quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Abdução (sobre Yêdda Neves Moreira Rosa)


                                                 
                                                       Para a Dêda, Yedda Neves Moreira Rosa
                                                               minha querida irmã e madrinha.

Este texto diz respeito ao falecimento de uma pessoa que amava com toda intensidade o Sagrado Coração de Jesus. Seu afeto por Ele era derivado do amor a Ele dedicado pela Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus, a Lola. Fundadora e grande entusiasta da AACL. Em seus últimos dias, gastou suas últimas forças andando de casa em casa, pedindo assinaturas em prol da Causa de Beatificação da Lola.


Foi tudo muito rápido. Despediu-se do cachorro, orientou o jardineiro e saiu.
        
Por um tempo curto sentiu-se ameaçada, assustada, como uma criança no momento de ser parida. Mas logo depois se sentiu mergulhada naquela atmosfera verde, que tantas vezes descrevera e que lhe era de agradabilíssima lembrança.De outra vez, quando ali estivera,se sentira extremamente magoada com aqueles que a tiraram dali, os médicos que a salvaram de uma grave crise cardíaca.




Era tão bom, podia expandir-se indefinidamente. Não tinha mais limites. Era só dar vazão a si mesma.Ficou certo tempo assim.
        
De repente o verde foi clareando-se, e cada vez mais. E seus olhos, agora virtuais, iam se acostumando pouco apouco com a intensidade cada vez maior de luz. Então ela viu-se onde jamais sua imaginação, sempre tão rica, poderia alcançar:

Todo o seu ser estava diluído, gaseificado. Fazia ela mesma parte daquele imenso Todo, ao mesmo tempo em que sua identidade era, paradoxalmente, cada vez mais evidenciada.

Sua percepção foi se aguçando mais e mais e ela foi, aos poucos, reconhecendo as outras identidades com quem dividia e, ao mesmo tempo, usufruía junto daquela delícia indizível.

A alegria e o bem estar eram maiores do que a consciência do que estava acontecendo. Ainda assim, ela percebeu que acabara de chegar ao Céu. Todas as suas faculdades estavam em festa. Nada como aquela sensação maravilhosa de ser livre de todos os limites impostos pelo corpo biológico. Estava mergulhada no Sumo Bem.

Por mais que quisesse, jamais poderia sentir falta de algo material. Nem mesmo das pessoas queridas, das quais deixara o convívio corpóreo. Estar mergulhada no Onipresente significa estar concomitantemente com todos os queridos, os quais ela sente o quanto são amados. Vive o pós-confiança.
        
Para o Céu levou, como não poderia deixar de fazer, as suas características mais evidentes. (Ali ficou sabendo que eram através delas que mais agradava ao Soberano). Assim, sua espontaneidade quase infantil sobressaía ainda mais.
        
Foi movida por ela, a espontaneidade, que se chegou a todos os rio-pombenses com os quais havia convivido aqui. Falou-lhes com seu habitual entusiasmo. Confabularam. Resolveram então, “corporativamente”, “seduzir” o Sagrado Coração de Jesus, em pleno Céu!
        
Para o evento, cada um deles apresentou seu corpo virtual revestido de seus méritos, dos pontos fortes de suas famílias, das ferramentas com as quais trabalhara no exílio da Terra pelo Reino de Deus. (Evocavam assim as mais ricas e significativas lembranças, num Deus tão apaixonado pelo povo deste planeta que pelo qual  foi  capaz de passar pela aventura da encarnação, nascimento, vida e morte de um ser humano comum, além de se sujeitar à condição de hóstia, só para ter seu povo junto de si. Desvario de quem pode!)

Embora ela  não precisasse, pois ninguém se movimenta melhor do que ela agora, os rio-pombenses do Céu “carregavam” a Lola acima de todos eles. Como um esplendoroso destaque, um troféu valiosíssimo. Apresentaram-se assim, juntos, diante do Deus Altíssimo!

Sem precisar dizer nenhuma palavra, conseguiram maravilhar os olhos humanos do Sagrado Coração de Jesus. E as doces lembranças movimentaram o Seu Coração tão humano quanto o nosso. Sim, porque Ele e sua Mãe Santíssima possuem corpos no Céu, gloriosos, mas corpos!
       
Aquela visão proporcionava tamanha alegria, movia tanto o Coração de Deus, que o Céu seria pequeno para contê-lo. Precisava extravasar como um imenso vulcão de amor.
        
- Que faço desta lava ardente de Amor puríssimo? Perguntou o Deus Soberano. Vocês provocaram esta erupção, portanto são responsáveis por suas consequências. Se querem aproveitar esta energia de pura vida digam-me como e onde a derramo. Mas tem que ser agora.
       
Todos olharam para a Lola, e, a um piscar de olhos desta, nossa amiga, de quem falávamos no início, tomou a palavra, exultante:
        
- Coração adorado de Jesus, queremos, juntos, pedir que Vossa bondade derrame toda essa lava de Amor ardente sobre a nossa querida Rio Pomba. Nós, daqui, nos deliciaremos em ver seus efeitos:
         
Nossos descendentes atingidos por esse tsunami de Amor, não poderão deixar de trilhar o mesmo Caminho que trilhamos, movidos pelo mesmo Espírito, norteados pelos mesmos valores, dando continuidade e aprimoramento à deliciosa aventura de lutar bravamente pelo Reino da Verdade.
       
Agora, mais ainda, sabemos que, somente comprometidos com esta luta eles podem atingir o aproveitamento máximo de suas potencialidades e sentir, como consequência, a alegria que fortalece o coração. Coração forte é capaz de concretizar o Amor em atos que promovem a Paz.A vida lá será mais parecida com a daqui.
       
Mas, Senhor, permita-nos dizer, com esse acontecimento, ninguém será capaz de se deliciar mais do que Vós mesmo: Reinando triunfante, do Trono de Graças, instalado no sítio da Lola, para onde Vossa Majestade atrairá incontável número de almas sedentas de Verdade e Amor. E só o Senhor saberá dizer o prazer que sentirá em saciar uma por uma!
        
O sorriso produzido no rosto de Jesus deixava antever o que virá! Aguardemos.
                                      
                                                                      Rio Pomba, 8 de março de 2008


Sobre seu esposo, José Messias Rosa
        

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