Está cansada(o) de tanta corrupção, até, e principalmente, nas novelas?
A criatividade da maioria dos autores e diretores tem sido focada em impactar o público, que vai mergulhando em atrocidades cada vez mais profundas. O nível de emoção precisa ser alto para “segurar” a audiência , medida pelo IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - , que garante os altos preços dos anúncios do intervalo, e o emprego de grande número de pessoas envolvidas na produção.
Na televisão tudo é feito “para ontem”, “O tempo ruge e a Sapucaí é grande” como diria Giovanni Improtta, personagem criada por Agnaldo Silva, intepretada por José Wilker na novela “Senhora do Destino”. Assim, o tempo de assimilar, compreender através do desenvolvimento da trama, o comportamento de cada personagem, sua identidade, características, virtudes e qualidades, que traz o bom efeito da literatura à novela, é considerado perdido.
As novelas hoje são apoiadas no impacto emocional; ou se adora ou odeia uma figura de acordo com o glamour com o qual é cercada na narrativa televisiva, não importa, nem mesmo, sua atitudes e comportamento, que variam ao sabor dos interesses midiáticos.
Faz mal assistir a tantas novelas nas quais o espírito sofre uma verdadeira surra, sendo exposto a contínuas situações estressantes, por exemplo: ainda sob o impacto de uma cena que agrediu o senso de respeito assistir outra em que o conceito de amor é questionado. Com o tempo chega a exaustão mental. Não há quem possa manter o equilíbrio emocional sadio e gozar de bom discernimento depois de assistir a tantas novelas, nas quais o grau de violência (de todos os tipos) é cada vez mais alto.
No cenário sombrio e aterrorizante da nossa teledramarturgia ( Carrossel é uma criação mexicana, assim como a série “Chaves”) surge “Meu Pedacinho de Chão’‘ como um refrigério para o espírito brasileiro.
Seu exagero aparece apenas nos enfeites dos cenários e dos figurinos, mas, se a princípio assusta tanta doçura, depois, como se fosse um saboroso sorvete que se soubesse jamais fazer mal, o espírito se entrega . Fica totalmente à vontade diante da linda “perfessorinha” e das “mardade” do Epaminondas Napoleão, o ‘Epa’, das quais, no fundo, ninguém tem medo.
Fica feliz assistindo o desenrolar das histórias: a do menino Serelepe, um menor abandonado que recebe carinho e cumplicidade de quase todos, a da sua amiga Pituquina, a das paixões dos jovens promissores pela professora e, também, a do rústico Zelão, que exibe um coração de ouro... O espectador se vê respeitado, sentindo tudo o que gostaria de sentir, uma completa sensação de conforto, quando o intelecto está em harmonia com o sentimento.
Os cenários exuberantes, nos levam para o tempo dos contos de fadas, que ouvíamos ou líamos quando criança e que tinham o condão de acariciar nossa imaginação e conduzir o pensamento a arquitetar roteiros de sonhos, cheios de boas esperanças para o futuro.
É, portanto, uma atração recomendada para crianças de todas as idades. O único pré-requisito para dela tirar proveito é ter um um coração sadio o suficiente para reconhecer conceitos de simplicidade, naturalidade, respeito, consideração e outros sentimentos similares.
Meu Pedacinho de Chão é uma fábula, como bem foi anunciada pela emissora. Benedito Rui Barbosa, o autor, Luiz Fernando Carvalho, o diretor, e um elenco de ‘tirar o chapéu’ merecem nossos aplausos e gratidão por trazer um pouco de saúde mental ao mundo do entretenimento, a cada dia mais louco...
Giselle Neves Moreira de Aguiar
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