sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Quem construiu nosso patrimônio histórico?




Numa rede social, há cerca de dois meses, vi um post que mostrava uma fotografia de uma igreja construída nos anos 1500, e o autor afirmava que ela fora construída pelos jesuítas. No mesmo texto ele se corrigia, dizendo que fora construída pelos índios, escravizados pelos religiosos.
Fiz uma pergunta nos comentários: O projeto também? 
O autor me respondeu dizendo que os padres escravizaram e dizimaram os índios. Fez uma narrativa que pintava os religiosos, que trouxeram a civilização e o progresso à nossa terra, como execráveis e maldosos exploradores de fracos e oprimidos.

Pouco tempo depois, ouvi um padre “progressista” explicando, numa homilia, que tal igreja não fora construída por “padre Fulano” mas pelos operários (!), enfatizava ele.

 Posteriormente,  li, numa reportagem de jornal, que determinada igreja, de 350 anos, fora construída “pelos escravos de Fulano de Tal”.

Quem observa pode ver o alto grau de preconceito contra a religiosidade que grassa nos meios culturais; plantado por quem, e com que interesse?

  Observamos pessoas, que usam todos os recursos da comunicação com o objetivo de subjugar inteligências por meio de pretensiosa demonstração de saber, mas que, na verdade fazem apenas uma filtragem e seleção de meias verdades visando interesses ideológicos. 

 É preciso considerar que, além de reconhecer a importância do trabalho físico dos operários, o valor de outros trabalhadores também precisa ser notado; portanto, os que divulgam tais afirmacões ficam devendo, a pobres mortais, respostas para as seguintes perguntas:

  • Nos séculos XVI, XVII e XVIII, os escravos e indígenas seriam capazes de, usando, os poucos recursos da época, projetar e definir cada detalhe de uma construção sofisticada? Para realizar tais obras, tão bem construídas que permanecem até nossos dias, poderiam usar os mais profundos conhecimentos da ciência em vigor no seu tempo?  Teriam desenvolvido as aptidões artísticas através das técnicas aprendidas pelo acúmulo das descobertas de várias gerações de trabalhadores do ramo?
  • Seriam capazes de gerir a construção, providenciando recursos financeiros e materiais para tão grandioso empreendimento na época?

Caso continuem firmes na sua afirmação, de que foram os escravos e indígenas os autores de tais edificações, os divulgadores de tais ideias haverão de convir que seu raciocínio deve atingir também as construções mais modernas. 

Dessa forma, segundo tal ideologia, a construção de Brasília, seria uma obra de autoria dos chamados “candangos”, os trabalhadores do Norte e Nordeste que para lá foram, movidos pela grande oportunidade de trabalho e progresso; assim como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitscheck apenas exploradores do trabalho alheio, como  quer fazer crer que  sejam os religiosos!
 
                                                                                   Giselle Aguiar, novembro de 2013 

Nenhum comentário:

Postar um comentário