A morte do roqueiro Chorão atingiu grande número de
jovens que cresceu ouvindo suas músicas. A notícia chegou no
dia em que a morte
de Hugo Chávez ocupava todas as mídias.
Choro aqui e choro lá.
As
matérias jornalísticas falam muito da morte de Chávez.
Mostram como o povo da
Venezuela se vestiu de um luto
vermelho pela morte de seu líder, contradizendo
toda a história
cristã do seu povo que sempre associou luto com preto e o
vermelho à alegria e excitação.
Há muito
para se observar nessas notícias que passam rápido
pelo nosso dia-a-dia. Os
comentaristas fazem observações quase
unânimes dizendo que a Venezuela padece
de sérios problemas
econômicos e está à beira de um desabastecimento. Dizem que
investidores não se arriscam a investir num país no qual as
leis e as regras
dos negócios internacionais são submissas ao
sentimento e pensamento governante
local; há insegurança
jurídica. Em contrapartida, dizem articulistas, uma
grande
vantagem Hugo Chávez conseguiu para sua terra: conseguiu
baixar, e
muito, o índice de desigualdade social.
O que é
esse índice de desigualdade social? É o que mede as
diferenças entre ricos e
pobres. Para os que apreciam as
quer dizer que há maior igualdade de riquezas entre as pessoas
desse país.
É
natural pensar que o desenvolvimento traga uma igualdade
de renda entre as
pessoas. À medida que evolui, o ser humano
vai adquirindo cada vez mais conhecimentos,
informações que
possibilitam melhorar de vida e usufruir de mais conforto a partir
do trabalho criativo com os recursos
de que já dispõe. Trata-se
do natural uso do talento e capacidade que cada
pessoa traz ao
nascer usado como ferramenta que trabalha cada vez melhor
quando
alimentada com conhecimento. Evoluir, crescer, desenvolver
é a aventura da
existência humana, o que torna a vida estimulante e
atrativa.
Pois
bem, no nosso pequeno planeta existem seres humanos em
todos os níveis de
evolução, dependendo do ângulo observado na
vasta gama de valores da humanidade.
Já foi observado que o
planeta Terra abriga pessoas que vivem desde quase como
os
como os ‘Jetsons’,
na era dos jatos espaciais; duas famílias conhecidas
que nasceram nos gibis e
que foram para os desenhos animados da TV.
O que
todas elas têm em comum? O direito à evolução, ao
progresso em todos os níveis
das atividades humanas. As etapas
dessa evolução variam quase infinitamente e
cada povo ou membro
dele tem o direito de escolher o que considera evolução ou
progresso.
Os
países mais evoluídos, que conseguiram atingir alto nível de
desenvolvimento
social, são antigas civilizações que cultivaram
seus valores por inúmeras
gerações; detêm conhecimento acumulado
e multiplicam as aplicações deles a
inúmeros usos. Produzem
“maravilhas” que
se tornam objeto do desejo de pessoas de todos
os lugares. Assim, como rio
corre para o mar, o talento desses povos
atrai os recursos dos que querem seus
produtos. É preciso então
produzir mais, e, naturalmente, pessoas são
promovidas de
atividades mais toscas para mais sofisticadas enquanto adquirem
o
conhecimento e a habilidade necessários para tal. Até que todos
atinjam o grau
mais alto de evolução que, em seguida é superado.
Nos
países pobres, a desigualdade é muito grande. Poucas pessoas
detêm o controle
da produção dos produtos necessários e desejados
por todos, e assim também, a
renda relativa à venda desses bens.
Mas, quando há liberdade e leis justas e
seguras, o risco do
empreendimento é um direito de todos.
Desde o
fim do século XIX o pensamento de Karl Marx apregoa
que basta transferir o
controle dos meios de produção para
os assalariados que acontece o milagre da
igualdade social. Isto
aconteceu de maneira violenta na Rússia, na China e em
outros
lugares. Hoje vigora na Coréia do Norte e em Cuba, para citar
os mais
conhecidos. A Rússia e a China já retornam
à maneira
natural da evolução humana, nesses países o livre comércio já
se
mostra presente e já existem russos e chineses pobres
e ricos. Onde a ideia
marxista existe com todo vigor, em Cuba
e na Coréia do Norte, o índice de
desigualdade social é zero.
Todos os cidadãos, em teoria, são proprietários de
todos os
bens do país.
Mas
como é a vida nesses países? Por que tanto mistério acerca
desses que deveriam
ser verdadeiros paraísos? As informações
que nos chegam são raríssimas e
grandemente filtradas, mas,
de vez em quando, pode-se ver algumas imagens da
Coréia do
Norte e seus habitantes que mais parecem robôs de tão iguais.
A mesma
roupa, o mesmo corte de cabelo, a mesma comida...
Em Cuba
também não é muito diferente, ouvimos tantos elogios
e referências à Ilha, mas
não nos são mostradas as fotos desse
lugar maravilhoso. Quando vemos alguma
foto ou vídeo, notamos
que a arquitetura das construções, muito desfeitas pelo
tempo,
assim como todos os veículos automotores, são ainda dos anos 50
do
século passado.
O progresso parece andar longe desses países
onde os
habitantes não mais demonstram o interesse natural do ser
humano em
evoluir e empreender; lembram o nosso Jeca
Tatu, do censurado Monteiro Lobato. Esse
personagem, doente
de verminose, por sustentar no próprio corpo vermes
parasitas,
dizia que “trabalhar não vale a pena”. O governo, nesses lugares,
não dá a ninguém o
prazer de usar os talentos, produzir benefícios
e se beneficiar do fruto do
próprio trabalho, escolhe e decide tudo
pelas pessoas. Daí a falta de
perspectiva, e o desinteresse.
Empreender para quê? Não existe lucro, não se
tem expectativa
de novos benefícios, trabalhando bem ou mal a recompensa é
a
mesma. Como pode haver progresso onde vigora este sentimento?
Outro
ponto em comum nesses países, em que a religião foi banida
como ópio do povo, é
o culto à personalidade obtida por meio
de uma verdadeira doutrinação religiosa
imposta pelos meios
de comunicação que veiculam somente informações do
interesse
do governo. Assim, o povo destituído do seu Deus, assimila a figura
de um mero ser humano, o chefe do poder, como uma verdadeira
divindade, voltando
aos costumes dos povos antigos de que nos fala
a história.
A
igualdade imposta, como vontade humana desse ou aquele líder,
mata na alma das
pessoas o desejo de produzir e progredir.
Produtores bem sucedidos são
demonizados na nova religião que
cultua meros seres humanos.
Ver o
povo venezuelano uniformizado de vermelho assusta e
entristece. O que ali já acontece,
principia a acontecer
também na vizinhança. Caminhamos para a “cubanização” da
América Latina?
Por
outro lado, a esperança vem do choro dos nossos jovens
com a morte de Chorão.
Eles ainda têm outros, a que chamam
ídolos, não deuses, por quem chorar...
Publicado no jornal "Diário de Sorocaba" em 13/03/2013
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