domingo, 17 de novembro de 2013

Sobral, o homem que não tinha preço

Cartaz da divulgação 
Antes de ler  este artigo, sobre o documentário de Paula Fiuza, é recomendável ver o trailler e a sua sinopse. ( Para os que não o viram )


                Tempos difíceis estes últimos, vividos na grande Babel que se tornou o mundo, feito pequeno por conta da internet.Tempo em que cada pessoa fala o que vê e sente, segundo seu repertório de vida. Assim também o fizeram, em depoimentos, a filha e os netos de Sobral Pinto, mais especificamente Paula Fiuza, a diretora do filme. Porém, há de se observar uma linha firme que une o raciocínio dos depoimentos de seus parentes: todos demonstram um profundo orgulho e admiração pelo exemplo dado pelo pai e avô. 
       É preciso notar também a solidão de Sobral, até mesmo na própria família. O documentário deixa transparecer, mais fortemente nos mais jovens, que a figura do avô, enquanto vivo, não era muito admirada na família; era, talvez, vista como a maioria dos jovens das últimas gerações vê os mais velhos, com um misto de certa vergonha e até como alvos de despretensiosos deboches. O passar do tempo, no entanto, e o bom exemplo dele comparado aos dos “heróis da atualidade”, apresentou-lhes a ‘real’ figura do avô; mas, ainda, uma figura construída segundo a visão permitida pelo repertório adquirido no meio cultural em que viveram, onde as religiões são descritas como vilãs e guardiãs da ignorância. Assim pelejam para descrever o avô, cuja alma está a quilômetros, em altura, das almas movidas pelo pesado espírito materialista que molda pensamentos e raciocínios das novas gerações.
            No filme, os depoimentos dos juristas, políticos e jornalistas evidenciam o bem extraordinário que tais pessoas viram em Sobral, mas nenhuma pôde captar e, menos ainda, expressar o espírito que o movia, a sua religiosidade que, aliás, foi quase totalmente omitida no filme, como se fosse, talvez, algo que tirasse o brilho da pessoa dele.

            No entanto, a religiosidade de Sobral era a usina de onde vinha toda a sua energia cívica, o que o impedia de suportar o sofrimento humano vindo de injustiças praticadas por seus semelhantes. Ele assistia, diariamente, a Santa Missa. A comunhão eucarística do corpo e sangue de Cristo era seu alimento para o corpo e para alma, e que lhe dava a lucidez e a energia para ver e agir, em cada situação, com a simplicidade dos que se sabem frágeis e que têm a total noção das ameaças à integridade de sua pessoa, as mesmas que atingem cada ser humano, considerado seu irmão de criação e membro da família constituída pelo incontável número de seres humanos, tão frágeis como ele. Todos, extremamente dependentes de Deus, cuja presença ele buscava nos primeiros atos de cada dia  seu, na Santa Missa. Portanto, na sua visão cristã, só existiam vítimas entre torturados e  algozes, e cabia a ele, como advogado da Justiça, esclarecer aos algozes a ignomínia de suas atitudes, para livrá-los da autoria das atrocidades, tanto quanto a necessidade que tinha de livrar as vítimas dos abusos de autoridade. 


           O documentário  também mostra casos em que ele afirmava a alguns de seus defendidos que  seu interesse era defender  o Direito Universal dos seres humanos e não as causas particulares que os moviam. Foi muitas vezes incompreendido, perseguido e até preso por defender suas convicções. Na verdade, Sobral viveu até às última consequências a sua filiação divina, a do verdadeiro católico. A sua vida se encaixa perfeitamente nesta passagem do Evangelho de São Lucas:

            "Disse-lhes também: Levantar-se-ão nação contra nação e reino contra reino. Haverá grandes terremotos por várias partes, fomes e pestes, e aparecerão fenômenos espantosos no céu. Mas, antes de tudo isso, vos lançarão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença dos reis e dos governadores, por causa de mim. Isto vos acontecerá para que vos sirva de testemunho. Gravai bem no vosso espírito de não preparar vossa defesa, porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários. Sereis entregues até por vossos pais, vossos irmãos, vossos parentes e vossos amigos, e matarão muitos de vós. Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação.” - Luc. 21,10 -19 -

          Seu único interesse sempre foi o Reino de Deus como é descrito nos evangelhos. Tinha grande sensibilidade quanto as ameaças à liberdade, condição fundamental para o conhecimento e adesão à doutrina cristã. Essa sensibilidade e grande zelo pela liberdade é demonstrada no seu livro: “Teologia da Libertação, o materialismo marxista na teologia espiritualista”, onde denuncia, com o mesmo ardor que defendia os direitos dos marxistas, quanto à integridade física e a liberdade de expressão, a violenta invasão do marxismo na Igreja, causando grandes danos à integridade da sua doutrina e a liberdade de culto e consciência religiosa, inerente a TODOS os seres humanos.

         Heráclito Fontoura Sobral Pinto foi um homem de vastíssimo conhecimento que viveu com total simplicidade sua vida de cristão católico. Não é difícil imaginar como se comportaria nas manifestações populares de Junho de 2014 e, sobretudo, quanto ao julgamento do mensalão! 

                                                                                   Giselle Aguiar, novembro de 2013


Ficha Técnica do filme:
Direção: Paula Fiuza
Produção Executiva: Augusto Casé
Roteiro: Paula Fiuza
Direção de Fotografia: Jacques Cheuiche, ABC
Som Direto: Valeria Ferro
Pesquisa: Antonio Venâncio, Maria Byington e Cristina Vignoli.
Música Original: Marcos  Kuzka Cunha
Direção de Arte: Gisela Fiuza
Uma co-produção Casé Filmes & Canal Laranja
2012 – 84 minutos

Informação à Imprensa:
Casé Assessoria




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