quarta-feira, 30 de abril de 2014

Noé



Por todas as mídias, e principalmente entre pessoas religiosas, estão os comentários cheios de desapontamento sobre o filme dirigido por  Darren  Aronofsky, estrelado por Russell Crowe. 

Os mais antigos esperavam algo como  “Os  Dez Mandamentos”  e “Ben Hur”, ambos estrelados por Charlton Heston; o primeiro, produzido em 1956, foi dirigido por Cecil DeMille,  e o segundo por William Wyler em 1959,  os dois foram fiéis à narrativa da Bíblia.

O Noé de Aronofsky perde o pai, assassinado por descendentes de Caim, logo nas primeiras cenas, quando ele seria iniciado no ritual religioso que evocava Adão (pai também de Caim) e Set, seus ancestrais.   Em seguida já aparece casado com Naameh  com dois filhos pré-adolescentes, Sem e Cam e um de colo, Jafet.   Por meio de um sonho profético,  sabe que o Criador irá destruir o mundo. Decide partir com a família à procura de seu avô Matusalém. No caminho acolhem a menina Ila, sobrevivente de um massacre em um vilarejo. 

Após encontrar o avô descobre que deverá construir uma arca que abrigará os seres inocentes da criação, os que não haviam se corrompido, os animais de todas as espécies, sempre em casais, macho e fêmea. 

A confecção da arca acontece por meio de diversos milagres. Primeiro florestas crescendo quase instantaneamente, depois, a ajuda de imensos seres de pedra, os Guardiões, que seriam demônios arrependidos.  Quando ela estava pronta e prestes a  ser usada, aparecem os descendentes de Caim, chefiados por seu rei Tubal, resolvidos a toma-la. A partir daí as diferenças entre o relato bíblico e o filme são cada vez maiores.

Porém, apesar das inúmeras referências, alheias ao cristianismo, mencionadas em diversos artigos como  fontes para o filme, ele me parece prenhe de genuíno pensamento cristão. Especialmente se apartarmos o Noé do filme do Noé bíblico. O último seria apenas uma imagem, uma ilustração da narrativa de uma profecia perfeita para os humanos do século XXI.

Apesar de todas as diferenças, o filme parece mostrar a afirmação de valores cristãos  diante dos contrários a eles que hoje teimam em prevalecer. Vejamos porque:

O Noé do filme, embora alheio ao bíblico, confirma o livro do Gênesis, quando se diz descendente de Adão, expulso do Paraíso,  o filho dele, Set seria seu ancestral. Confirma também que foi o ‘Criador’ o autor do mundo.  A explicação que dá, por meio da Teoria da  Evolução de Darwin demonstra que ela própria é apenas a explicação do mecanismo de como aconteceu a criação feita por Deus, o  Autor do Big Bang.

 Desde o início, a bondade do Noé de Aronofsky está associada ao veganismo. Ele  e sua família não comem carne de animais e associa a maldade dos descendentes de Caim ao fato de caçarem e comerem animais, as únicas criaturas que permaneceram ‘inocentes’ segundo seu critério. Pensamento que  tem grande número de seguidores na atualidade.

O filme é pródigo em demonstrar o poder e a bondade de Deus para com seus escolhidos. Milagres acontecem de todas as maneiras, em várias ocasiões, principalmente por meio de Matusalém, o idoso, o guardião dos tesouros da memória da família, que se mantém  enclausurado, sempre em contato com o Criador. Imagem que as religiões, das mais diversas culturas, transmite a respeito dos idosos.

Observa-se, também, o respeito à natureza quanto à reprodução. Animais, de todas as espécies, estavam em casais de macho e fêmea. O Criador, Todo Poderoso, poderia suprimir essa necessidade, caso não fosse importante. 

Depois da arca pronta, aparecem, como ameaça, os descendentes de Caim (o que matou seu irmão Abel no relato bíblico) e Noé, que perdera o pai muito cedo se vê com responsabilidade maior do que a do próprio Deus sobre os destinos de cada membro da sua família.  A mercê do próprio raciocínio,  ameaça interferir até na mesmo Lei Natural, e tem atitudes de quem  valoriza mais  as próprias  ideias do que a família. Segundo sua vontade, submissa aos  surtos de veganismo, toda a família deveria morrer, naturalmente, depois da tempestade, uma vez que também eram impuros, somente os animais deveriam povoar a face da terra. 

Nesse ponto Naameh, interfere. Sem nenhum arroubo de feminismo, ela buscara se aconselhar com quem detém sabedoria pelo tempo vivido, Matusalém. Sentia a dor seus filhos, Cam e Jafet, que não teriam esposas depois do dilúvio.  Sabia que a natureza, inclusive a humana, impele à reprodução, e  acreditava que  Criador não iria contra a leis da natureza criada por  Ele mesmo. Não concorda com Noé. Quando Ila engravida de seu filho Sem, milagrosamente, por intervenção de Matusalém, uma vez que era estéril, Noé decide que matará, ele próprio, a criança, se for uma menina, assim que nascer. Naameh se posiciona claramente contra, e faz tudo o que pode para que tamanho mal não aconteça. Sua posição fortalece Ila que, de maneira fascinante, maternalmente  feminina, consegue domar a loucura do sogro, prestes a assassinar as duas netas gêmeas, recém- nascidas.

Segundo o pensamento cristão, Deus provê, aos que estão de acordo com Ele, o conhecimento necessário para assumir posições carentes de aprovação dos que exercem a chefia. Assim, Cam tomou conhecimento de que poderia se alimentar dos animais para ter, como eles, firmeza e coragem para defender a existência da própria natureza, criada por Deus, à Sua semelhança. Quem o ensina, é Tubal Caim, que estava clandestino na arca.

Quando já estabelecidos em terra firme, e depois de ter plantado a vinha, colhido as uvas e produzido o vinho, tal como o da Bíblia, Noé  se embriaga e fica nu.  É Cam quem chama a atenção da família para a nudez do patriarca.

 O filme trouxe, a meu ver, a mensagem de que, para cada criatura divina, o importante é confiar e querer seguir os planos do Criador, específicos para cada uma delas, uma vez que é Sua característica ser onisciente e onipresente,  podendo, portanto, atender, com solicitude,  às necessidades singulares de cada uma. Desde que Lhe manifestem a mesma atenção e importância que Ele dispõe a cada uma das obras de suas mãos... Muito, muito mais do que confiar nas outras criaturas... Nem mesmo em Noé.

Giselle Neves Moreira de Aguiar

Ficha do filme:

Direção: Darren  Aronofsky
Noé : Russell Crowe
Naameh: Jennifer Connely
Sem:  Douglas Booth
Cam: Logan Lerman
Ila: Emma Watson
Matusalém: Anthony Hopkins
Jafet: Leo McHugh Carroll
Tubal  Caim: Ray Winstone

Trailer:





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