sábado, 9 de março de 2013

Chorando Chorão


                 

                                                                                          

            A morte do roqueiro Chorão atingiu grande número de 
jovens que cresceu ouvindo suas músicas. A notícia chegou no 
dia em que a morte de Hugo Chávez ocupava todas as mídias. 
Choro aqui e choro lá.

As matérias jornalísticas falam muito da morte de Chávez. 
Mostram como o povo da Venezuela se vestiu de um luto 
vermelho pela morte de seu líder, contradizendo toda a história 
cristã do seu povo que sempre associou luto com preto e o 
vermelho à alegria e excitação.

Há muito para se observar nessas notícias que passam rápido 
pelo nosso dia-a-dia. Os comentaristas fazem observações quase 
unânimes dizendo que a Venezuela padece de sérios problemas 
econômicos e está à beira de um desabastecimento. Dizem que 
investidores não se arriscam a investir num país no qual as 
leis e as regras dos negócios internacionais são submissas ao 
sentimento e pensamento governante local; há insegurança 
jurídica. Em contrapartida, dizem articulistas, uma grande 
vantagem Hugo Chávez conseguiu para sua terra: conseguiu 
baixar, e muito, o índice de desigualdade social.

O que é esse índice de desigualdade social? É o que mede as 
diferenças entre ricos e pobres. Para os que apreciam as 
quer dizer que há maior igualdade de riquezas entre as pessoas 
desse país.

É natural pensar que o desenvolvimento traga uma igualdade 
de renda entre as pessoas. À medida que evolui, o ser humano 
vai adquirindo cada vez mais conhecimentos, informações que 
possibilitam melhorar de vida e usufruir de mais conforto  a partir 
do trabalho criativo com os recursos de que já dispõe. Trata-se 
do natural uso do talento e capacidade que cada pessoa traz ao 
nascer usado como ferramenta que trabalha cada vez melhor 
quando alimentada com conhecimento. Evoluir, crescer, desenvolver 
é a aventura da existência humana, o que torna a vida estimulante e 
atrativa.

Pois bem, no nosso pequeno planeta existem seres humanos em 
todos os níveis de evolução, dependendo do ângulo observado na 
vasta gama de valores da humanidade. Já foi observado que o 
planeta Terra abriga pessoas que vivem desde quase como os 
como os ‘Jetsons’, na era dos jatos espaciais; duas famílias conhecidas 
que nasceram nos gibis e que foram para os desenhos animados da TV.

O que todas elas têm em comum? O direito à evolução, ao 
progresso em todos os níveis das atividades humanas. As etapas 
dessa evolução variam quase infinitamente e cada povo ou membro 
dele tem o direito de escolher o que considera evolução ou progresso.

Os países mais evoluídos, que conseguiram atingir alto nível de 
desenvolvimento social, são antigas civilizações que cultivaram 
seus valores por inúmeras gerações; detêm conhecimento acumulado 
e multiplicam as aplicações deles a inúmeros usos.  Produzem 
“maravilhas” que se tornam objeto do desejo de pessoas de todos 
os lugares. Assim, como rio corre para o mar, o talento desses povos 
atrai os recursos dos que querem seus produtos. É preciso então 
produzir mais, e, naturalmente, pessoas são promovidas de 
atividades mais toscas para mais sofisticadas enquanto adquirem 
o conhecimento e a habilidade necessários para tal. Até que todos
 atinjam o grau mais alto de evolução que, em seguida é superado.

Nos países pobres, a desigualdade é muito grande. Poucas pessoas 
detêm o controle da produção dos produtos necessários e desejados 
por todos, e assim também, a renda relativa à venda desses bens. 
Mas, quando há liberdade e leis justas e seguras, o risco do 
empreendimento é um direito de todos.

Desde o fim do século XIX o pensamento de Karl Marx apregoa 
que basta transferir o controle dos meios de produção para 
os assalariados que acontece o milagre da igualdade social. Isto 
aconteceu de maneira violenta na Rússia, na China e em outros 
lugares. Hoje vigora na Coréia do Norte e em Cuba, para citar 
os mais conhecidos.  A Rússia e a China já retornam à maneira 
natural da evolução humana, nesses países o livre comércio já 
se mostra presente e já existem russos e chineses pobres 
e ricos. Onde a ideia marxista existe com todo vigor, em Cuba 
e na Coréia do Norte, o índice de desigualdade social é zero. 
Todos os cidadãos, em teoria, são proprietários de todos os 
bens do país.

Mas como é a vida nesses países? Por que tanto mistério acerca 
desses que deveriam ser verdadeiros paraísos? As informações 
que nos chegam são raríssimas e grandemente filtradas, mas, 
de vez em quando, pode-se ver algumas imagens da Coréia do 
Norte e seus habitantes que mais parecem robôs de tão iguais. 
A mesma roupa, o mesmo corte de cabelo, a mesma comida...

Em Cuba também não é muito diferente, ouvimos tantos elogios 
e referências à Ilha, mas não nos são mostradas as fotos desse 
lugar maravilhoso. Quando vemos alguma foto ou vídeo, notamos 
que a arquitetura das construções, muito desfeitas pelo tempo, 
assim como todos os veículos automotores, são ainda dos anos 50 
do século passado.
 O progresso parece andar longe desses países onde os 
habitantes não mais demonstram o interesse natural do ser 
humano em evoluir e empreender; lembram o nosso Jeca 
Tatu, do censurado Monteiro Lobato. Esse personagem, doente 
de verminose, por sustentar no próprio corpo vermes parasitas, 
dizia que “trabalhar não vale a pena”.  O governo, nesses lugares, 
não dá a ninguém o prazer de usar os talentos, produzir benefícios 
e se beneficiar do fruto do próprio trabalho, escolhe e decide tudo 
pelas pessoas. Daí a falta de perspectiva, e o desinteresse. 
Empreender para quê? Não existe lucro, não se tem expectativa 
de novos benefícios, trabalhando bem ou mal a recompensa é 
a mesma. Como pode haver progresso onde vigora este sentimento?

Outro ponto em comum nesses países, em que a religião foi banida 
como ópio do povo, é o culto à personalidade obtida por meio 
de uma verdadeira doutrinação religiosa imposta pelos meios 
de comunicação que veiculam somente informações do interesse 
do governo. Assim, o povo destituído do seu Deus, assimila a figura 
de um mero ser humano, o chefe do poder, como uma verdadeira 
divindade, voltando aos costumes dos povos antigos de que nos fala 
a história.

A igualdade imposta, como vontade humana desse ou aquele líder,
mata na alma das pessoas o desejo de produzir e progredir. 
Produtores bem sucedidos são demonizados na nova religião que 
cultua meros seres humanos.

Ver o povo venezuelano uniformizado de vermelho assusta e 
entristece. O que ali já acontece, principia a acontecer 
também na vizinhança. Caminhamos para a “cubanização” da
 América Latina?

Por outro lado, a esperança vem do choro dos nossos jovens 
com a morte de Chorão. Eles ainda têm outros, a que chamam 
ídolos, não deuses, por quem chorar...


Publicado no jornal "Diário de Sorocaba" em 13/03/2013                   


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