domingo, 22 de maio de 2011

Santidade


 Beato João Paulo II, Beata Irmã Dulce e a nossa Lola (a Serva de Deus, Floripes Dornelas de Jesus.)



  Linda e abençoada data, 22/05/2010, dia de Santa Rita de Cássia e da Beatificação de nossa querida Irmã Dulce.
          
       Quando acontece a Beatificação de uma brasileira nosso coração se enche de esperança, por saber que pessoas como o Papa João Paulo II e a querida Irmã Dulce, além de outros católicos de diversos lugares, sobem um degrau no caminho do reconhecimento de suas santidades, nós os membros da AACL – Amigos da Causa da Lola – sentimos o suave aroma de ventos favoráveis à causa que devotamos.

Se a santidade voltou a ser reconhecida, logo chegará a vez da Lola, a Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus.

A santidade do Papa João Paulo II era explícita para cada pessoa do planeta, à sua beatificação espera-se que suceda rapidamente a canonização.

Irmã Dulce, assim como Floripes, já era considerada santa em vida e, também por ocasião de sua morte o povo já esperava o que hoje acontece, a sua beatificação.

Irmã Dulce, assim como João Paulo II, passou a vida de santidade em contínuo contato com o povo, transmitia os efeitos do amor de Deus de imediato, atendia às necessidades de corpos sofridos, e quando o fazia atingia a alma dos necessitados que passavam a se sentir gratos e abençoados filhos de Deus.

A pessoa santa é um catalisador da interação entre Deus e suas criaturas, que Ele teima em considerar seus filhos. O catalisador em linguagem da química é a substância que promove a reação (interação) entre duas substâncias embora não participe da mesma, ao final da reação continua sendo a mesma substância.

 Existem diversas formas de atingir a santidade, aliás, são tantas quanto o número de seres humanos, de todos os tempos, que passarem por este estágio de vida que vivemos. Isso porque todas foram, são e serão dotadas de dons que as tornem aptas a atingir a santidade. No projeto de cada criatura (com potencialidade de filiação) Deus incluiu a cláusula da santidade, afinal, a Perfeição é incapaz de criar algo imperfeito.

Mas a santidade é algo que depende, e muito, do livre arbítrio humano, porque Deus jamais imporia seu amor santificante. Por isso temos necessidade de nos mirarmos nos espelhos dos que comprovadamente atingiram a santidade – realização plena do plano do Pai- transformando em atos benéficos à Gloria de Deus e ao bem da humanidade todas as suas potências. Eles estão como a dizer a cada um de nós: - Se eu consegui você também pode, o segredo é estar em sintonia com o Criador.

Cada santo e santa da igreja (e a Igreja Católica sempre reconheceu a santidade de mulheres em toda a sua existência) tem a sua peculiaridade nos dons que recebeu e retribuiu em almas abençoadas; cada qual tem importância especial para determinada parte do tempo linear da civilização humana.

Em cada tempo o mundo precisa de um tipo de santidade que Deus provê com toda solicitude.

No que hoje vivemos os filhos de Deus têm sofrido os mais duros efeitos do bullying intelectual por parte de movimentos que atuam implantando subliminarmente ideias contrárias à fé nos meios de comunicação, nas escolas e até (onde os efeitos são mais danosos), nas instituições religiosas. Nesses ambientes os valores de nosso DNA originados da fé de nossos antepassados são violentamente atacados por meio de neologismos criados especialmente para denegri-los.

Por tais motivos, falar da santidade da Lola, a Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus, no ambiente frio e duro (como um cadáver) em que vivemos chega às raias do escândalo.

Num mundo totalmente materialista, que exclui Deus, falar de quem viveu só d’Ele soa como um absurdo!

Como falar de alguém que passou cerca de 60 anos sem tomar nenhum alimento, sem beber nenhum líquido, nem água; e sem dormir, longe do mundo, gastando TODO o seu tempo em oração de intercessão e reparação pelos seus irmãos da raça humana diante do Santíssimo Sacramento, que por ordem episcopal tinha no seu próprio quarto de paralítica? Sim, paralítica, não paraplégica, porque jamais saiu de sua cama, desde que caiu de uma árvore e nunca mais pode andar.

Como falar que sua paralisia era somente no corpo, que sua alma se tornava cada vez mais sensível e lúcida com o passar dos anos, e que a partir de sua imobilidade física movia o mundo por meio de suas orações cujos efeitos eram e são sentidos em todo o planeta? (Pessoas de várias partes do mundo têm graças a agradecer)?

Como falar de alguém que remou contra a corrente do ateísmo que deseja vigorar, para o qual só própria insinuação de sua existência singular constitui uma ameaça?

Os ventos atuais pretendem ser venenosos aos que desejam continuar a obra de Floripes, mas a exemplo da mestra, eles confiam muito no Deus que prevaleceu nela, do que em si mesmos, por isso, e somente por isso, continuam fazendo tudo o que puderem para que também no seu tempo, o Sagrado Coração de Jesus seja conhecido e, portanto, amado.

Hoje com mais esperança, afinal, os beatos João Paulo II e Irmã Dulce, certamente estarão conspirando com mais força para que tal aconteça; porque eles também desejam, até mais do que nós, que o Espírito Santo sopre sobre os mortos de alma para que vivam, e vivam em plenitude, pela consciência da Presença de Deus, porque somos testemunhas do que foi comprovado na vida da Lola:

Só Deus basta – Santa Teresa de Ávila
        

          Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo








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terça-feira, 17 de maio de 2011

Para refletir:


Quem inventou o termo homofobia e
seus derivados?

 Os criadores de preconceitos
inventam palavras
para acusarem os outros com elas.

domingo, 15 de maio de 2011

O Homem em perigo

          
            Prefácio do livro: Construir o Homem e o Mundo,
              de Michel Quoist – Livraria Duas Cidades- 1987

 Em face da consciência da humanidade, os chamados grandes problemas – a injusta condição do mundo operário e o proletariado nos povos subdesenvolvidos – permanecem ainda sem solução. Seus amargos frutos e as inúmeras variedades de sofrimento que acarretam, atingem o homem em sua carne e sua alma.
         
Hoje, entretanto, um outro mal, talvez mais grave ainda, porque mais profundo, vai invadindo a humanidade, a começar – terrível reviravolta das coisas – pelos povos mais evoluídos, e pelos homens mais civilizados. É uma espécie de desintegração, de decomposição, de apodrecimento do próprio homem. Os maiores sábios e mais eminentes moralistas (pelo menos entre os que creem na primazia do espírito sobre a matéria) acham-se unanimemente inquietos, e a própria humanidade já começa a compreender a importância desse perigo.
         
Por suas extraordinárias realizações, o mundo moderno é prodigiosamente grande e belo. O homem, orgulhoso de seu poder sobre a matéria e sobre a vida, parece dominá-las cada dia melhor. Ora, na medida em que pela ciência e pela técnica o homem vai se apoderando do universo, vai também perdendo o domínio do seu universo interior.

À medida que penetra no  mistério dos mundos, tanto dos infinitamente grandes como dos infinitamente pequenos, perde-se nos próprios mistérios. Pretende dirigir o universo e não sabe dirigir a si mesmo. Domestica a matéria, mas, quando – libertado da sua tirania – deveria viver mais intensamente do espírito, a matéria aperfeiçoada volta-se contra ele. E eis que ele se torna seu escravo, e é o espírito que agora agoniza. . .
         
Se o homem vier a perder o espírito, perderá tudo. Sem a primazia do espírito não haverá mais homem. É porque a ideia nasce do espírito que a matéria se organiza sob a mão do homem e a sua construção prossegue através dos tempos. É porque o espírito engendra o plano, que a cidade surge na terra e a máquina sai da fábrica. É porque o espírito concebe a beleza que o mármore se torna estátua, que as cordas cantam, que as cores se harmonizam. E é porque o espírito voa ao encontro de outro espírito, que palpita o amor, que os homens se unem e a humanidade cresce. Mas quando o espírito se deteriora, o homem corre perigo, pois, a carne de seu amor, máquina que construiu, a cidade que ergueu, o mundo que edificou lhe escapa, e nem há mais homem. Tudo tem que ser feito. . .
         
Assim, umas após outras, caíram as civilizações. E, sabemos que, de todas as que se sucederam desde o início da história, muito poucas sucumbiram a golpes exteriores, tendo a maior parte delas sido o seu próprio carrasco, minadas interiormente por um lento apodrecimento.
         
Todos nós nos orgulhamos de nossa civilização ocidental. E foi para salvá-la que participamos da maior matança que o mundo jamais conheceu, foi para que vivesse que dezenas de milhões de homens morreram, e que outras dezenas de milhões sofreram atrozmente; e é para salvarguardá-la que agora as nações se armam e a cada dia armazenam forças prodigiosas, capazes de devastar continentes inteiros.
         
Sem dúvida, nossa civilização está em perigo, mas, não tanto em suas fronteiras geográficas, como nas próprias fronteiras do coração humano. O verme que corrói está em seu interior, e se fortifica, inexoravelmente, alimentado pelas facilidades do mundo moderno que oferecem ao corpo as delícias e ao espírito o orgulho e o poder.
         
E agora estamos recolhendo seus frutos, cujo sinal, entre outros é uma moralidade deficiente, causadora de uma delinquência juvenil aumentando perigosamente no mundo: no seio dos países “desenvolvidos”ela adquire proporções de um verdadeiro flagelo.
         
O crescente progresso das doenças mentais, dos desequilíbrios de todas as espécies, oferecem-nos uma trágica ficha de saúde do homem moderno: os “selvagens” precisam de médicos para seus corpos, mas os homens “civilizados” necessitam de um exército cada vez maior de psicanalistas e psiquiatras para salvar-lhes os espírito.
         
Talvez amanhã o homem venha a visitar os planetas. Mas, qual será o “conteúdo” desse homem?
         
Seria preciso que a humanidade inteira ouvisse a solene e eternamente atual advertência de Cristo: “De que serve ao homem ganhar o Universo se vem a perder sua alma?”

         
Entretanto, o mundo moderno é extraordinário, e não apenas não temos o direito de frear seu fulgurante progresso, como temos o dever de trabalhar para esse progresso, em vez de nos evadirmos dele. Entretanto, nosso labor seria vão, se paralelamente não trabalhássemos para devolver ao homem a consciência de sua alma. É preciso refazer o homem, para que o universo – por ele – seja refeito na ordem e no amor.
         
Quanto maiores forem as facilidades de viver e de gozar, mais necessidades de luz terá o homem para compreender que não são senão meios para atingir um fim mais alto; mais precisará de força interior para não se apegar a elas, mais necessidade de amor terá a fim de não capitalizá-las em seu próprio benefício, e em detrimento de seus irmãos. Por outro lado, da mesma forma que, à medida que uma construção progride, reclama do engenheiro cálculos mais precisos, mão mais segura, assim também, para que o homem possa edificar mais solidamente o mundo que vai crescendo, deve animá-lo cada vez mais de espírito e  de amor.
         
Para que se refaçam a humanidade e o Universo, já não basta mais devolver ao homem a sua alma; será preciso oferecer-lhe “suplemento de alma” há tantos preconizados por Bergson.

Ainda mais: se o espírito do homem soçobra em face da matéria triunfante, é porque esquece , ignora ou nega a Deus. Assim o seu drama se reduz a isto: ou o homem se entrega a Deus, desprezando a matéria, ou escolhe a matéria, recusando a Deus. De onde se deduz que, se ele está em perigo, é porque escolheu a si mesmo e a matéria.
         
O mundo moderno é para si mesmo uma permanente.
         
O homem produz cada vez mais e, perpétuo esfomeado, lança-se sobre esses bens sem nunca se sentir saciado. Infernal círculo vicioso, onde as necessidades crescem mais depressa do que nascem as coisas, e onde o homem escravo debruça-se para colher os frutos da matéria, e acaba por cair de joelhos diante desse novo ídolo. E ei-lo dilacerado em seu ser profundo, condenado à luta contra seus irmãos e – quer se trate de indivíduos ou coletividades – procurando cada qual o máximo para si próprio.
         
Apesar da sua decadência, o homem admira-se a si mesmo. E admirando-se esquece de admirar a Deus e adorá-lo. Enquanto cresce seu extraordinário poder sobre as coisas, esquece a onipotência de Deus, faz das coisas seu deus, usa-se a si mesmo no lugar de Deus.
         
O homem “civilizado” separou-se de Deus, e apesar de suas grandes declarações, pela elaboração de suas doutrinas agnósticas constrói um mundo onde não há mais lugar para Deus.
         
A solução de Cristo, enviado à terra por seu Pai para salvar o homem, hoje, como sempre, está à nossa espera:
         
Eu sou o caminho, a verdade, a vida. . .
         
Sem mim nada podeis fazer. . .
         
Vim para que tenham a vida e atenham em abundância. . .
         
Eu sou a ressurreição e a vida. O homem que vive e crê em mim não morrerá.
         
Deixo-vos minha paz, dou-vos minha paz, e eu não vo-la dou como a o mundo. . .
        
Para construir o homem e mundo moderno, não é preciso apenas restituir ao homem sua alma, nem dar-lhe um suplemento de alma, mas também, e principalmente, fazê-lo redescobrir o Cristo. Senão amanhã não haverá mais homem. O homem está em perigo.

         
Redigimos estas páginas (do livro: Construir o homem e o Mundo) porque consideramos real e cada dia mais urgente esse perigo que ameaça e atinge o homem. Nossa ambição é ajudar os jovens a refletir, voltando à plena posse de si mesmos para, em seguida, se fortificarem espiritualmente. Minúsculo esforço diante da imensidão do trabalho a ser realizado! Mas a imensidade de uma barragem não é constituída por inumeráveis gotas de água?

Deus, a quem confiamos este livro, saberá servir-se dele se assim o desejar, e se lhe formos dóceis.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Treze de Maio


 
A treze de maio na cova da íria
No céu aparece a Virgem Maria
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

A três pastorinhos, cercada de luz,
Visita  Maria, a mãe de Jesus
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

A mãe vem pedir constante oração
Pois só de Jesus nos vem a salvação
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria
















Da agreste azinheira, a Virgem falou
E aos três a senhora tranquilos deixou
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

Então da Senhora o nome indagaram
Do céu a Mãe terna, bem claro escutaram
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

Se o mundo quiserdes da guerra livrar
Fazei penitência de tanto pecar
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

A Virgem lhes manda o terço rezar
A fim de alcançarem da guerra o findar
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

Com estes cuidados a mãe amorosa
Do céu vem os filhos salvar carinhosa
Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria

Ave, ave, ave Maria Ave, ave, ave Maria!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cidadela



Esta aldeia é realmente radiosa. É na verdade patética esta casa de aldeia. Mas, se a nova geração se ocupa das casas que apenas conhece pelo uso, que fará nesse deserto? Se, para proporcionares aos teus herdeiros a sensibilidade a um instrumento de cordas, precisas lhes ensinar a arte da música, para que eles sejam homens e experimentem sentimentos de homens, também precisas ensiná-los a ler, sob a dispersão das coisas, os rostos da tua casa, da tua propriedade, do teu império.
         
         Na falta disso, a nova geração acampará como bárbaros na cidade que tiver tomado. E que alegria de bárbaros tirariam eles dos teus tesouros?Nem saberão servir-se deles, por não terem a chave da tua linguagem.
        
        Para aqueles que emigraram para a morte, essa aldeia era como uma harpa. Todas as coisas tinham o seu significado: árvores, fontes, casas. E cada árvore com a sua história, diferente da outras árvores. E cada casa com os seus costumes, diferente das outras casas. E cada muro diferente dos outros muros, por causa dos seus segredos. Quando caminhas, vais compondo o teu passeio como uma música, extraindo o almejado som de cada um dos passos. Mas o bárbaro acampado não sabe fazer cantar a tua aldeia. Aborrece-o essa proibição de penetrar nas coisas e acabam por te desmoronar as paredes e dispersar os objetos. Por vingança contra um instrumento de que não se sabe servir, ateia o incêndio, que ao menos lhe paga com um pouco de luz. Depois desanima e começa a bocejar. Para a luz ser bela, é preciso conhecer até o que se queima. Aí tens a chama do círio que acendes ao teu Deus. Mas ao bárbaro, nem a chama da tua casa dirá coisa alguma, pois não é chama do sacrifício.
        
          A imagem da geração instalada como intrusa na casa da outra não me saía da cabeça. No meu império, tem de haver ritos: são eles que obrigam o homem a transmitir ou a receber a herança. Tenho necessidade de habitantes no meu país, não de campistas, vindos parte alguma.
        
         Por isso não te dispensarei das longas cerimônias. Elas permitem-me voltar a coser os rasgões do meu povo, para que nada se perca da herança. A árvore, é certo, não se preocupa com as sementes. O vento às vezes as arranca e as leva consigo. Deixá-lo! O inseto não se preocupa com os ovos. O sol os chocará. Tudo o que eles possuem têm-no na carne e transmite-se com a carne.
         
         Mas que seria de ti, se ninguém te pegasse pela mão para te mostrar as provisões de um mel que não é das coisas, mas do sentido das coisas? Visíveis são, é certo, os caracteres do livro. Mas para te fazer as chaves das dádivas do poema, tenho de te castigar.
         
        Quero que os funerais sejam solenes. É que não é só questão de enterrar um corpo na terra, mas de recolher intato, de uma urna quebrada, o patrimônio de que o teu morto foi depositário. É difícil salvar tudo. Os mortos levam longo tempo a recolher. Precisas chorá-los durante muito tempo e meditar na sua existência e festejar os seus aniversários. Precisas te voltar muitas vezes, para observar se não te esqueces de qualquer coisa.
         
         Aí tens também os casamentos, preparam as crepitações do nascimento. A casa que vos encerra torna-se celeiro e granja e armazém. Quem é capaz de te dizer o que ela contém? A vossa arte de amar, a vossa arte de rir, a vossa arte de saborear o poema, a vossa arte de cinzelar a prata, a vossa arte de chorar e refletir, tendes de reunir tudo isso para o transmitirdes. Que o vosso amor seja navio de carga capaz de franquear o abismo de uma geração para outra, e não concubinato pela partilha futura de provisões vãs.
          Os ritos do nascimento também são essenciais. Eles permitem costurar o rasgão.
         
          Pela mesma razão, exijo cerimônias quando tu te casas, quando dás à luz, quando morres, quando te separas, quando voltas, quando começas a construir, quando começas a habitar, quando enceleiras as tuas colheitas, quando dás inicio às tuas vindimas, quando declaras guerra, ou celebras a paz.
         
        

         Por isso exijo que eduque seus filhos. Só assim eles virão a parecer-se contigo. Poderia um sargento que só sabe o que vem no manual, transmitir-lhe uma herança? Embora outros que não tu possam depositar nele a tua bagagem de conhecimentos, o teu pequeno bazar de ideias, se ele for separado de ti perder-se-á tudo o que não é enunciável nem se encontra no manual. Construirás os filhos à tua imagem, não vão eles mais tarde arrastar-se, sem alegria, numa pátria que será para eles acampamento vazio e caixa-forte de tesouros que deixarão apodrecer, por não conhecerem as chaves.
           
                                          -Antoine de Saint-Exupéry -
        Cidadela, capítulo CLIII- Tradução de Ruy Bello- Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os fieis leigos e o Reino no mundo (LG 36)


Por: Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba

Os fieis leigos(as), no ensinamento do Concílio Vat.
II têm a especial missão de santificar o mundo,
trabalhando para que a vida da sociedade, em todas as
suas dimensões, se desenvolva de acordo com a
vontade de Deus, Pai e Criador, tal como esta vontade
se revela na própria natureza profunda das criaturas.

O mundo da cultura, das ciências, da técnica, da
comunicação, da economia deve ser regido pelos
valores da dignidade humana, de tal modo que tudo
o que Deus entregou ao ser humano, como dom e
tarefa, seja administrado a serviço da vida, da justiça,
da fraternidade e da paz.Prestemos atenção no que
nos diz o Concílio Vat. II: "Tendo-se feito obediente
até a morte e tendo sido, por este motivo, exaltado
pelo Pai (cfr. Fil. 2, 8-9), entrou Cristo na glória do
seu Reino. Todas as coisas lhe estão sujeitas, até que
Ele se submeta, e a todas as criaturas, ao Pai, para que
Deus  s e j a   tudo  em  todos   ( c f .1 Cor. 1 5 , 2 7 - 2 8 ) .
Comunicou  e s t e  pode r   aos  discípulos ,  par a  que
também eles sejam constituídos em régia liberdade e,
com a abnegação de si mesmos e a santidade da vida,
vençam em si próprios o reino do pecado (cfr. Rom.
6,12); mais ainda, para que, servindo a Cristo também
nos outros, conduzam  seus irmãos, com humildade e
paciência, àquele Rei, a quem servir é reinar.

Pois o Senhor deseja dilatar também por meio dos leigos o
seu Reino, Reino de verdade e de vida, Reino de
santidade e de graça, Reino de justiça, de amor e de
paz, no qual a própria criação será liberta da servidão
da corrupção, alcançando a liberdade da glória dos
filhos de Deus (cf. Rom. 8,21). Grande é a promessa,
grande o mandamento que é dado aos discípulos:
'tudo é vosso; vós sois de Cristo; e Cristo é de Deus' (1
Cor. 3,23)".

        "Por consequência, devem os fiéis conhecer a
natureza íntima e o valor de todas as criaturas, e a sua
ordenação para a glória de Deus, ajudando-se uns aos
outros, mesmo através das atividades propriamente
temporais, a levar uma vida mais santa, para que assim
o mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na
justiça, na caridade e na paz, atinja mais eficazmente o
seu fim. Na realização plena deste dever, os leigos
ocupam o lugar mais importante.

 Por conseguinte, com a sua competência nas matérias profanas, e a sua atuação
interiormente elevada pela graça de Cristo, contribuam
eficazmente para que os bens criados sejam valorizados
pelo trabalho humano, pela técnica e pela cultura para
utilidade  de  todos os homens,  sejam  melhor
distribuídos entre eles e contribuam a seu modo para o
progresso de todos na liberdade humana e cristã, em
harmonia com o destino que lhes deu o Criador e
segundo a iluminação do Verbo. Deste modo, por meio
dos membros da Igreja, Cristo iluminará cada vez mais
a humanidade inteira com a sua luz salvadora.

       Além disso, também pela união das próprias forças, devem os
leigos sanear as estruturas e condições do mundo, se
elas porventura propendem a levar ao pecado, de tal
modo que todas se conformem às normas da justiça e
antes ajudem ao exercício das virtudes do que o
estorvem. Agindo assim, informarão de valor moral a
cultura e as obras humanas. E, por este modo, o campo,
isto é, o mundo ficará mais preparado para a semente
da  palavra  divina  e  abrir- se -ão  à  Igreja  mais
amplamente as portas para introduzir no mundo a
mensagem da paz".

A conclusão prática é esta: os fieis leigos(as) devem
se organizar em pequenas células, de acordo com o
lugar que ocupam na vida da sociedade, para, na oração
e na meditação da palavra de Deus, trabalharem pelo
Reino no coração do mundo.  Atenção para as  três
expressões  do  Concílio :  " ocupam  o  lugar  mais
importante"; "ajudando-se uns aos outros"; "pela
união das próprias forças".

Publicado no Jornal Terceiro Milênio, para Sorocaba e região em maio de 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Minha mais bela invenção é a minha Mãe...



                                                                         Michel Quoist 


                                                                                              No livro Poemas Para Rezar
                                                                                               Livraria Duas Cidades
                                                                                         Tradução: Dom Lucas Moreira Neves 


 Minha mais bela invenção, diz Deus, é minha Mãe.
Sentia falta dela e então a fiz.
Fiz minha Mãe antes que ela me fizesse. 
Era mais   garantido... 
Agora sou um Homem de verdade, como todos os homens.
Nada mais preciso invejar-lhes, pois já tenho Mãe. Mãe de verdade.
Estava sentindo falta. 


Minha Mãe, o nome dela é Maria, diz Deus

Sua alma é toda pura e cheia de graça. 
Seu corpo é virgem, e mora nele uma luz tão radiosa que, na terra, 
não me cansei jamais de fitá-la, e ouvi-la, admirando-a. 

É linda minha Mãe, tão bela, que deixando os esplendores do Céu, 
ao lado dela não senti saudades. 
No entanto, diz Deus, eu sei o que é ser carregado pelos anjos e, 
pois bem, não valem nem de longe os braços de u’a Mãe,podem crer.


Minha Mãe, um belo dia morreu, diz Deus. 

Desde o dia em que subi aos céus sentia falta dela – e ela de mim.
Ela veio até a mim com alma, com o corpo, diretamente. 
Eu não podia fazer de outra maneira. Era um dever. Era mais conveniente. 
Os dedos que tocaram Deus não podiam imobilizar-se. 
Os olhos que contemplaram Deus não podiam ficar cerrados. 
Os lábios que beijaram Deus não podiam enregelar-se. 
Este corpo puríssimo que dera um corpo a Deus não podia apodrecer, 
misturado com a terra... 

Não, eu não pude, não era possível, ter-me-ia custado demais. 

Por mais que eu seja Deus, eu sou seu filho, e quem manda sou eu.
E, além disso, diz Deus, foi também para meus irmãos, os homens, que eu fiz isso. 

Para que eles tenham também Mãe lá no céu. Mãe de verdade, igual a eles, corpo e alma. A minha Mãe. 

Agora pronto! Está comigo desde o instante da morte. 
A Assunção, como dizem os homens. 
A Mãe encontrou o Filho e o Filho, a mãe. 
Corpo e alma, um bem ao lado outro, eternamente. 

Se os homens adivinhassem a beleza deste Mistério! 
Reconheceram-no, enfim, oficialmente. 
Meu representante na terra, o Papa, o proclamou solenemente. 

É um prazer, diz Deus, ver os dons da gente apreciados.
Fazia já muito tempo, o povo cristão pressentira este grande mistério do meu amor filial e fraternal... 
  
E agora, que o aproveitem mais ainda, diz Deus. 
Têm no Céu Mãe que os acompanha com os olhos, com seus olhos de carne. 
Têm no Céu Mãe que os ama de todo o coração, seu coração de carne. 
 E esta Mamãe, é a minha, que me olha com os mesmos olhos, 
que me ama com o mesmo coração.

Se os homens fossem espertos, bem o aproveitariam.
Deviam imaginar que aela nada posso recusar... 
Que querem que eu faça? É minha mãe. Assim o quis. Agora não me queixo. Um diante do outro, corpo e alma, Màe e Filho.Eternamente Mãe e Filho...