segunda-feira, 9 de julho de 2012

Fé leva 50 mil à romaria de Aparecidinha

 Linda matéria de Edileine Ferreira Guimarães

disponível em:http://www.cruzeirodosul.inf.br/acessarmateria.jsf?id=401004

Fé leva 50 mil à romaria de Aparecidinha

Nem a chuva que caiu na madrugada e o frio da manhã de domingo desanimaram os fiéis que seguiram a pé por 15 km
Notícia publicada na edição de 09/07/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 6 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Edileine Ferreira Guimarães edileine.guimaraes@jcruzeiro.com.br


Descalços no chão de terra úmida e fria, Leandro Cesar Gomes e Cleide Souza Santos caminhavam com disposição no meio da multidão, de cerca de 50 mil pessoas, pela avenida 3 de Março, rumo ao bairro de Aparecidinha. Pagando promessa por uma graça alcançada no passado, os dois afirmaram que o sacrifício vale a pena. "É muito pouco perto de tudo que alcançamos", contou o rapaz. Antes de começar a caminhada, logo após a missa, ainda no centro da cidade, o casal distribuiu pão e água aos romeiros, também como parte da promessa. Como eles, milhares de pessoas, cada um com seus motivos, participaram ontem da 113ª Romaria de Aparecidinha, que começou com uma missa celebrada pelo arcebispo dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, na Catedral Metropolitana de Sorocaba e seguiu até o Santuário Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no bairro de Aparecidinha.


Nem a chuva que caiu durante a madrugada e o frio que assolou a manhã de domingo desanimaram os romeiros que seguiram a pé por quase 15 quilômetros até o santuário para levar a imagem de Nossa Senhora Aparecida que permanecerá na antiga igreja do bairro até o dia 31 de dezembro. Ao longo do caminho, demonstrações de fé e devoção emocionavam muito os participantes, que ora rezavam, ora cantavam. Fogos de artifícios, saudações com chuva de papel picado, pequenos altares instalados em frente às casas e empresas saudavam a imagem que era carregada em andor disputado por muitos braços. "Se não carrego o andor nos ombros por algum tempo não fico satisfeita. Parece que não estive na peregrinação", contou Silvana de Fátima Moleta Duarte, de 43 anos, que participa da romaria há mais de 10 anos. Para ela, essa é a maneira de retribuir um pouco das bênçãos que Nossa Senhora lhe concede diariamente. "Ela me carrega nos braços todos os dias e então preciso aproveitar essa oportunidade para carregá-la também", disse. Silvana - que é ministra da eucaristia na paróquia São José e faz parte da comunidade Javé-yiré, de Votorantim - participa da procissão na ida e na volta - dia 1º de janeiro - quando a imagem volta para a catedral também nos braços do povo, em outra tradicional manifestação de fé na cidade.


Foi a fé também que motivou Mara Aparecida de Almeida Pinto, de 32 anos, a enfrentar os 15 quilômetros de caminhada, mesmo estando com quase cinco meses de gravidez. "Tenho muito a agradecer", afirmou. Sobre o esforço físico mesmo estando gestante, ela acredita que não terá problemas. "Nossa Senhora me protege", garantiu.


Velas e promessas


Carregando nas mãos uma vela de 1,58 m, Rafael Padilha, acompanhado do pai, Aristides, e da tia Roseli, também participou da procissão para pagar uma promessa feita à Nossa Senhora Aparecida. "Eu e minha esposa estávamos tentando ter um filho há quatro anos e agora ela finalmente está grávida", disse o rapaz com um grande sorriso no rosto. A esposa, Luciana, não veio, mas Rafael trouxe uma vela do tamanho dela para deixar no santuário como forma de agradecimento e para pagar a promessa feita à santa. "Estou muito feliz."


Vera Lúcia da Costa, de 54 anos, também carregava uma vela de 1,65 m para agradecer uma graça alcançada para o seu filho de 20 anos. Os detalhes do pedido ela não revelou, mas garante que tem muito a agradecer. "A Mãe Santíssima intercede por nós diariamente junto ao seu filho Jesus. Pede pela solução dos nossos problemas. Sou muito grata", disse. Vera mora no Jardim Europa e começou a cumprir a promessa no momento que saiu de casa, por volta das 4h30 da manhã, já que ela não tomou qualquer condução para chegar à praça Cel. Fernando Prestes - de onde saiu a romaria - e seguir até Aparecidinha.


Já a moradora do Jardim Magnólia, Sandra Regina de Almeida, de 45 anos, percorreu o trajeto todo da romaria descalça e de mãos dadas com o neto de 4 anos, Kevin, vestido de anjo. "Faço isso desde que ele tinha um ano, porque ele nasceu com problemas cardíacos e ficou curado", contou.


Pão e água


Mas não foi caminhando entre os peregrinos que Andréia Cristina de Oliveira resolveu agradecer às graças alcançadas. Parada com seu carro no final da avenida 3 de Março, ela distribuiu 550 pães com presunto e queijo e 550 garrafinhas de água aos peregrinos que acompanhavam a imagem da santa. Acompanhada pelo filho Iago Henrique, de 9 anos, que ajudava a mãe na distribuição dos produtos, ela contou que agradece pela vida da filha mais nova, Karolline, de 2 anos, que nasceu com um grave problema de saúde e passou por três cirurgias. Hoje ela é saudável e Andréia atribui a graça à Nossa Senhora. A distribuição dos pães e da água começou há cinco anos, quando ela e o marido decidiram fazer um gesto concreto de agradecimento pela cura do enteado que era viciado em drogas e se recuperou. De lá para cá, eles aumentam 100 unidades a cada ano. "Tenho muitos motivos para dar graças e se Deus quiser vou continuar fazendo isso por muito tempo", afirmou.


Há ainda quem não tenha motivos especiais, mas que não abre mão de participar do evento religioso anualmente. É o caso de Julieta da Conceição Ferreira, que não perde a romaria há 55 anos e o faz como forma de penitência. "Faço isso desde que meu filho tinha 5 anos e hoje ele tem 60", disse a mulher que é moradora do Parque Bela Vista em Votorantim. Na subida, em rua de terra e no alto de seus 77 anos, Julieta - que estava sozinha - precisou de apoio e contou com a ajuda de uma moça desconhecida que lhe ofereceu o braço para facilitar a caminhada. "Uma alma solidária", disse a mulher. Mas nenhuma dificuldade a desanima de continuar participando da peregrinação. "Enquanto tiver forças, venho", finalizou.


Libertadores

Para os irmãos Cesar Augusto e Jorge Luiz de Assis Nunes, que participam há vários anos da romaria, este ano ela teve um motivo especial de agradecimento: a conquista da taça Libertadores da América pelo Corinthians. "A gente sempre vem, mas este ano temos que agradecer por essa conquista também", disse César. Como eles, outros tantos torcedores foram à caminhada com a camisa do "Timão" e até envoltos na bandeira do clube.


Mãe de Deus


O reitor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padre José Antônio Leite de Oliveira, disse que o evento religiso atrai muita gente porque as pessoas estão carentes de momentos de fé e não estava surpreso com a quantidade de pessoas que participaram da romaria. Para ele, é uma "manifestação legítima de um povo que a aclama Maria, como mãe de Deus". Cada um ao seu jeito, as pessoas louvam e agradecem. Para ele, o amor de Nossa Senhora atrai o povo. "É o amor de mãe. Um carinho, que reúne, que acolhe", afirmou.

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