domingo, 27 de março de 2011

Quaresma em tempos pós-modernos

                                      


         Em tempos tão sofridos, um cristão não pode ter o comportamento da avestruz, que enterra a cabeça no chão, na esperança de fugir do perigo.
É preciso lançar mão de todos os recursos humanos, colocá-los nas mãos de Deus para que, sentindo-se inteiro e operante, poder gozar das bem-aventuranças por Ele prometidas.
          
           Comparar a própria vida com a vida de Jesus Cristo, verificar o quanto ela anda distante da sintonia com Ele. Fazer um esforço pessoal para estreitar os laços que intensificam a união com Ele; e, graças a essa doce união, tornar a vida mais significativa e eficaz. Sempre foi esse o sentido da penitência e da quaresma, tempo em que, até pouco tempo atrás, observávamos conscienciosamente a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, com muito mais respeito e amor do que quem lembra os feitos heróicos de uma pessoa querida.
         
        Mas hoje, meditar a esse respeito recebe um pejo de coisa desagradável, uma coisa quase politicamente incorreta, sem objetivo concreto. Parece que não faz mais sentido passar 40 dias prestando atenção na Paixão de Cristo, se sentido agredido violentamente por aquela verdade: Olhe o que seu Deus sofreu por você!
         
          Hoje vivemos num tempo em que o homem (Homo sapiens, que designa homem e mulher) é o centro de todas as atenções. Deus foi relativizado. Para alguns, ainda representa extrema relevância, por enquanto, mas o foco das instituições – até algumas religiosas – está no homem.         
        
             Parece-me muito oportuna a figura de Jean Paul Sartre, filósofo francês (1905 – 1980), que se notabilizou por célebres afirmações como:
         “- Não há confirmação de que Deus existe; portanto, Deus não existe efetivamente. E, se Deus não existe, tudo pode.”
         “- O homem é um ser condenado à liberdade, não há limites para a sua liberdade exceto que não possa deixar de ser livre.”
         “- O inferno são os outros; os que tentam colocar barreiras à nossa liberdade.”
         
           Apesar de, em certos momentos de sua obra o filósofo aluda à responsabilidade com que se deve usar da liberdade; essa parte dos seus ditos não faz tanto sucesso quanto as outras, “mais interessantes”.
         
          Diante dessas afirmações fico pensando, se não está aí a explicação para tantas notícias dolorosas que temos recebido pela mídia.
          
               Em um mundo em que o homem é o centro de tudo, tudo tem que estar voltado para os interesses desse novo deus. E esse novo deus é grandemente exigente. Quanto mais se sente importante, mais atenção reivindica. Mais necessidades tem. Mais sensível fica ao “descaso” dos outros. Mais carente se sente, porque sua visão de necessidades “básicas” está continuamente expandida pela imaginação hiperativa.
         
          Então, tudo se justifica: o novo deus pode tudo para saciar a suas carências que são cada vez maiores. Aos próprios olhos, será sempre uma vítima do mau juízo alheio, dos opressores que restringem sua liberdade. O novo deus pode tudo, inclusive cometer as maiores atrocidades.
         
             Acontece que o mundo em que Deus é relativizado, o homem, considerado seu centro, não vive sozinho nele. Esse mundo é habitado por uma grande população de deuses. Cada qual cada  vez mais déspota, mais absoluto. Cada um se sentido oprimido e ultrajado pelos deuses circunvizinhos ou distantes, que se recusam a se submeter à soberania dos seus sentimentos e opiniões. Então é a guerra. E é o que hoje vivemos. Uma guerra tão sangrenta que não há pacifista que consiga dar jeito. Seus efeitos são sentidos em todas as áreas do saber. Os ecologistas estão apavorados, não demora a vida no planeta se tornar inviável, como fica inviável viver numa casa em que loucos vivem a mercê de si mesmos, sofrendo os efeitos das loucuras uns dos outros.
         
         Ninguém melhor do que Sartre para definir o que significa o mundo sem Deus: “Não há propósito ou um sentido último inerente à vida humana; a vida é absurda”.
         
            Um mundo povoado por deuses déspotas pode ser uma definição de inferno, onde nem penitência nem quaresma podem fazer algum sentido. Esse tipo de “evolução” do mundo o conduziu direta e rapidamente ao inferno.
         
            Mas, existe um número cada vez maior de seres humanos que, usando a liberdade tão demonstrada por Sartre, escolheram acreditar e servir ao Deus Verdade.
         
           Aos olhos dos deuses que dominam o planeta são considerados escandalosos alienígenas, devido a algumas de suas atitudes totalmente adversas a tudo o que o eles classificam como bom.
         
         São seres estranhos, que se dizem pobres pecadores, capazes de cometer barbaridades e colocar a si mesmos e outros em perigo constante, se se afastarem da influência amorosa de seu Deus, uma vez que estão vivendo numa atmosfera inóspita para eles.
         
            Quando se sentem em perigo, ou padecem alguma dor, são “teletransportados” a um refúgio onde podem repousar, se restabelecer, e se tornarem mais fortes, para subsistirem à falta que sentem dos seus costumes e lutarem pelo seu direito de existir. Esse refúgio fica exatamente no Coração de seu Deus, que os ama com indizível carinho.
          
         Nesta quaresma eles estão oferecendo a Deus, como penitência, toda a dor e sofrimento que sentem, pelos muitos que querem esquecer os conceitos e significados dessas palavras (dor e sofrimento) distraindo suas atenções com idéias, manias ou vícios.  Eles esperam que Deus se compadeça dos que não querem saber dEle, e que, vivendo no inferno consideram Sua Paixão agressiva e violenta. 
        
          Tais seres, os católicos que evoluíram com a fé, cumprem fielmente a teoria de Sartre a respeito da liberdade. Só que vão mais além. Usam sua liberdade para atingir a plenitude da vida e da graça, numa amizade com o Todo Poderoso, o Criador, a própria Sabedoria, diante de Quem tudo é ordem, equilíbrio, estabilidade, conforto. Também pode se traduzido como Paz e Amor; e quem os tem não é livre para viver sem alegria.
        
               Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
        
                                                 giselle neves moreira de aguiar
                                                    http://www.obeija-flor.com.br/

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