segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma nova revolução francesa?



                                                                                                                 
           
            Em maio de 1968 acontecia em Paris, França um movimento que assumiu proporções revolucionárias. Um caldeirão de novas ideias inspiradas por Marx e Freud levava os franceses a se rebelarem contra os valores que até então tinham regido a vida da Nação e do mundo ocidental.
            
Intelectuais como Jean Paul Sartre e Herbert Marcuse exerciam grande influencia, principalmente sobre os mais jovens que se interessavam sobre tudo o que fosse considerado diferente e inovador.
            
Desde então nunca mais o mundo foi o mesmo. Os que hoje têm mais de 40 anos fazem parte de uma geração que assistiu as transformações sofridas pelo ambiente social; a princípio aproveitando as novidades, para logo em seguida sofrer os efeitos da falta do cultivo de alguns valores imprescindíveis à existência dos seres humanos, se quisermos que seja a humanidade tal como foi até aqui.
            
A evolução (se é que pode ser considerada assim) trouxe uma nova maneira de ver os seres humanos, como desprovidos da alma espiritual. A alma confere uma dignidade toda especial às pessoas, cujos direitos sempre foram defendidos pelas leis e pelos costumes, apesar de que também esses direitos fossem agredidos ao longo dos tempos, tais agressões sempre foram assim consideradas: como agressões.
            
Os efeitos dessa nova visão do homem se fazem sentir: as autoridades, sempre combatidas por essa forma de pensar, estão se tornando inócuas e os costumes familiares, antes sagrados, hoje são vilipendiados. Os produtos do novo modus vivendi estão continuamente na mídia: a violência, de todos os tipos, grassa nos mais diversos ambientes. Todos se sentem vítimas e, portanto, com o direito de se rebelar contra alguém. O culpado é sempre outra pessoa. "O inferno são os outros", dizia Sartre.
            
Teria o nosso mundo passado a ser um inferno, onde cada um está cercado de "outros" por todos os lados?
            
Em 13 de janeiro de 2013, mais de 40 anos depois, Paris se enche de pessoas (os jornais dizem 350 mil, os organizadores, 800 mil) exigindo a retirada de um projeto de lei do Presidente François Hollande que autoriza o casamento gay e permite que casais de pessoas do mesmo sexo possam adotar crianças.
            
Este acontecimento induz à reflexão: do que se trata essa grande manifestação, num país que é considerado o precursor das ideias mais avançadas nos meio intelectuais?
            
A multidão que formava a manifestação era formada por famílias religiosas católicas, muçulmanas e evangélicas, e de políticos considerados conservadores. Um movimento chamado "Manif pour Tous" (Manifestação para Todos) os reunia. Todos têm o direito de se manifestar. Para tais pessoas esse direito passou a ser visto como um dever.
            
Segundo o jornal "Le Figaro", os organizadores do movimento leram um manifesto solene dirigido ao Presidente Hollande que, entre outras coisas, diz:
            
"O Senhor Presidente da República não pode ignorar esta multidão considerável que se levanta espontânea e pacificamente contra o projeto de lei  " casamento e adoção para todos" que resulta em um novo tipo de filiação, o de filhos de pessoas do mesmo sexo.
            
O Senhor Presidente da República, não pode ficar parado diante das inquietações cada vez maiores dos franceses que descobrem a verdadeira natureza do projeto de lei "casamento para todos".
            
O "casamento para todos", é a negação jurídica da realidade mais elementar da nossa humanidade, constituída de "homem e mulher", a única união naturalmente apta para gerar o ser humano.
            
Será o Senhor, o Presidente da República, quem vai decretar que se pode nascer sem homem ou sem mulher?
            
O "casamento para todos" é a introdução na nossa lei fundamental de uma discriminação entre seres humanos: os que vão nascer de um pai e uma mãe, e os que serão legalmente "nascidos" de dois pais ou de duas mães.
            
Senhor Presidente da República, será o Senhor quem vai abolir a igualdade de nascimento entre as crianças?"
            
Estamos diante de algo inédito e interessante. O povo francês, mais uma vez, assume a vanguarda da civilização humana? Teria ele observado antes dos outros países que o excesso de liberdade pode causar danos à igualdade dos seres humanos e principalmente à fraternidade, se o mundo continuar, como dizia Sartre, um inferno formado por outros, do qual Deus, o criador e mantenedor da vida, está, naturalmente, cada vez mais distante?

Artigo publicado no Jornal " Diário de Sorocaba" em 15/01/2013


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