sábado, 22 de outubro de 2011

Uma boa lembrança para (re)acender a esperança. ( Trecho livro: Utopia sob incursão)



     Trecho livro: Utopia sob incursão

(qualquer semelhança não é mera coincidência)
















Capítulo II
                                                 Guida  
           
De que rara usina saía a energia que  mantinha toda São Manoel com vida digna de uma Torre de Marfim?

Esta cidade tinha um tesouro. Uma pessoa muitíssimo especial: Francisca Margarida
Gertrudes, mais conhecida como Guida.
Sua história pode ser resumida assim:

Nasceu em uma cidade próxima, Custódia, no início do século XX. Por volta dos quatro anos de idade, transferiu-se com sua família para São Manoel onde cresceu e se transformou numa jovem  “filha de Maria” (pertencia, com muito gosto, à Irmandade das  filhas de Maria). 

Desde muito cedo, constatou, através de sua  perspicácia inata, que as riquezas espirituais são muitíssimo reais  e infinitamente mais valiosas do que todo o somatório das riquezas materiais. Por volta dos dezoito anos, caiu de um pé goiaba, vindo  a ficar paralítica . . . (página 29)

                             Capítulo III
                          Guida e a cidade
                      

 Guida era como pano de fundo para São Manoel; sentindo e participando de todos os seus acontecimentos, embora reclusa  em seu quarto de casa de fazenda da qual nunca mais saiu. 

Morava a cerca de dois quilômetros da cidade, no sítio com sua irmã Belinha, depois da morte dos pais.  Recostada no seu catre, confeccionando flores miúdas para enfeitar algum altar, ou fita da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus. Seu espírito, extremamente vivo, dava conta de tudo; muitíssimo mais do que a maioria das pessoas pudessem perceber.
     
Quando viviam problemas ou dificuldades, as pessoas recorriam às orações de Guida. Ela sempre tinha uma palavra de conforto  e confiança no Sagrado Coração de Jesus, refém de seu amor aos seres humanos. Todos os que se encontravam com ela saíam de lá fortalecidos e confiantes.
     
Da porteira da propriedade ainda era preciso andar quase meio quilômetro até a casa. Muitas vezes esse caminho estava cheio de gente que vinha de todos os lugares para pedir as suas orações, seus conselhos e orientações.
     
Padre Lino Salles deu abertura em um livro de visitas, onde se anotava os nomes e lugares das pessoas que vinham visitar Guida.   Agora existem vários livros cheios de assinaturas de pessoas dos mais diversos lugares. Belinha, sua irmã, fazia milagres para servir café e bolo. O pessoal da cidade ajudava, além de uma família rica, a Andreolli, de uma cidade vizinha, que praticamente “adotou” Guida e fazia questão de atender muitas de suas necessidades materiais.
                 
             A caminhada da cidade até o sítio da Guida durava mais ou menos quarenta minutos, mas era possível ir de táxi.  No início havia poucos carros na cidade e a população usava muito “os carros de praça”. Os motoristas sabiam contar uma infinidade de graças alcançadas pelas inúmeras pessoas que lá iam e voltavam nos seus automóveis.
            
                Mesmo depois que ela parou de receber visitas por ordem do senhor arcebispo ninguém padecia de dor alguma, no corpo, na alma ou no coração que não pudesse ser aliviada  com um bilhete escrito à Guida, pedindo-lhe as orações. Bilhetes, levados pelos sacerdotes e ministros da comunhão eucarística que lá iam levar-lhe o Sacramento. Ninguém ficava sem resposta. Ela mandava de volta uma palavra de conforto, esperança e principalmente confiança no poder  e no amor do Sagrado Coração de Jesus; junto com algum livrinho de orações, um terço e um “santinho” para marcar as nove comunhões reparadoras das primeiras sextas-feiras. Mandava dizer que estava rezando junto e que a pessoa confiasse que o Sagrado Coração de Jesus daria alívio e conforto.
           
                Além de tudo isso, na mesma ocasião em que parou de receber visitas, ela ganhou uma linda imagem de Sagrado Coração de Jesus de um fazendeiro muito devoto, cujas filhas eram grandes amigas suas. Ela pediu que a imagem fosse levada  para a igreja matriz, onde ganhou um nicho especial. Disse então que todos aqueles que pedissem uma graça ao Sagrado Coração de Jesus contemplando aquela imagem, considerasse que ela estaria junto, endossando o pedido. E inúmeras graças são ainda alcançadas desta maneira.
               
              Ela tinha várias caixas com incontáveis santinhos marcados com as novenas que as pessoas faziam, alcançavam graças e depois  mandavam para ela o santinho todo preenchido com as  datas das comunhões reparadoras. Ela dizia que aquele era o seu tesouro: verdadeiros atestados de que o Sagrado Coração de Jesus estava feliz com as pessoas que fizeram as novenas, e as pessoas muitíssimo felizes por terem alcançado suas graças. O seu tesouro era um arquivo de felicidade!
          
                Todos na cidade conheciam a Guida, mesmo os que nunca a tinham visto por terem nascido depois que ela parou de receber visitas. Todos sentiam o conforto da sua presença lá no Belo Vale como chamava o lugar onde ficava o seu sítio, sem que se pudesse vê-la facilmente.
               
                Ninguém achava nada demais o fato dela não comer e não beber nada e nunca, a não ser a Sagrada Eucaristia. O povo muito cristão e muito devoto compreendia muitíssimo bem o  milagre que lhe tinha acontecido: Por volta dos seus 18 anos caiu  de um pé de goiaba, vindo a ficar paralítica; mas só do corpo porque  era dotada de uma alma de rara agilidade nos assuntos da fé e da  verdadeira caridade cristã.
                
                 A vida de Guida mostrava as maravilhas que Deus pode operar  através de uma pessoa mesmo que ela seja mulher, pobre, sem  cultura acadêmica, reclusa na área rural, doente, paralítica  e idosa, que vivia em clausura permanente.Ela tinha todos os motivos para se sentir uma  pessoa excluída, marginalizada, e, portanto revoltada se pretendesse se  enquadrar no discurso das pregações modernas. 

                  No entanto,  pessoalmente, era a pessoa mais feliz da face da terra. Não tinha carência de absolutamente nada. Tinha o Próprio  Deus junto de si. Não precisava nem mesmo de comida e bebida  material. Esse fato era apenas um insignificante detalhe para ela. Não sentia falta de nada.Embora presa ao seu leito, tinha uma  vida totalmente normal. 
                  
                   Era uma boa “sitiante”. Sabia negociar, gerir os negócios, tinha um espírito empreendedor com o qual ajudava a  muitas pessoas em suas necessidades materiais e espirituais, com conselhos cheios de sabedoria. Essa capacidade se manifestava  mais na divulgação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Basta ver o número de adeptos da Irmandade do Sagrado Coração  de Jesus em São Manoel.
                  
                   Não existia, praticamente, em São Manoel uma casa onde não se tinha alcançado uma graça por intercessão da Guida;  através de suas orações quando viva ou após a sua morte, pedindo a sua intercessão ao Coração de Jesus. Guida sempre foi um ponto de referencia para a fé em São Manoel e região. Sempre teve todo o respeito e carinho de toda a população e o apoio de todos os sacerdotes que lá serviam a Deus.E de muitos outros que vinham às vezes de longe para pedir as suas orações.
       
Um grande grupo de senhoras da cidade fez uma novena ininterrupta ao Sagrado Coração de Jesus no quarto dela; dia e noite, elas se revezavam em orações de louvores e em desagravo.  Ao final todas elas assinaram um documento enviado ao  senhor arcebispo da arquidiocese, atestando que em nenhum momento ela tomou algum alimento, ou bebeu água, ou dormiu, ou ainda, tenha atendido a alguma necessidade fisiológica.  O quê, para um povo rico em espírito, não era nada de mais. Era um povo acostumado a não colocar limites no poder de Deus.

       Nos anos 50 e início dos 60 do século XX, a existência de uma “santa” na cidade era algo natural e simples, sendo a população, quase toda formada por católicos, tinha-se a consciência de que Deus Se mostrava presente e cuidava de cada pessoa com grande desvelo e carinho. Com toda simplicidade os habitantes de São Manoel e de várias outras cidades simplesmente aproveitavam com todo respeito as graças que recebiam e os  muitos milagres que não conseguiriam entender, muito menos explicar.
         
       As pessoas tinham um relacionamento muito íntimo com o Sagrado Coração de Jesus. Algumas tinham experiências de grande enlevo místico e os contavam uns aos outros com a maior naturalidade. Entendia-se com o Sagrado Coração de Jesus e com Nossa Senhora; eram amigos dos santos e do céu recebiam sinais que para eles eram grandemente significativos e se traduziam em atitudes e efeitos nas suas vidas e/ou nas de seus familiares.  Esses sinais para quem não tem uma visão espiritual não significariam nada, por exemplo: receber uma flor, ou a “visita” de um beija-flor.
         
O pássaro beija-flor era um sinal de comunicação entre o Sagrado Coração de Jesus, Guida e seus amigos.




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