Yêdda Neves Moreira Rosa
É próprio da natureza humana julgar
os fatos de acordo com a própria consciência, tendo como medida de comparação
os seus valores pessoais, ou seja, como diz
Nosso Senhor Jesus Cristo --- onde está o seu tesouro aí está o seu
coração.
É preciso estar alerta, ter uma boa
visão periférica do ambiente onde
acontecem os fatos para não se envolver emocionalmente e assumir uma
atitude fisiológica onde não se consegue perceber nada além do que se quer que
seja a verdade. É onde pode chegar o ser humano quando se deixa levar pela
egolatria “religião” que hoje tem o maior número de adeptos.
Ao ler O IMPARCIAL p.p.
especialmente o artigo “Moção Paroquial de Apoio”, encontramos o seguinte: “que as palavras voam, as obras permanecem”,
porém isso não acontece na nossa cidade --- aqui, as palavras voam e as obras
também. É só lembrarmos-nos da antiga
“CASA PAROCHIAL’ construída em 1928, com esmero, pelo Padre João
Crisóstomo, no estilo neoclássico
romântico --- ela era rosa e bonita. O que fizeram? Destruíram-na e construíram
uma nova, moderna e cara, bem ao gosto do ex-pároco. Então, as obras ficam se
as respeitam e conservam.
Exercer a cidadania é um direito
inalienável que todos deveriam praticar e foi o que tive a graça de Deus para
fazê-lo no que se refere ao episódio da
“porta da igreja’’.
Quero que fique bem claro que não
agi em nenhum momento movida por sentimentos pessoais e muito menos com intuito
de prejudicar quem quer que seja. Muito pelo contrário, as minhas moções foram
CONSEQUÊNCIAS de ações de outras pessoas, essas sim, agiram com total
arrogância e abuso de poder.
As autoridades são na verdade
servidores dos cidadãos, e quando
exercem seus mandatos, não recebem o título de proprietários dos bens da
comunidade podendo fazer deles o que bem entender.
Cada cidadão é também um servidor da
sua própria comunidade e quando vê abuso das mesmas autoridades em área na qual
ele tem conhecimento a ponto de ver e
detectar o erro, ele tem o dever de fazer o que estiver ao seu alcance para
defender os interesses da comunidade.
Foi exatamente o que fiz no caso da
porta da igreja. A maioria dos cidadãos talvez não tenha percebido ainda que o
patrimônio arquitetônico da cidade é um valor de grande porte. Um valor que não
pertence a nenhuma pessoa particularmente, mas todos nós estamos ligados a ele;
é como um cordão umbilical que nos une aos nossos antepassados, nos faz ver que não somos seres “surgidos ao acaso”
mas que temos uma origem. As nossas edificações representam o que de bem ficou
daqueles que nos antecederam, as suas manifestações de arte, cultura, valores,
enfim, a expressão daquilo que chamamos de identidade, que faz, por exemplo, o
povo de Rio Pomba ser diferente do povo de Tocantins, do povo de Ubá etc. Não
que seja melhor ou pior, mas diferente. Cada cidade tem as suas características
próprias.
Mutilar o prédio de maior expressão
da cidade é uma agressão violenta, principalmente quando feita por pessoas para
quem o passado histórico do povo não tem nenhum valor. Quando feita pela
própria comunidade, significa passar um
atestado de infantilidade, como quem não tem a menor consciência de quem
realmente é como povo. Deixar que isso aconteça sem fazer nada para impedir,
tendo consciência desta verdade,
configura covardia e fraqueza de caráter.
Não podemos deixar que
descaracterizem o templo.
Preocupados
em abrir espaços e colunas quadradas em completa desarmonia com a nave da
mesma, em fechar a porta que ali está há quatro gerações, estrangulando a
entrada/saída de fiéis, deixam o altar-mor que é a preciosidade maior da
igreja, abandonado aos cupins, necessitando urgentemente de trabalho
especializado para o RESTAURO do mesmo. Se demorar muito poderá ruir, o que
seria uma enorme perda. Infelizmente,
seria providencial para os adeptos do modernismo substituí-lo por uma fria
parede de mármore com um crucifixo, como
já o fizeram com a Matriz do Rosário.
Fiz o que estava ao meu alcance para
defender os valores da nossa terra, tenho orgulho de ”poder olhar as gerações
futuras” e dizer: --- Fiz o que pude para guardar o seu tesouro (físico e moral
) mesmo a custa de saber que só vocês e
alguns poucos da minha geração poderão me compreender.
Às pessoas que se sentiram atingidas
só posso dizer que sinto muito, não é por meu gosto pessoal que faço isso, mas
por um dever de consciência. Não posso deixar de levar a sério a fé e os
verdadeiros valores que recebi de meus antepassados, pelos quais sou grata a
Deus, e dos quais me sinto neste momento depositária, e são também por eles que
deverei prestar contas a Ele..
Rio Pomba, outubro de 2004
Artigo publicado no jornal
OImparcial de Rio Pomba/MG na mesma época.
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