domingo, 21 de abril de 2013

Exposição “Vestes Sagradas”: um ‘link para pensar’ no sentido do trabalho humano.




                “E eu pensava: este templo ainda não é bastante duradouro, apesar do seu carregamento de ornatos e de objetos preciosos que custaram longas vidas humanas. Não importa que o enriqueçam esse mel de tantas gerações, essas filigranas de ouro, esses dourados sacerdotais por que se trocaram lentamente velhos artesãos, e essas toalhas bordadas, onde doces velhinhas (...) queimaram lentamente os olhos ao longo da vida, verdadeira cauda real que  deixaram atrás de si.

                (...) E aqueles que nos nossos dias as veem dizem de si para si: "Que bonito é este bordado! Que lindo..." E venho a descobrir que estas velhinhas fiaram a seda nas metamorfoses delas próprias. “Não se sabiam tão prodigiosas.”

                (...) E então é vê-los trocarem-se  alegremente por coisas mais valiosas do que eles próprios. E nascem os pintores, os escultores, os gravadores e o s cinzeladores. ”- Saint-Exupéry, no livro Cidadela –


Paramentos  latino-americanos antigos

Detalhes do fino trabalho de bordado com fios de ouro

            Uma visita à exposição “Vestes Sagradas” que acontece no Espaço São Bento neste mês, diariamente de 10 às 19 horas, e que reúne preciosos paramentos litúrgicos da América Latina dos séculos XVII ao XIX fez-me lembrar esse trecho de livro.
            Vivemos um tempo cheio de novidades, mas para que continuemos a dar valor às novas descobertas é preciso “re-conhecer” o trabalho e a dedicação dos que nos antecederam no tempo e na vida. Os passos que deram  para que desfrutemos hoje de tanto conforto e comodidade.
            Para chegar à automação de uma linha montagem é preciso que cada peça e cada detalhe tenham sido repetidos muitas vezes até alguém inventar um novo jeito de tudo acontecer de maneira mais fácil e mais rápida. Antes da produção em série é preciso que antes tenha acontecido algum tipo de arte.  Por isso, uma peça única, feita à mão, guarda grande distância das que são feitas em série porque traz em si  muito de humanidade.
            Observar cada rico detalhe de cada trabalho ali apresentado, considerar as dificuldades que se tinha naquele tempo, quando tudo era feito à mão, a contínua descoberta de técnicas, modos e maneiras de alcançar o nível mais próximo da Perfeição traduzido num “trabalho manual” conduz à indagação:
            O que movia tais pessoas com esse intuito de produzir o belo, o mais perfeito possível, para isso gastando o tempo e se desgastando sem perceber? O trocar-se por algo maior e melhor.
            Já há muito ouvimos que os humanos existem como os minerais, respiram como os vegetais, se reproduzem como os animais, mas só eles são capazes de arquitetar, inventar e criar, propriedades que fazem deles imagem e semelhança de Deus.
            Os trabalhos expostos este mês no Espaço São Bento lembram bem que, assim como os outros irmãos de criação, para ter real valor é preciso estar continuamente se transformando na espécie de maior complexidade e amplitude. Assim, o mineral consumido se transforma em vegetal, que consumido se transforma em animal, que consumido, se transforma em humano, que se consumindo por deliberação pessoal, na produção de algo de maior valor que ele próprio, pode se transformar em Eterno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário