sexta-feira, 14 de setembro de 2012

. . . e ainda, a porta da igreja.




                                                                                         Yêdda Neves Moreira Rosa

            É próprio da natureza humana julgar os fatos de acordo com a própria consciência, tendo como medida de comparação os seus valores pessoais, ou seja, como diz  Nosso Senhor Jesus Cristo --- onde está o seu tesouro aí está o seu coração.
           
            É preciso estar alerta, ter uma boa visão periférica do ambiente onde  acontecem os fatos para não se envolver emocionalmente e assumir uma atitude fisiológica onde não se consegue perceber nada além do que se quer que seja a verdade. É onde pode chegar o ser humano quando se deixa levar pela egolatria “religião” que hoje tem o maior número de adeptos.
           
            Ao ler O IMPARCIAL p.p. especialmente o artigo “Moção Paroquial de Apoio”, encontramos o seguinte:  “que as palavras voam, as obras permanecem”, porém isso não acontece na nossa cidade --- aqui, as palavras voam e as obras também.  É só lembrarmos-nos da antiga “CASA PAROCHIAL’ construída em 1928, com esmero, pelo Padre João Crisóstomo,  no estilo neoclássico romântico --- ela era rosa e bonita. O que fizeram? Destruíram-na e construíram uma nova, moderna e cara, bem ao gosto do ex-pároco. Então, as obras ficam   se   as respeitam  e conservam.

Exercer a cidadania é um direito inalienável que todos deveriam praticar e foi o que tive a graça de Deus para fazê-lo no que se refere ao episódio da  “porta da igreja’’.
           
            Quero que fique bem claro que não agi em nenhum momento movida por sentimentos pessoais e muito menos com intuito de prejudicar quem quer que seja. Muito pelo contrário, as minhas moções foram CONSEQUÊNCIAS de ações de outras pessoas, essas sim, agiram com total arrogância e abuso de poder.
           
            As autoridades são na verdade servidores dos cidadãos, e quando  exercem seus mandatos, não recebem o título de proprietários dos bens da comunidade podendo fazer deles o que bem entender.
           
            Cada cidadão é também um servidor da sua própria comunidade e quando vê abuso das mesmas autoridades em área na qual ele tem conhecimento  a ponto de ver e detectar o erro, ele tem o dever de fazer o que estiver ao seu alcance para defender os interesses da comunidade.

              Foi exatamente o que fiz no caso da porta da igreja. A maioria dos cidadãos talvez não tenha percebido ainda que o patrimônio arquitetônico da cidade é um valor de grande porte. Um valor que não pertence a nenhuma pessoa particularmente, mas todos nós estamos ligados a ele; é como um cordão umbilical que nos une aos nossos antepassados, nos faz  ver que não somos seres “surgidos ao acaso” mas que temos uma origem. As nossas edificações representam o que de bem ficou daqueles que nos antecederam, as suas manifestações de arte, cultura, valores, enfim, a expressão daquilo que chamamos de identidade, que faz, por exemplo, o povo de Rio Pomba ser diferente do povo de Tocantins, do povo de Ubá etc. Não que seja melhor ou pior, mas diferente. Cada cidade tem as suas características próprias.
           
            Mutilar o prédio de maior expressão da cidade é uma agressão violenta, principalmente quando feita por pessoas para quem o passado histórico do povo não tem nenhum valor. Quando feita pela própria comunidade, significa  passar um atestado de infantilidade, como quem não tem a menor consciência de quem realmente é como povo. Deixar que isso aconteça sem fazer nada para impedir, tendo consciência desta verdade,  configura covardia e fraqueza de caráter.
           
            Não podemos deixar que descaracterizem o templo.
Preocupados em abrir espaços e colunas quadradas em completa desarmonia com a nave da mesma, em fechar a porta que ali está há quatro gerações, estrangulando a entrada/saída de fiéis, deixam o altar-mor que é a preciosidade maior da igreja, abandonado aos cupins, necessitando urgentemente de trabalho especializado para o RESTAURO do mesmo. Se demorar muito poderá ruir, o que seria uma enorme perda.  Infelizmente, seria providencial para os adeptos do modernismo substituí-lo por uma fria parede de mármore com um crucifixo,  como já o fizeram com a Matriz do Rosário.
           
            Fiz o que estava ao meu alcance para defender os valores da nossa terra, tenho orgulho de ”poder olhar as gerações futuras” e dizer: --- Fiz o que pude para guardar o seu tesouro (físico e moral ) mesmo a custa de saber que só vocês  e alguns poucos da minha geração poderão me compreender.
           
            Às pessoas que se sentiram atingidas só posso dizer que sinto muito, não é por meu gosto pessoal que faço isso, mas por um dever de consciência. Não posso deixar de levar a sério a fé e os verdadeiros valores que recebi de meus antepassados, pelos quais sou grata a Deus, e dos quais me sinto neste momento depositária, e são também por eles que deverei prestar contas a Ele..



                                                     Rio Pomba, outubro de 2004

Artigo publicado  no jornal OImparcial de Rio Pomba/MG na mesma época.


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