quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Conselho Popular: você conhece um.




A maioria dos brasileiros conhece muito bem  os tais “Conselhos Populares”, embora  ignorem as reais finalidades deles. Atua neles, até protagoniza, passivamente.

 Tem causado polêmica  o decreto  n. 8.243, de 23  de maio de 2014 que submete os movimentos sociais à coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República. Partidos políticos, protestam e o governo usa todas as suas forças para impingir o famigerado decreto, dourando a pílula com recursos de sofismas.

Artigos assinados por quem entende, dotados de respaldo e conhecimento, têm sido publicados explicando o quanto tal decreto é nocivo; porém, quem acompanha atentamente a mídia e a vida no quotidiano não precisa  ser nenhum especialista para entender as intenções por trás de tal decreto.

Muitas pessoas, dos mais diversos segmentos, já experimentaram fazer parte de algum conselho na sua comunidade, entre eles os chamados conselhos paroquiais, cujos propósitos anunciados são, ou eram até certo tempo,  os mesmos do decreto 8. 243 da Presidência da República  com "o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil." (Art. 1º); no caso dos paroquiais seria entre os fiéis e a "igreja particular”.

 Os membros de tais conselhos são todos ‘convidados'  e cada um se sente feliz  ao ser chamado à participar de decisões sobre ações que beneficiarão sua comunidade. Mas, já nas primeiras reuniões sente diminuir a alegria porque, sem que ninguém fale ou explique, cada reunião já começa tendo sua pauta rígida em todos os sentidos. Nenhum assunto é proposto, para ser discutido, avaliado, ponderado por um número de cabeças pensantes, cada uma com seu repertório de conhecimentos a serem partilhados, a respeito de determinado assunto de interesse coletivo. 

Trata-se, na verdade da participação em algo já decidido, quase sempre por uma única pessoa ou por um grupo bem pequeno. Na maioria das vezes, quem coordena a reunião apenas transmite o que foi decidido à sua revelia.

O incauto que se atreve a emitir a sua verdadeira opinião é visto como uma aberração, principalmente se a opinião for contrária ao objetivo da reunião que acontece apenas para chancelar a decisão pelo aval  do “Conselho”.

Um clima desconfortável se estabelece. Ninguém se atreve a emitir opinião.  Até que surge a primeira manifestação de aprovação, geralmente feita por pessoa de natureza muito emocionável, que adere à ideia somente pela aprovação da coordenação, sem, na verdade, ponderar o mínimo a respeito do que se trata a decisão. 

As outras pessoas acabam contagiadas pelo clima; estabelece-se um novo ambiente, artificial e violento para a consciência. Uma vez  que tais ideias são ‘inseridas' na comunidade, os outros integrantes dela, para serem bem vistos, vão se desconstruindo, abandonando suas convicções, para assumir outros valores, muitas vezes antagônicos aos antigos, propostos pelos “novos líderes”.

 No novo clima, as pessoas mais relevantes, as mais entusiasmadas, galgam os postos de destaque na vida da comunidade, embaladas pela vaidade  estimulada  através do ‘reconhecimento do seu valor’ pelo novo e maravilhoso líder; se sentem e se mostram cada vez mais 'importantes', daí para adquirirem um comportamento arrogante basta apenas um passo. Por serem, na maioria, muito pouco letradas, aderem visceralmente às novas ideias, e se tornam verdadeiros canhões ideológicos, prontos a proferir  palavras de ordem e  adjetivos (des)qualificativos aos que ousam interferir de alguma maneira nos novos e inconfessados objetivos que passam a vigorar. 

Nesse ambiente, as pessoas mais letradas e sensatas se afastam da vida ativa da comunidade. 

Um terrorismo silencioso, muito mais doloroso, atinge as consciências.Pais veem seus filhos praticar atos antes condenáveis e reivindicar aprovação e elogios. Pessoas dilaceradas compõem as famílias, divididas entre o amor ao membro de comportamento estranho e a própria consciência que clama por manifestação de condenação em defesa dele próprio. Reina a esquizofrenia.

Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis por tanto sofrimento, os líderes que aparecem só de vez em quando, continuam a receber homenagens, tratados como celebridades, cultuadas quase como santos. O povo, que não mais pondera, não constata que são  os tais, os responsáveis por sua dor e sofrimento;  eles, quando aparecem, só falam de coisas positivas com voz e maneiras melífluas ou efusivas.  O trabalho de desconstrução já foi realizado, “democraticamente", com a participação direta da comunidade local, pela aprovação do “Conselho”. Ao grande líder cabe apenas tomar posse das consciências dos novos escravos mentais, a serem usados…

Uma observação feita com mais acuidade mostra que  em grande número das cidades pequenas do interior do país, tal fenômeno acontece em todas as áreas. Tudo foi politizado à nova maneira, e nos mais diversos “Conselhos" o modus operandi é sempre o mesmo. Deve ser por tal razão que o Sr. Ministro responsável pela Secretaria Geral da Presidência diz que o decreto visa apenas a coordenação do que já existe…

Giselle Neves Moreira de Aguiar

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