O Papa Emérito, Bento XVI, na sua exortação apostólica pós-sinodal VERBUM DOMINI(§87), resume sabiamente o ensinamento de como devemos nos aproximar das Sagradas Escrituras para delas tirar proveito e alimento que proporcione frutos de grande eficácia para o nosso próprio bem e de toda a humanidade, o que constitui a glória de Deus
"...à lectio divina ( leitura orante da Bíblia), que é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva. Quero aqui lembrar, brevemente, os seus passos fundamentais: começa com a leitura (lectio) do texto, que suscita a interrogação sobre um autêntico conhecimento do seu conteúdo: o que diz o texto bíblico em si? Sem este momento, corre-se o risco que o texto se torne somente um pretexto para nunca ultrapassar os nossos pensamentos.
Segue-se depois a meditação (meditatio), durante a qual nos perguntamos: o que nos diz o texto bíblico? Aqui cada um, pessoalmente mas também como realidade comunitária, deve deixar-se sensibilizar e pôr em questão, porque não se trata de considerar palavras pronunciadas no passado, mas no presente.
Sucessivamente chega-se ao momento da oração (oratio), que supõe a pergunta: que dizemos ao Senhor, em resposta à sua Palavra? A oração enquanto pedido, intercessão, ação de graças e louvor, é o primeiro modo como a Palavra nos transforma.
Finalmente, a lectio divina conclui-se com a contemplação (contemplatio), durante a qual assumimos como dom de Deus o seu próprio olhar, ao julgar a realidade, e interrogamo-nos: qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede? São Paulo, na Carta aos Romanos, afirma: " Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o se lhe é agradável e o que é perfeito" (12,2)
De fato, a contemplação tende a criar em nós uma visão sapiencial da realidade segundo Deus e a formar em nós "o pensamento de Cristo" (1Cor 2,16). Aqui a Palavra de Deus aparece como critério de discernimento: ela é "viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; penetra até dividir a alma e o corpo, as junturas e as medulas e discerne os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4,12). Há que recordar ainda que a lectio divina não está concluída, na sua dinâmica, enquanto não chegar à ação (actio), que impele a existência do fiel a doar-se aos outros na caridade.
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