dotados de tempo suficiente para digerir e assimilar as notícias que eles mesmos transmitem e os efeitos delas para a população que, se não puder assimilar racionalmente os significados das notícias, os intui. O mesmo não acontece com os jornalistas que nem bem terminaram um trabalho que exige toda a atenção, já estão mergulhados em outro da mesma importância.
            
A percepção que o povo tem em relação aos jornalistas ficou evidente nas últimas manifestações populares em que os veículos de maior relevância também viraram alvo de muitas críticas e até de protestos; os que lhes emprestam o rosto, os repórteres, sofreram as consequências.
            
Assim como cobra dos governos o que lhes foi prometido na ocasião das eleições, e que no entanto, não recebem deles o que pagam em impostos, cobram também da mídia a clareza que não apresenta, porque,  na mesma intensidade em que os veículos noticiam os erros dos governos, veiculam também propagandas  elogiosas que os apresentam como se fossem as maiores de todas as maravilhas.  Dessa maneira, os veículos de comunicação têm se comportado como disseminadores de nebulosidades e confusões, sentidas menos pelos jornalistas do que pelo próprio povo visto inúmeras vezes como manipulável.
            
As manifestações de junho mostraram que o povo não é manipulável, muito menos biruta, movido por qualquer vento, como se aprende na escola de jornalismo. Os cartazes continuamente exibidos pelas pessoas que delas participam comunicam a diversidade das reivindicações, as que a grande imprensa insiste em ignorar e até em censurar, porque podem ferir a sensibilidade de quem lhe paga as contas. Enquanto isso, a minoria baderneira ganha sempre o maior espaço, principalmente na televisão. Seria uma tentativa de amedrontar a população e colocá-la contra os pacíficos manifestantes?  Teria a grande maioria de pacíficos manifestantes que se calar, por causa do pequeno número de vândalos? Seria tal situação democrática? Seria justo?

            
Muitos jornalistas hoje se sentem perdidos com as manifestações. Não sabem o que pensar, o que dizer, como agir. Estão ainda aceleradamente  sintonizados com seus veículos, que, por sua vez,  se encontram fortemente sintonizados com os governos. Estão todos surpresos. Todos eles, no fundo, acreditavam nas propagandas feitas pelos publicitários para os governos e consideravam tudo uma maravilha.  Governos, mídia e jornalistas é que são, na verdade, os manipulados. O feitiço virou contra o feiticeiro. O povo, nas ruas, provou isso.

                                                                                                Giselle Neves Moreira de Aguiar
                                                                                                 Sorocaba, 22 de junho de 2013

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