Os
principais veículos de comunicação são também alvo de críticas e até de
protestos.
Andam estranhos os jornalistas no Brasil. Os da televisão
com cara de apreensivos, os do rádio nervosos. Demonstram não saber o que
pensar e menos ainda o que dizer. Chamam continuamente a atenção do público
para os casos de vandalismo. Transmitem
medo.
Diversos raciocínios podem explicar o estado desses
brasileiros, encarregados do esclarecer à população o que acontece ao seu
redor. Recordo-me da época da reeleição de Lula. Naquela época enviei aos mais
relevantes veículos de comunicação do país a mesma carta que perguntava como se
sentiam, como jornalistas, em relação à sua eficácia profissional, uma vez que
passaram horas a fio publicando notícias sobre o mensalão, entre elas a
denuncia de pessoas do alto escalão do governo feita pelo então Procurador
Geral da República, Antonio Fernando de Souza, por crimes como corrupção ativa, formação de quadrilha e
crimes contra o mercado financeiro.
Perguntava-lhes
como se sentiam, uma vez que tudo o que disseram não havia surtido efeito, o
povo iria eleger novamente aquele que entregou cargos tão importantes a pessoas
capazes de cometer tais crimesde lesa-pátria? Somente um jornalista me respondeu, de alguma maneira.
Na
época senti uma grande desilusão, ainda não conseguia discernir o que poderia
provocar tal comportamento que me parecia inaceitável. Como pode alguém, que
trabalha com comunicação, que passa ao povo as notícias das quais deveriam
saber, ou pelo menos deduzir, muito sobre o que significam?
O
mesmo foi sentido quando um importante jornal televisivo fazia a cobertura e
evidenciava os recursos, até sórdidos, usados por Hugo Chaves na Venezuela para
ganhar as eleições, e como o país caminhava para um cenário de ditadura
ideológica. A mesma edição noticiava fatos, acontecidos no Brasil, que
indicavam que o nosso país seguia, mais vagarosamente, para o mesmo destino; no
entanto, nem um mínimo sinal que estabelecesse um elo entre as notícias foi
insinuado. Os jornalistas não teriam percebido? Teriam omitido de propósito?
Por qual propósito?
Hoje,
ao terminar o curso de jornalismo, mais pela maturidade que idade traz do que
por causa dele, vejo a grande fragilidade de muitos desses profissionais que
acabam se tornando parte do veículo em que trabalham, rádio, televisão ou
jornal impresso ou digital. Transmitem as notícias sem alcançar o significado
delas. Podem até apresentar um envolvimento emocional com o fato, contra ou a
favor, mas não se mostram capazes de estabelecer um link entre os mais diversos fatos
que vivem de anunciar, muito menos parecem ser capazes de prever as consequências
deles.
Os
jornalistas de hoje são devorados pela própria produção. Trabalham sempre
contra o tempo e sob contínua pressão; não são dotados de tempo suficiente para
digerir e assimilar as notícias que eles mesmos transmitem e os efeitos delas para
a população que, se não puder assimilar racionalmente os significados das
notícias, os intui. O mesmo não acontece com os jornalistas que nem bem
terminaram um trabalho que exige toda a atenção, já estão mergulhados em outro
da mesma importância.
A
percepção que o povo tem em relação aos jornalistas ficou evidente nas últimas
manifestações populares em que os veículos de maior relevância também viraram
alvo de muitas críticas e até de protestos; os que lhes emprestam o rosto, os
repórteres, sofreram as consequências.
Assim
como cobra dos governos o que lhes foi prometido na ocasião das eleições, e que
no entanto, não recebem deles o que pagam em impostos, cobram também da mídia a
clareza que não apresenta, porque, na
mesma intensidade em que os veículos noticiam os erros dos governos, veiculam também
propagandas elogiosas que os apresentam
como se fossem as maiores de todas as maravilhas. Dessa maneira, os veículos de comunicação têm
se comportado como disseminadores de nebulosidades e confusões, sentidas menos
pelos jornalistas do que pelo próprio povo visto inúmeras vezes como
manipulável.
As
manifestações de junho mostraram que o povo não é manipulável, muito menos biruta,
movido por qualquer vento, como se aprende na escola de jornalismo. Os cartazes
continuamente exibidos pelas pessoas que delas participam comunicam a
diversidade das reivindicações, as que a grande imprensa insiste em ignorar e
até em censurar, porque podem ferir a sensibilidade de quem lhe paga as contas.
Enquanto isso, a minoria baderneira ganha sempre o maior espaço, principalmente
na televisão. Seria uma tentativa de amedrontar a população e colocá-la contra
os pacíficos manifestantes? Teria a
grande maioria de pacíficos manifestantes que se calar, por causa do pequeno
número de vândalos? Seria tal situação democrática? Seria justo?
Muitos
jornalistas hoje se sentem perdidos com as manifestações. Não sabem o que
pensar, o que dizer, como agir. Estão ainda aceleradamente sintonizados com seus veículos, que, por sua
vez, se encontram fortemente sintonizados
com os governos. Estão todos surpresos. Todos eles, no fundo, acreditavam nas
propagandas feitas pelos publicitários para os governos e consideravam tudo uma
maravilha. Governos, mídia e jornalistas
é que são, na verdade, os manipulados. O feitiço virou contra o feiticeiro. O
povo, nas ruas, provou isso.
Giselle Neves Moreira de Aguiar
Sorocaba, 22 de junho de 2013
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